Benzema: a grande ferida exposta da seleção francesa neste ano
Atacante incendeia debate sobre a xenofobia no país, às vésperas da Eurocopa
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A seleção francesa tem problemas que extrapolam as quatro linhas. Desta vez, o time que representará o país anfitrião desta Eurocopa disputará o torneio sob acusações de racismo. Nesta sexta-feira, às 16h (horário de Brasília), no Stade de France, os gauleses estreiam no torneio contra a Romênia.
A ausência do atacante e goleador Benzema será o grande fantasma interno dos Bleus. De origem argelina, o camisa 9 do Real Madrid elegeu a ascensão da extrema-direita como o fator que mais contribuiu para ter ficado fora da Eurocopa, culpando uma parcela xenófoba da sociedade francesa.
Na versão oficial, Benzema foi preterido por conta da tentativa de chantagear o meia Valbuena com supostos vídeos eróticos que contavam com a participação do ex-colega de seleção. Porém, a declaração do atacante merengue deixa um ponto de interrogação incômodo.
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– A análise de Benzema é perfeita. Ele pode ser meio maluco, mas só ficou fora da Eurocopa graças à resistência de uma parcela conservadora. Uma das marcas da direita nacionalista do país é não aceitar um filho de imigrantes como símbolo nacional. É um pensamento contrário ao espírito da República Francesa, sempre marcada pela inclusão – sublinhou Tanguy Baghdadi, professor de Política Internacional e especialista em Relações Internacionais, curiosamente, filho de argelino, assim como o centroavante.
Se Benzema tratou de incendiar a França, a extrema-direita também não ficou calada. Neta do político mais influente do campo conservador (Jean-Marie Le Pen), a deputada Marion Le Pen enviou uma mensagem ao jogador em uma rede social.
– Vá defender a Argélia, que é o seu país – sugeriu.
No epicentro da polêmica, o técnico da seleção, Didier Deschamps, não toca no assunto durante as entrevistas coletivas.
BATE-BOLA
Tanguy Baghdadi, professor e especialista em Política Internacional
‘A estupidez do ser humano não escolhe local nem nacionalidade’
LEONARDO: Em alguns anos, a França pode ter uma seleção mais “branca” e menos multicultural?
TANGUY: É possível. O lema do time campeão mundial em 1998 era “Black, Blanc, Beur” (Negro, Branco, Árabe) ao invés de “Bleu, Blanc, Rouge” (Azul, Branco, Vermelho - cores da bandeira). A mensagem foi muito celebrada, mas incomodou os conservadores. Hoje, já se discute um projeto para usar mais jogadores de origem francesa nas divisões de base. É um perigo.
LEONARDO: Como explicar a xenofobia em um país que se vangloria de ser o berço das liberdades individuais e da igualdade de direitos?
TANGUY: A estupidez do homem não escolhe nacionalidade. A extrema-direita também atuam em outros países, como Alemanha, Inglaterra e Áustria. A França tem uma população velha, que se agarra em valores reacionários. Esse setor coloca a culpa de todas as crises sempre no outro. É um discurso cômodo, fácil de ser vendido e aceito: “Eles vão roubar nosso emprego, nossa língua deixará de ser falada, nossos princípios, cristãos estão desaparecendo...”
A POLÊMICA
Origem
Nascido em Lyon (FRA), Benzema é muçulmano de origem argelina. Sempre que foi convocado, o atacante se recusou a cantar o hino da França.
Versão oficial
O atacante ficou fora por conta de uma chantagem contra o meia Valbuena.
O que Benzema alega
O jogador lembrou que a extrema-direita, com a Frente Nacional, obteve um número recorde de votos na última eleição, apesar de não ter
vencido o pleito regional. Benzema reclamou de racismo.
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