Alexandre Gama: ‘Expectativa de levar Tailândia à Olimpíada é grande’
Com 12 títulos em cinco anos como técnico no futebol tailandês, treinador fala ao LANCE! sobre desafio de assumir seleção sub-23 do país e avisa: 'Atual geração é brilhante'
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A chance de escrever uma página ainda mais memorável em sua trajetória no futebol tailandês enche de otimismo Alexandre Gama. Com 12 títulos conquistados em cinco anos no país, o técnico agora terá a missão de levar a Tailândia a uma Olimpíada, feito que não ocorre desde 1968.
Ao LANCE!, o treinador valoriza o bom relacionamento com seus novos comandados, prevê uma linha de montagem árdua até o Pré-Olímpico, mas não esconde seu otimismo na atual seleção olímpica:
- Nós sabemos que esta safra tem um futuro brilhante.
LANCE!: Quais foram os primeiros desafios quando assumiu a seleção olímpica da Tailândia?
Alexandre Gama: Fui apresentado no dia primeiro de novembro e, após cerca de uma semana, viajamos para realizar amistosos contra China e Islândia. Além disto, sete jogadores que eu queria convocar estavam machucados. Mas, mesmo sem tempo hábil para preparar a equipe, a primeira impressão foi boa. Percebi que o grupo aceitou a minha chegada, o que me deu confiança.
L!: Acredita que esta recepção dos convocados tem a ver com sua trajetória de títulos na Tailândia?
Acredito que sim. Minha ida para a seleção olímpica foi muito bem aceita, tanto pelos fãs quanto pelos jogadores. O que conquistamos dá maior credibilidade para o nosso trabalho. Agora, temos de honrar esta expectativa, porque 2019 será um ano de muitas competições. A Tailândia terá a Suzuki Cup, Copa da Ásia Sub-23, os Jogos Asiáticos e, no fim do ano, tem o Pré-Olímpico.
L!: Como será sua linha de montagem para a seleção buscar a vaga na Olimpíada de Tóquio?
Boa parte dos nossos jogadores já é titular dos times e, inclusive, alguns estão em outros países, como a China. Mas nosso problema são os atacantes. Embora sejam muito bons, são novos. Um tem 18, outro 19 anos, mas não vêm tendo sequência. Esperamos que eles consigam ir para outro clube onde desenvolvam mais o futebol deles e cheguem mais experientes à seleção. Já no Pré-Olímpico, não teremos o adversário mais forte, que é o Japão, classificado por ser país-sede. Este será mais um indicativo de que a gente tem condições de brigar pela vaga com outras seleções.
L!: O fato de ter jogadores de vários clubes e, até, do exterior, pode pesar no entrosamento?
Sim, pode complicar um pouco. Em especial na Suzuki Cup, que não é uma data-Fifa. Acho que teremos problemas para convocar jogadores. Alguns clubes não vão liberar. Voltarei para a Tailândia em janeiro com o objetivo de tentar soluções. Teremos um ano importante, temos de contar com todo mundo.
L!: Você tem algumas responsabilidades como técnico do sub-23 da Tailândia. Afinal, assumirá uma seleção olímpica que não vai a uma Olimpíada desde 1968, quando obteve três derrotas em três jogos. Como você acha que pode melhorar este histórico?
Olha, a Tailândia melhorou muito de lá para cá. Em 1968, no ano em que eu nasci, era um futebol amador. O futebol tailandês se tornou profissional em 2009, criou uma liga. Eu cheguei em 2014 e vi uma evolução gigante de organização, de estrutura, um aumento de contratações e investimento. Por isto, acredito que a Tailândia tenha condições de disputar. Minha preocupação é de que não tenho um grupo como a Seleção Brasileira, a ponto de ter substitutos à altura. Mas, se tudo correr bem, temos chances.
L!: Como manter esta safra do sub-23 sempre em alto nível?
O principal é que eles estejam jogando. Eles estão novos e vêm disputando não só a Liga, mas outras competições na Tailândia ou em outros países. Jogadores com idade olímpica estão indo para o Japão. A gente propôs à Federação para que, nas divisões inferiores, não contratem jogadores em alguns setores. Nosso objetivo é que haja um investimento na base.
