Convocado por Tite, Giuliano fala sobre ‘decisão’ diante do Galatasaray e explica saída do Zenit, da Rússia
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, meia do Fenerbahçe elogiou o técnico da Seleção e classificou duelo deste domingo como um dos mais importantes pela equipe turca
Galatasaray e Fenerbahçe prometem parar o futebol turco neste domingo. As duas equipes se enfrentam às 14h30 (de Brasília), na Türk Telekom, no maior clássico do país. O dérbi de Istambul tem os ingredientes para se transformar em um dos principais jogos da temporada. `
Pela primeira vez em campo diante do Galatasaray, o meia Giuliano tem uma motivação a mais para ajudar o Fener a desbancar o líder do campeonato. Ele foi convocado por Tite na última sexta-feira para os amistosos contra Japão e Inglaterra, nos dias 10 e 14, respectivamente. O jogador havia ficado fora da convocação anterior da Seleção Brasileira.
Em entrevista ao LANCE!, Giuliano fala da grande rivalidade entre os clubes da capital turca, o bom momento na temporada, que o levou de volta à Seleção Brasileira, e sua saída do Zenit depois da sua melhor temporada na carreira, com 18 gols e 14 assistências.
O Fenerbahçe está a oito pontos do líder Galatasaray. O jogo deste domingo pode ser considerado uma decisão para vocês?
É o maior clássico turco. Há uma rivalidade muito grande entre as duas equipes e estamos em um momento importante do campeonato, uma vez que já está perto de definir o primeiro turno e o Galatasaray é o time a ser batido, o único que ainda não perdeu. Temos que fazer um bom jogo e procurar vencer para encostar no Galatasaray, diminuir esse número de pontos que eles estão na frente e aumentar nossa confiança, para que continuemos crescendo na competição. Uma vitória no clássico nos colocaria na briga direta pelo título. Temos que entrar concentrados para fazer um bom jogo.
Fenerbahçe x Galatasaray é uma das maiores rivalidades do futebol europeu. Já dá para sentir a atmosfera da partida?
A rivalidade aqui me faz lembrar muito o clássico Gre-Nal, de Porto Alegre. A atmosfera parece muito. É um povo muito fanático, as pessoas estão vivendo esse clássico intensamente. Você vê nas ruas, liga a TV ou o rádio e só se fala nisso. É uma atmosfera diferente do que eu estava tendo até então. Quando cheguei aqui, a primeira coisa que me disseram que o maior rival do Fenerbahçe era justamente o Galatasaray, o maior clássico, o jogo mais importante.
Você chegou nesta temporada e já tem três gols em sete partidas pelo Fenerbahçe. Qual o segredo para o bom momento logo neste início de futebol turco?
Sempre que você muda de país, necessita de um tempo de adaptação. Mas graças a Deus o meu período tem sido bom, estou em uma cidade que me ajuda, há muitos estrangeiros no time, o que facilita a comunicação. O treinador me dá muita confiança para poder jogar e essa adaptação tem sido muito rápida. E o resultado tem começado a aparecer, com boas atuações e gols. Espero que isso aumente e que eu tenha bastante sucesso aqui nesta temporada.
O Fenerbahçe disputou a fase classificatória da Liga Europa, mas acabou eliminado pelo Vardar. O que aconteceu nos confrontos contra a equipe da Macedônia, para que vocês ficassem fora?
Eu tinha acabado de chegar no clube. Não participei dessa fase classificatória porque já tinha participado pelo Zenit. Nós perdemos para o Vardar, da Macedônia. Foram dois jogos atípicos, tivemos o controle da partida, mas erramos muito. Mas nossas falhas nos custaram ficar fora da Liga Europa. Erros acontecem, e em competições muito importantes como a Liga Europa, você acaba pagando caro. Mas isso nos serve de motivação, pois agora só temos o Campeonato Turco e temos que dar o nosso melhor para chegar no fim brigando pelo título.
Acredita que possa ter havido salto alto?
Acredito que não. Era a minha primeira semana no clube. Não conhecia os jogadores, não conhecia o time. Estava no estádio torcendo, não vi salto alto. Vi uma situação de jogo, uma dificuldade muito grande. O Vardar jogava muito retrancado e saía no contra-ataque. E os gols deles foram erros individuais nossos, que custaram o resultado. Não foi o Vardar que criou as melhores chances e controlou o jogo, foi o Vardar que se aproveitou dos nossos próprios erros e conseguiu avançar. Eles foram afortunados nesse confronto.
Você entrou em contato com o Alex, que é ídolo do Fenerbahçe?
Falei com o Alex, ele me mandou mensagem desejando sorte. Aqui o pessoal tem me comparado muito a ele, pois somos da mesma cidade, cheguei no clube com a mesma idade que a dele, vestindo a mesma camisa. Temos características totalmente diferentes dentro de campo, mas a comparação existe por sermos brasileiros.
Espera atingir parte da idolatria dele no clube turco? As pessoas falam dele nas ruas?
Ele é muito bem quisto aqui na Turquia, não apenas pelos torcedores do Fenerbahçe, mas pelo povo turco em geral. Ele foi ídolo aqui, sempre foi uma pessoa muito correta e as pessoas têm um carinho muito especial por ele. Nesse sentido, gostaria de chegar onde ele chegou, mas ter a minha história aqui no Fenerbahçe.
A Turquia tem a tradição de ter grandes nomes brasileiros. Você levou isso em conta quando surgiu o interesse do Fenerbahçe?
