Caso Rubiales: saiba como está a grande polêmica do futebol espanhol nos últimos anos

Beijo forçado de ex-presidente da federação espanhola em Jennifer Hermoso segue com investigações em andamento

imagem cameraLuis Rubiales esteve à frente da RFEF entre 2018 e 2023 (Foto: Eidan Rubio/RFEF/AFP)
Avatar
Lance!
Madri (ESP)
Dia 13/02/2025
07:40
Atualizado há 1 minutos
Compartilhar

Nos últimos meses, o futebol espanhol foi assolado por uma polêmica que mudou os rumos de sua trajetória: o caso de Luis Rubiales. O ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) manchou a Copa do Mundo Feminina com um ato de agressão sexual contra Jennifer Hermoso, camisa 10 da equipe campeã, após o título conquistado na Austrália.

➡️ Atleta do Barcelona polemiza com atitude obscena em partida da liga espanhola

A situação tomou conta dos noticiários, rodou o mundo e fez com que uma série de mudanças fossem concretizadas na estrutura do órgão, além das investigações que estão a todo vapor. Por isso, a reportagem do Lance! preparou uma explicação de como o entrevero tem sido conduzido no país ibérico.

🔙 Antecedentes do caso Rubiales

Luis Rubiales foi eleito presidente da RFEF em maio de 2018. O mandatário havia sido jogador profissional por equipes de menor porte da Espanha, como Levante, Xerez e Lleida. Mas desde o início, as controvérsias bateram em sua porta.

Rubiales foi criticado por vender a Supercopa da Espanha para o mundo árabe, aproveitando-se da mudança de formato de dois para quatro clubes participantes para alterar o calendário e levar um quarteto de times ao Oriente Médio, sempre no mês de janeiro, para a disputa da competição. As críticas se elevaram quando o Levante (seu ex-clube), campeão da Copa de la España Libre de 1937, teve a conquista admitida como título de Copa do Rei.

➡️ Salah quebra marca pessoal em temporada de destaque na Premier League

Outras medidas, como o pagamento salarial a dirigentes de federações regionais, e a tentativa de silenciamento ao site Wikipédia por descrição de atos de seu mandato, levaram à suscitação de crimes como clientelismo e corrupção.

Antes da Copa do Mundo Feminina de 2023 ter início, o clima não era bom na seleção. O comando era de Jorge Vilda, que havia gerado problemas de convivência com boa parte das atletas. Algumas das principais componentes do elenco, como Patri Guijarro, Mapi León e Laia Aleixandri, se recusaram a seguir vestindo a camisa da Fúria enquanto o treinador estivesse no cargo, e se tornaram desfalques importantes no caminho para o Mundial.

Ainda assim, a força da escola espanhola no futebol feminino se mostrou intacta ao longo da campanha. Apesar dos litígios internos, o time alcançou a final, e teve pela frente a Inglaterra, que cresceu na modalidade graças a investimentos por parte dos grandes clubes do país. Com a bola rolando, ainda na primeira etapa, a lateral-esquerda Olga Carmona - que já havia sido heroína nas semifinais contra a Suécia - marcou um belo gol, aproveitando espaço pelo lado da área, e deu os números únicos de um embate travado dentro das quatro linhas para garantir a primeira conquista da história da Espanha na Copa Feminina. Ninguém poderia dizer que, mesmo assim, os problemas explodiriam.

🏆 O ato polêmico

Não se sabia o motivo, mas se percebia, durante e após o jogo, um comportamento diferente e exacerbado de Rubiales. Acompanhando o duelo com a Inglaterra nas tribunas de luxo do Accor Stadium, o presidente da federação chegou a fazer um gesto obsceno, com a mão em seu órgão genital, mesmo estando ao lado da rainha consorte Letizia, acompanhada de sua filha, Sofia. Ao descer ao gramado, as coisas pioraram.

Já se percebia que o clima das atletas com Vilda era estranho. Atletas ignoravam o comandante na comemoração pós-apito final. Com Rubiales, porém, não houve escape. O presidente demonstrou uma intimidade unilateral com as jogadoras, as abraçou com força durante a entrega de medalhas, e passou dos limites com Jennifer Hermoso: a estrela da seleção recebeu um beijo em seus lábios por parte de Rubiales, enquanto era agarrada com força. A cena foi vista por todo o mundo, e rapidamente, gerou repercussões negativas.

