Fuga de idoso, desmaio na Granja, bife da vovó e pedreira na Argentina: as histórias de Dener
Ao L!, ex-companheiros e melhores amigos do eterno camisa 10 da Portuguesa, que morreu há 26 anos, recordaram momentos mais marcantes com atacante
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O Brasil parou para acompanhar um acidente automobilístico, em 19 de abril de 1994, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. A morte do jovem atacante Dener entristeceu o mundo da bola, assim como companheiros próximos do eterno camisa 10 da Portuguesa. Do futsal na Vila Maria aos campos do Canindé e São Januário, Dener somou amigos.
- Nos conhecemos em um amistoso do dente de leite da Portuguesa contra o Time do Vila Maria (time do Dener). Ele foi convidado para ir para a Portuguesa. Dali em diante a amizade foi dentro e fora de campo - contou o ex-ponta-direita Tico, um dos grande parceiros de Dener.
Além de Tico e Dener, outro companheiro do time campeão da Taça São Paulo foi o ex-atacante Sinval. O trio de amigos marcou a competição de jovens brasileiros em 1991, sendo até hoje uma das equipes com melhores números. Contudo, nem sempre foi assim.
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'Dener ficava na minha casa após os jogos e adorava o bife à milanesa da minha avó'
- Cheguei na Portuguesa em 1988, no juvenil, e o Dener tinha muito de vaivém. Nessa época, se pagava muito bem no futebol de salão e ele sumia para jogar salão no Colégio Vila Maria. No começo, eu corria atrás dele para ele tocar a bola. Faltava o coletivo e nos achávamos muito - lembrou Sinval.
De qualquer modo, entre momentos de brincadeira e extrema quietude, o promissor jogador deixou boas lembranças nos amigos Sandrinho, no futsal no Colégio Bilac, Sinval e Tico, companheiros de Portuguesa, Ricardo Rocha, no Vasco, e Falcão, na Seleção Brasileira.
Leia abaixo algumas histórias marcantes de Dener contadas por seus amigos:
RICARDO ROCHA: FOI MOSTRAR SERVIÇO E DESMAIOU NA GRANJA
- Quando ele chegou na Seleção, a gente já estava treinando na Granja Comary. Como o Dener não chegou com o grupo, ele tinha que fazer um pique. Era incrível. Ele fez os primeiros 100m e gritamos "É recorde". Foi numa velocidade tão grande... Chegou nos 300m e ele não aguentou, desmaiou no campo. Muito engraçado, todos rindo admirados. Foi muito engraçado, ninguém acreditava naquela saída tão rápida dele que isso iria acontecer.
SANDRINHO: O BIFE DA VOVÓ DEPOIS DO TREINO
- Conheci o Dener e joguei com ele no Colégio Bilac, em 1988. Ele ganhava bolsa para jogar, mas estudar ele não gostava muito, pra dizer a verdade. Faltava muito. Em muitas ocasiões, Dener ficava na minha casa após os jogos. E, nas terças, eu o levava para almoçar comigo na casa da minha avó Aurélia. Ele adorava bife à milanesa e frango assado com batata no forno que a minha avó fazia.
SINVAL: CB 400 E O SENHOR COM REVÓLVER DA BRASÍLIA
- Como sou do interior, não tinha a mesma malícia que o Dener. Ele me ensinou a malandragem da cidade grande. Uma vez, andando pelo centro de uma cidade, eu comprei uma (moto) CB 400 e um velho nos fechou com uma Brasília (carro). O Dener foi e xingou o velho todinho, e eu me apavorei. O velho veio atrás da gente, falou que tinha um revólver, e o Dener: "Tu vai perder para uma Brasília, Sinval?". Eu me apavorei. Eu tentando escapar do senhor e depois o Dener ficou rindo. Ele contou para todos que eu perdi para uma Brasília.
TICO: DENER, O PADRINHO
- Escolhi o Dener para ser o padrinho da minha filha. Desde que nós conhecemos, já tivemos uma afinidade dentro e fora de campo, e eu vivia na casa dele. A amizade com a família facilitou tudo e as conversas, os mesmos sonhos de vencer na vida e no futebol. Algumas vezes, ele era reservado e se fechava no mundo dele. Mesmo assim, não era rebeldia, mas sim um jovem de periferia que tinha dificuldades como todos. E ele demonstrava sentir falta de uma figura paterna. Ele tinha seus monstros.
SINVAL: O PEDIDO DE SALÁRIO IGUAL AO DE DENER
- Terminamos uma Taça São Paulo muito bem, ganhando e eu fui artilheiro. O presidente na época, Nelson da Custódia, nos colocou uma faixa salarial por zona do time, o que para mim e para o Tico era algo cerca de R$ 900, e o Dener ganharia R$ 1.100. Na hora de assinar, eu me neguei. Queria igual ao Dener (risos). Eu e Dener então estávamos no aeroporto, indo para a Bélgica, para poder jogar fora do país. O presidente mandou nos buscar no aeroporto. Na época, eu me achava igual ao Dener (risos), por fazer muitos gols. Me sentia o craque.
RICARDO ROCHA: PAI E CONSELHEIRO DE DENER
- A contratação do Dener foi praticamente junto da minha. Ele era um garoto maravilhoso. A gente morava no mesmo prédio, então eu o acordava. Toda a manhã eu já ligava e falava: "Vamos embora". A gente ia para o treino juntos. Fui um pai e um conselheiro para ele, era um garoto. Conversávamos muito sobre a vida, sobre futebol, e ele tinha um sonho de jogar pela Seleção.
SINVAL: FUGIDAS PARA JOGAR FUTSAL
- Nos tempos de Portuguesa, o diretor da época (Mário Fofoca) ia buscar o Dener na Vila Maria. Naquela época, se pagava mais para quem jogava no futsal e o Dener precisava do dinheiro. Ele teria que tomar um rumo, o salão poderia ser provisório e o futebol daria mais futuro. Ele começou a treinar no dia a dia, se preparar melhor. Nisso, ele voltou para a Portuguesa.
FALCÃO: PEDREIRA NA ARGENTINA COM A AMARELINHA
- Fiz a primeira convocação do Dener na Seleção. E ele entrou em um jogo contra a Argentina, em Buenos Aires. Quando eu o convoquei, ele tinha 17 ou 18 anos. Eu acreditava tanto nele que chamei para uma pedreira lá na Argentina e coloquei ele no segundo tempo. Ele era aquele jogador que tu sentia que ele não iria tremer. No Dener, tu via que o cara tem a cabeça. Ele era pronto emocionalmente. O Dener tinha isso. Nos olhamos e eu disse: "vamos".
*sob supervisão de Tadeu Rocha
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