Historiador explica relação social do futebol e samba com o Brasil

Professor e escritor, Luiz Antônio Simas detalhou surgimento do estilo musical e do esporte no país. Para ele, são 'dois elementos do processo de formação da identidade brasileira'

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Pelo mundo, existem dois esteriótipos do brasileiro: ser excelente jogador de futebol e ter samba no pé. A construção destes processos que formaram a sociedade do país viraram faces do Brasil. Segundo o historiador e escritor Luiz Antônio Simas, o estilo musical e o esporte são partes relevantes da personalidade brasileira.

- É crucial entender que o Brasil é estruturalmente racista, excludente, então o futebol e o samba foram dois terrenos onde as camadas populares conseguiram construir mecanismos de ascensão social. Não foram feitos nos parlamentos ou nas universidades, mas construídos a partir da música popular e do futebol.

Desde antes do século XX, a história do futebol brasileiro e do desenvolvimento do samba no país foram paralelas que se cruzaram em diversos momentos. Enquanto os sambas de partido alto e sambas de asfalto se popularizavam na sociedade, o futebol, esporte em essência praticado pelas camadas mais ricas, seguiu sendo outro meio de dividir as classes.

- O processo de população do futebol é ligado a consolidação do samba. O futebol como esporte introduzido no Brasil pelas elites europeias, times de fabricas, trabalhadores ingleses, estudantes de medicina, ele se transforma em um esporte popular. Essa popularização do futebol foi um processo paralelo que interage o tempo todo com a consolidação do samba.

- O futebol e o samba são dois elementos do processo de formação da identidade brasileira muito ligados. O Noel Rosa nasceu em 1910, em Vila Isabel, ele era branco de classe média. Já o Leônidas da Silva nasceu em 1913, em São Cristóvão, ele era preto e filho de empregada doméstica. Quando eles nascem, o normal seria, 20 anos depois, o Noel ser jogador de futebol - por ser um esporte das elites - e o Leônidas ser sambista - já que o samba é codificado pelas comunidades negras do Rio de Janeiro. Anos depois, Leônidas virou jogador e Noel virou sambista- exemplificou Simas.

Nos períodos de Carnaval, não é baixo o número de homenagens, sambas e referências ao futebol. Edmundo, Romário, Zico, Marta: inúmeros atletas já foram lembrados em desfiles e foram citados em marchinhas. Contudo, o professor explicou que a relação entre as escolas de samba com as equipes são intrínsecas. 

- Nós temos escolas de samba que surgiram de times de futebol. A Mocidade Independente de Padre Miguel surgiu de um time de várzea, o Independente. A União da Ilha do Governador era um time de futebol, o União, e que virou escola de samba. A São Clemente era um time de futebol de praia que virou escola de samba. A Vila também... Essa relação é muito íntima - e lembrou:

- Você vê os enredos das escolas sobre o futebol: Estácio com o Flamengo, América foi cantado pela Unidos da Ponte, o Vasco pela Unidos da Tijuca, o Nilton Santos pela Vila Isabel, Ronaldo foi enredo da Tradição, Marta será enredo da Inocentes da Belford Roxo esse ano. É uma relação é profunda - finalizou ele.

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