L!: Como você chegou à Tailândia?
Tinha acabado meu contrato no Qatar. Eles (Al-Shahaniya-QAT) quiseram que eu continuasse, porque eu tinha vencido a Segunda Divisão de lá, mas eu preferi mudar. Aí, apareceu a Tailândia e apostei, porque queria ir para um mercado que fosse novo, tentar marcar meu nome no país. Aconteceu de eu chegar em 2014 e ser campeão no Buriram United. Em 2015, fui campeão de todas as competições que disputei, de forma invicta. Depois, em 2016 não rendeu tanto, aí em 2017 mudei para um clube completamente diferente, como o Chiangrai.
L!: Tem uma identificação maior com o Buriram pelo número de títulos que teve?
Tenho um relacionamento muito bom com o Buriram. Foi quem me abriu as portas na Tailândia e é uma potência, tem uma estrutura que é coisa de Europa. Já o Chiangrai era um time mais modesto no qual o dono comprou todas as ideias que eu tive e, com o passar do tempo, passou a ser grande. Tudo o que a gente planejou, deu certo, no meu modo de ver estar entre os cinco melhores da Ásia. Tenho carinho pelos dois. Um foi meu primeiro clube na Tailândia. Outro foi o último, né? Mas, certamente, teremos outros.
L!: Cogita um dia assumir o comando da seleção principal da Tailândia?
Olha, isso já foi especulado um ano antes de eu assumir a seleção olímpica, mas o dono do time em que eu estava não liberou. Muita gente estranhou quando vim para a seleção olímpica da Tailândia. Mas o desejo atual da Tailândia é fazer um ciclo olímpico, o que é importante. E, para falar a verdade, não vejo diferença entre as seleções, porque 40% dos jogadores que temos na Tailândia está na seleção principal. Caso eu assuma a seleção principal um dia, será algo natural. Mas tenho de estar focado na seleção olímpica, é algo sem pressa.
L!: Você tem vontade de voltar ao Brasil?
A gente pensa em um dia voltar, por ser brasileiro, um dia. Mas estou feliz na Tailândia, onde sou respeitado. Isto pesa na vida de um treinador, mas nunca descarto voltar. Minha realidade é na Tailândia. Estou preparado para um dia voltar bem para o Brasil, mas confesso que não penso muito nisto não.
L!: Qual foi a diferença de trabalho que você viu entre o Brasil e a Tailândia?
O respeito pelo treinador. É o tempo para preparar o time, o contrato é cumprido. Eu me sinto privilegiado até, porque todos os meus contratos foram cumpridos na íntegra. É claro que tive de mostrar resultados, mas no Brasil a gente é muito mais pressionado. É tudo para ontem, tem de dar resultado imediato.
L!: Como está sua expectativa para a seleção olímpica da Tailândia em um ano tão intenso?
Nós podemos fazer história. Isso, inclusive, passamos aos jogadores. Eles têm de saber do potencial que têm. Nosso trabalho será árduo, pois todas as seleções asiáticas também estão investindo bastante para estes Jogos Olímpicos. Mas estamos confiantes de que podemos dar muitas alegrias a todos.
QUEM É ELE
Nome: Alexandre Torreira da Gama Lima Casado
Data de nascimento: 04/01/1968 (50 anos), no Rio de Janeiro (RJ)
Clubes que treinou: Fluminense, Inter de Limeira-SP, Al Wahda-EAU, Macaé, Volta Redonda, Madureira, Duque de Caxias, Al-Shahaniya-QAT, Buriram United-TAI, Changrai United-TAI e Seleção Olímpica da Tailândia
Títulos: Pelo Buriram United: Campeonato Tailandês (2014 e 2015), Chang FA Cup (2015), Chang Super Cup da Tailândia (2015), Chang Toyota Mekong Club (2015), Premier Cup (2016) e Kor Royal Cup (2015 e 2016). Pelo Chiangrai: FA Cup (2017 e 2018), Copa da Tailândia (2018) e Toyota Cup (2018).
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