Os times do Futebol Americano nacional e a imprensa precisam entender que, juntos, eles levam o esporte mais longe
Ter maturidade para entender o papel do jornalismo no desenvolvimento do FABR é fundamental para que a modalidade cresça<br>
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Quando olhamos para o cenário da National Football League (NFL) e como as notícias saem constantemente, mesmo durante a intertemporada, é possível observar o tamanho do trabalho realizado pela imprensa para continuar fomentando o esporte e manter o assunto - no caso, a liga - sempre em alta. Você não vê o mesmo no Brasil, por diversos motivos. Mas já te adianto que é preciso de uma via de mão dupla muito bem estruturada para que isso aconteça de forma mais natural.
Atualmente, existem fatores importantes que impedem a imprensa brasileira do futebol americano de ser mais assídua e cobrir de uma forma mais imponente todos os campeonatos e amistosos que acontecem no cenário: tempo e dinheiro. Pode parecer um pouco arrogante, mas te garanto que não é.
A maior parte da imprensa nacional dessa modalidade trabalha em outras funções ou empresas, durante todo o horário comercial, e fazem 90% do que você vê sobre este esporte, na mídia, por amor e vontade de fazer a sua parte para o FABR crescer. Na cobertura de campeonatos nacionais e internacionais, estaduais e, até mesmo, bowls e amistosos, você verá alguém da imprensa presente. Seja assistindo ao jogo para fazer o melhor relato, narrando em cima de um andaime bambo ou, até mesmo, fotografando, na lateral do campo, debaixo de sol ou chuva. Estamos lá.
E se engana quem pensa que essa limitação de tempo e investimento faz com que a cobertura jornalística seja inferior a de esportes como o basquete brasileiro, por exemplo, ou outras modalidades. É possível encontrar diversos portais, sites, perfis em redes sociais, podcasts e jornalistas independentes que buscam fomentar a modalidade e noticiar, do jogo de Flag Football da primeira rodada da APFA, ao Brasil Bowl. E isso é parte da dedicação constante que a imprensa do FABR tem mostrado, principalmente durante o último um ano e meio de pandemia, onde as notícias se tornaram mais escassas pela pausa na modalidade. E aí chegamos em um ponto importante: a diversidade das notícias.
Para uma equipe de futebol americano, é muito interessante aparecer na mídia com matérias sobre o pré-jogo, onde será a transmissão, para que todos acompanhem e vejam os patrocinadores do time, e pós-jogos mostrando como foi a vitória e os grandes lances de seus principais jogadores. Essa presença de marca é importante para que a visibilidade da organização e dos atletas continuem em ascensão. Mas também é importante entender o lado da imprensa quando buscam fazer o trabalho deles da melhor forma - sem receber - e, ainda assim, mantendo o jornalismo vivo e a notícia girando. E quando eu digo isso, me refiro ao jornalismo factual. O hard news, do dia a dia. E que, muitas vezes, envolve o furo de reportagem.
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Equipes, ligas, dirigentes, têm razão em se frustrarem ao saber que a informação de um jogador contratado, que seria um baita anúncio, vazou. Ou de que informações confidenciais sobre a liga x ou y foram parar com a imprensa. Mas o ataque aos jornalistas, à imprensa em geral, seja esta de qualquer esporte, não é ruim somente para que o trabalho desses profissionais prossigam de uma forma fluida e honesta. Mas também, é péssimo para a modalidade, onde cada vez menos jornalistas competentes vão buscar se aventurar e noticiar sobre aquele universo, trazendo cada vez menos exposição para o esporte em questão e, assim, mantendo a expansão apenas no imaginário, enquanto, na verdade, o progresso não sairá da bolha.
É raro, na NFL, ver insiders norte-americanos sendo atacados por times ou pela liga. Eles são aqueles jornalistas que buscam o furo de reportagem para continuar alimentando os noticiários diários e que, inúmeras vezes, trazem contratações de jogadores, dispensa de atletas, mudanças importantes nas organizações, muito antes das equipes anunciarem. E isso é algo cultural, onde as franquias sabem que, por mais que a informação não tenha ficado em total sigilo, não é culpa do profissional que informou, porque este está apenas realizando seu trabalho de noticiar.
Isso vale, também, quando a notícia não agrada. Perseguir o jornalismo por divulgar o factual sobre conivência com racismo, sobre desvio de verba, ou até mesmo por gestão precária, não vai diminuir o fato que está sendo noticiado. Ainda, buscar descredibilizar o jornalismo realizado, apenas porque não gostou do que foi publicado, mostra que é preciso se desenvolver muito mais intelectualmente para entender que essa função - importante - do desenvolvimento do esporte está lá apenas para auxiliar a modalidade a crescer. E quando o futebol americano nacional cresce, todos envolvidos com o esporte têm a ganhar (e quando perde, já sabe).
Em contrapartida, é função da imprensa ter o compromisso com a imparcialidade, ainda que essa não agrade o lado y ou z. Apurar um fato que recebeu é primordial, mesmo que isso custe tempo que não o deixe divulgar o furo de reportagem do ano. No caso do futebol americano nacional, com o jornalismo acompanhando tudo de perto, seja com notícias boas ou ruins, a credibilidade do esporte só tende a aumentar, beneficiando, principalmente, ligas e equipes. Isso porque a modalidade passa a se tornar algo cada vez com mais credibilidade, principalmente para as marcas, por saber que este meio é confiável e terá uma visibilidade que pode entregar um ROI interessante.
As ligas, dirigentes e equipes devem ter preocupações maiores do que tirar satisfações com a imprensa que trouxe um furo de reportagem. Mais que isso, devem saber conviver com esse fato, sendo que, nesses casos, a exposição do time acaba tomando proporções ainda maiores do que um anúncio no Instagram, por exemplo, para um público que já está imerso no esporte - sem alcançar, muitas vezes, quem está vendo de fora.
E é claro que não estou falando para que agradeçam a imprensa por trazer informações que, teoricamente, não deveriam vir à tona antes do tempo. Mas sim que é necessário ter a maturidade de entender que os jornalistas que deixam o futebol americano em evidência trabalham e buscam dar o melhor, sem muitas vezes receber para isso. E essa classe do FABR sabe que, no fim das contas, quando todo o investimento entrar de forma maciça, eles devem ser os que receberão a última fatia do bolo - isso se esse bolo não acabar antes. Mas vão continuar lá, como sempre estiveram, dedicando-se para ver o esporte crescer.
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