Como a luta pela independência na Catalunha afeta o Barcelona e o Real
A região vive instabilidade política por conta da prisão de líderes separatistas e próximo clássico pode sofrer alterações. Historicamente, disputa influência na origem da rivalidade
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O clássico entre Barcelona e Real Madrid, programado para o dia 26 de outubro, pode ser adiado para dezembro, após o Barça não aceitar trocar o mando de campo da partida para o Bernabéu. A região da Catalunha passa por um momento conturbado, com protestos contra as prisões de líderes separatistas.
Principal clube da região, a história do Barcelona passa pela luta e resistência da Catalunha, assim como a rivalidade com o Real Madrid. O Barça atuou contra a ditadura de Francisco Franco, que perseguiu a cultura e identidade catalã. Confira um panorama completo das origens da luta pela independência, do atual panorama político da região e como os dois principais clubes espanhóis influenciam nisso tudo.
O CONFLITO ATUAL
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Em 2017, líderes independentistas da Catalunha tentaram oficializar o processo de independência, com um referendo de "autodeterminação". A declaração parlamentar à favor da independência foi cancelada pelo Tribunal Constitucional Espanhol.
Na última segunda-feira, o Tribunal Supremo da Espanha condenou Oriel Junqueras a 13 anos de prisão. Raül Romeva, Jordi Turull e Dolors Bassa, ex-conselheiros do governo autônomo, foram condenados a 12 anos de prisão por insurreição e desvio. Carmen Forcadell, ex-presidente do Parlamento autônomo catalão, foi condenada a 11 anos e seis meses de prisão. Ao todo, são nove condenados, que já cumprem prisão preventiva.
PUNIÇÃO E PROTESTOS
Os líderes separatistas foram condenados pela Justiça por "sedição", isto é, um levante público e que gera tumultos "para impedir, pela força ou por fora das vias legais, a aplicação das leis", de acordo com o artigo 544.A do Código Penal espanhol. De acordo com o 'El Periodico', cerca de oito mil pessoas foram para o aeroporto de Barcelona e mais de cem voos foram cancelados. A polícia tem reagido as manifestações com uso de cassetetes e bombas de gás.
CAMPEONATO ESPANHOL NO MEIO DE TUDO
Com o clima de instabilidade e protestos, a Federação Espanhola teme que o principal clássico do país, entre Barcelona e Real Madrid, coloque em risco a segurança dos torcedores e das comissões técnicas. A primeira ideia foi trocar o mando de campo. Ao invés de ser realizada no Camp Nou, ir para o Bernabéu. O Barça não aceitou e a partida pode ser adiada para o dia 18 de dezembro. A decisão vai ficar nas mãos do Comitê de Competição da Federação.
POSIÇÃO DO BARCELONA
Em nota oficial, o Barcelona se manifestou contra as prisões do líderes separatistas. O clube apontou que, devido à sua história e cultura, não podia concordar com as prisões e que o melhor caminho para a resolução seria o "diálogo político". Em seu Twitter, o zagueiro Gerard Piqué celebrou o comunicado e também prestou apoio à causa da Catalunha.
HISTÓRIA DA CATALUNHA
A Catalunha sempre foi um foco de resistência à monarquia espanhola, desde a fundação do Império Espanhol, em 1492. A partir do século 20, porém, a região foi, aos poucos, ganhando certa autonomia. Em 1936, o general Francisco Franco aplicou um golpe militar e implantou uma ditadura, que durou 39 anos, até 1975.
Nessa época, a região passou a ser perseguida, o idioma foi proibido e cidadãos foram mortos. O poder estava centralizado em Madri. Com o fim da ditadura, a Catalunha passou a ter autonomia administrativa, direito adquirido pela Constituição de 1978, assim como outras regiões, como o País Basco, Andaluzia e a Galícia. O governo da Catalunha é conhecido como 'Generalitat' e tem presidente regional e parlamento próprio.
IMPORTÂNCIA PARA A ESPANHA
A Catalunha representa 19% do Produto Interno Bruto da Espanha, além de ser a principal exportadora do país, responsável por 25% das vendas feitas para o mercado estrangeiro, de acordo com dados de 2016. A região também recebeu cerca de R$ 3,2 bilhões em investimento estrangeiro, de acordo com Ministério de Indústria, Comércio e Turismo. O turismo na Catalunha também impulsiona a economia do país. 1/4 dos turistas que foram para a Espanha em 2019 foram para a Catalunha.
AS LIGAÇÕES DO BARCELONA COM A INDEPENDÊNCIA
O Barcelona foi fundado em 1899, pelo suíço Hans Kamper, com o intuito de "celebrar os catalães e seu sonho de independência", segundo aponta o livro 'Como o Futebol Explica o Mundo', de Franklin Foer. O escudo tem as cores da bandeira catalã e a cruz de São Jorge, padroeiro da cidade. Durante o período da ditadura de Franco, os catalães foram perseguidos e executados, e o Camp Nou virou um foco de resistência. Antes, porém, o presidente do clube, Josep Sunyol, em 6 de agosto de 1936, foi fuzilado pelas tropas do general, enquanto a sala de troféus foi bombardeada, durante a Guerra Civil espanhola.
ORIGENS DA RIVALIDADE
O poder da Espanha, nessa época, foi centralizado em Madri e Franco era torcedor do Real Madrid. O ditador usava o clube merengue como vitrine do regime e chegou a favorecer a equipe em algumas situações, principalmente financeiramente. A rivalidade entre as equipes passa por essa 'rivalidade política'. Não à toa, o Barça se manifesta em apoio à independência, apesar de não atuar diretamente. É costuma dos torcedores, por exemplo, gritar "Independência" durante as partidas, principalmente no minuto 17'14, menção ao ano de 1714, período em que a região entrou na Guerra de Sucessão espanhola.
ÍDOLOS ATUANTES
Grandes ídolos recentes do Barcelona já posicionaram sobre a posição da Catalunha. Pep Guardiola já declarou que os catalães "são vítimas de um Estado que lançou uma perseguição política", enquanto Fàbregas destacou que, apensar do passaporte apontar sua nacionalidade como espanhol, se sente "muito mais da Catalunha", apesar de ter orgulho em defender a seleção. Xavi questionou a democracia na Espanha, ao citar que as pessoas "não tem poder de decidir".
*sob a supervisão de Aigor Ojêda
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