Não pensei nisso. Eu liguei para o Souza, com quem já havia jogado na Seleção Sub-20 e já o conhecia. Peguei informações sobre a cidade, clube, estrutura, elenco... Levei em consideração todas essas coisas. Há muitos brasileiros atuando no futebol turco, todo time que a gente enfrenta tem pelo menos um ou dois brasileiros. Isso faz com quem o campeonato seja de alto nível. Não há limite de estrangeiros e é um campeonato muito competitivo, com muitos jogadores importantes.
A falta de limite de estrangeiros afeta a seleção local? A Turquia não conseguiu uma vaga nem na repescagem para a Copa do Mundo...
Sem dúvida isso afeta. Sem limite de estrangeiros, dificulta bastante para os turcos, que têm que trabalhar dobrado para conseguir um espaço no time e se manter em alto rendimento. O que acontece é que muitos turcos que vão para a seleção acabam não sendo titulares em seus clubes ou não têm tanto ritmo de jogo, o que acaba interferindo nos resultados. Por isso eles passam por esse momento difícil na seleção.
O Besiktas vem representando bem o futebol turco na Liga dos Campeões, liderando o seu grupo. Como isso impacta no futebol do país, uma vez que a equipe não está bem no Campeonato Turco?
O Besiktas está muito bem na Liga dos Campeões, mas não está conseguindo manter o mesmo nível de atuação no Campeonato Turco. Eles têm dado prioridade para a Champions, que é um campeonato de alta importância. Talvez, no meu modo de ver, por terem sido campeões nacionais na última temporada, não estão dando tanta importância como estão dando para a Liga dos Campeões, o que também é normal. O povo aqui acompanha muito, é fanático, e tem torcido para o Besiktas quando joga pela Champions.
Como foi a passagem pelo Zenit? A última temporada foi a sua melhor no futebol europeu, com 18 gols e 14 assistências...
Minha passagem pelo futebol russo foi muito rápida, mas de grande sucesso. Foi minha melhor temporada na carreira, individualmente consegui conquistar coisas importantes e voltar à Seleção Brasileira. Joguei em alto nível, em competições europeias, fiz muitos gols e dei assistências. Foi um ano muito positivo para mim, tive uma passagem muito feliz pelo Zenit.
Você era um dos melhores jogadores do Zenit e, após a chegada do técnico Roberto Mancini, acabou saindo. O que aconteceu após a chegada dele? Ele não queria contar com brasileiros mesmo?
Foi uma questão de preferência. Nunca conversei com ele diretamente e perguntei se havia algum problema em relação a mim ou ao meu estilo de futebol. Devido às atitudes dele, de contratar jogadores específicos, que ele conhecia, ou trazer muitos argentinos, os brasileiros que já estavam no Zenit perderam espaço. Eu deduzi que era por preferência, segui minha vida, procurei o meu caminho. Não tenho nada para dizer para o Mancini. Apenas desejar sorte.
Então, você teve pouco contato com o Mancini?
Eu tinha acabado de voltar da Seleção Brasileira. Os jogadores estavam em pré-temporada, me juntei a eles, joguei poucas partidas com ele e realmente percebi que ele não estava contando comigo para ser titular da equipe dele. Não queria ficar nessa situação, por isso tomei a decisão de entrar em contato com a diretoria, expor minha posição de que eu necessitava jogar e buscar o melhor caminho. Entramos em concordância e acabei deixando o clube. Mas saí pela porta da frente. Tenho um carinho enorme pela torcida do Zenit, que sempre me apoiou bastante.
Como foi ter ficado fora da última lista para as Eliminatórias? Agora, você voltou a ser lembrado pelo Tite...
Essa não convocação me deu motivação para melhorar, treinar e me preparar mais, e jogar bem. Preciso fazer bem a minha parte porque é isso que vai me levar para a Seleção. Fui chamado nas outras convocações, isso me dá uma credibilidade, mas também não quer dizer que eu tenho lugar cativo. Isso tudo depende do meu trabalho, da minha preparação e do que eu fizer no meu clube.
Como é trabalhar com o Tite?
Trabalhei com o Tite no Internacional e agora na Seleção. É um treinador que faz com que todos os jogadores se sintam importantes. Ele conseguiu montar uma equipe de futebol, fez com que a Seleção jogasse como um time. Sempre tivemos grandes jogadores, agora temos também um grande treinador. É o que tem feito a diferença. A forma de ele passar a informação e de lidar com o grupo faz com que todos tenham confiança nele. E os resultados têm sido muito bons.
Você jogou por Grêmio e Inter. Por qual clube você mais se identificou?
Eu tive duas histórias muito bonitas no Sul. No Inter, eu era muito novo e tinha acabado de sair do Paraná, com 18 anos. E com 20 ganhei uma Libertadores sendo o melhor jogador da competição. Isso me deu um prestígio muito grande. Depois, voltei para Porto Alegre para atuar no Grêmio, já muito mais maduro, com uma passagem pelo leste europeu e em um momento muito bom da minha carreira. Não venci com o Grêmio, mas a minha passagem foi excelente, conheci um grupo espetacular. Me identifiquei com os dois, não posso dizer que um mais e outro menos. Eram momentos distintos e tenho respeito por ambos.
Quando chegou ao Grêmio, a torcida do Inter pegou no seu pé? Ou houve alguma rejeição por parte dos tricolores?
Nunca tive problema. Teve uma minoria do Internacional que, quando saía na rua para jantar ou ir ao shopping, acabou ficando triste por eu ter ido justamente para o rival. E fui muito bem recebido pela torcida do Grêmio, me deu muita confiança para que eu pudesse praticar o meu futebol.