Luis Rubiales dá beijo forçado em Jenni Hermoso, em ato que gerou caso polêmico na Espanha (Foto: Reprodução)

Fontes nos vestiários ainda informaram que, com o braço envolto aos ombros de Hermoso, Luis afirmou: "vamos a Ibiza, e lá, vocês testemunharão o casamento de Jenni e eu". Ao sair dos vestiários, as acusações já haviam se tornado realidade.

Rubiales implorou à atleta para que aceitasse gravar um vídeo ao seu lado, como um pedido de desculpas para minimizar a reação pública. Não foi aceito. Jorge Vilda entrou em contato com o irmão de Jennifer, buscando uma conversa para que não levasse o caso adiante. Insuficiente. Em resultado, a pressão para a renúncia disparou.

Luis, por pouco, não cedeu rapidamente. No dia 25 de agosto daquele ano, uma coletiva foi solicitada no salão nobre da RFEF, com a presença de diversos veículos de imprensa. Esperava-se um anúncio do fim do ciclo na cadeira principal. Entretanto, com os punhos cerrados, o mandatário esbravejou: "no voy a dimitir" ("não vou renunciar", em português). Boa parte dos presentes levantou-se ao fim do discurso e aplaudiu de pé, incluindo Jorge Vilda e o presidente da seleção masculina, Luis de la Fuente.

As falas foram condenadas por atletas espanhóis. De Gea e Casillas, ex-goleiros da Fúria, criticaram Rubiales; o atacante Borja Iglesias, então no Real Betis, foi além e anunciou uma pausa em sua trajetória na seleção até que o mandatário saísse. 81 jogadoras espanholas, incluindo as 23 campeãs mundiais, assinaram uma carta que boicotava o órgão até a mudança de comando.

A resistência foi insuficiente. Junto ao abaixo-assinado, Jenni falou pela primeira vez sobre o incidente, e chamou o ato de "machista, impulsivo e sem consentimento". 15 dias depois da coletiva, o presidente emitiu um comunicado anunciando sua saída do cargo. Dias antes, Jorge Vilda deu adeus à área técnica; segundo suas palavras, quem o destituiu foi o presidente já em exercício internamente, Pedro Rocha. Em seu lugar, assumiu Montserrat Tomé, ex-jogadora da própria seleção.

➡️ Tudo sobre os maiores times e as grandes estrelas do futebol no mundo afora agora no WhatsApp. Siga o nosso canal Lance! Futebol Internacional

👩‍⚖️ Como andam as investigações?

Nos últimos dias, todos os envolvidos do caso prestaram depoimento ao Ministério Público da Espanha. Hermoso e sua defesa continuaram com o posicionamento de incriminar Rubiales pelo beijo forçado, enquanto o presidente manteve o pé firme e deu a marca do consentimento à meio-campista.

Ao fim dos procedimentos, a promotora Marta Durántez Gil chegou à conclusão de que não houve consenso no beijo, e o pedido para a prisão dos envolvidos segue. Luis enfrenta uma possível pena de dois anos e meio por agressão sexual e coação, enquanto outros três réus podem ser encarcerados por 18 meses por coação: Albert Luque (ex-diretor da seleção masculina), Rúben Rivera (ex-diretor de marketing da RFEF) e o próprio Jorge Vilda. Os três também participaram das rodadas de depoimento ao MP. Confira abaixo as aspas principais:

Quando ele me pegou pelas orelhas, eu não conseguia ouvir nem ver nada, e logo depois veio o beijo. Disse ao meu irmão que aquilo me deu nojo. Quando ele me beijou, lhe bati de lado, mas segui o protocolo dos cumprimentos. Estava sendo beijada pelo meu patrão, e aquilo não deveria estar acontecendo.


Jennifer Hermoso.

Perguntei se podia dar um beijinho, e ela disse 'vale'. Foi isso que aconteceu. O que houve ali não teve nenhuma importância, nem para mim e nem para ela.


Luis Rubiales.

Não houve pergunta, não houve resposta. Houve surpresa. Até quando vamos pedir à vítima um comportamento heroico? [...] Todos queriam protegê-la, mas o fato é que nenhum dos responsáveis fez nada por ela além de cometer um crime de agressão sexual e outro de coação.


Marta Durántez, promotora do caso.

Com as ouvidorias finalizadas, o caso deve ter um fim nas próximas semanas. Rubiales ainda chegou a ser detido em 2024 por investigações de corrupção que envolvem a decisão de levar a Supercopa da Espanha para a Arábia, mas foi liberado posteriormente.

Siga o Lance! no Google News