Entenda o ‘nó tático’ de Hansi Flick em Ancelotti na goleada do Barcelona
Veja em detalhes a armadilha do técnico alemão para explorar as fraquezas do rival
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A goleada do Barcelona sobre o Real Madrid por 4 a 0 fora de casa no último sábado (26) marcou o primeiro duelo na história entre Hansi Flick e Carlo Ancelotti, dois técnicos com visões de futebol muito distintas.
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O italiano é conhecido por simplificar o jogo e dar aos seus atletas maior liberdade na tomada de decisão, ou seja: prioriza a individualidade ao coletivo. O alemão, por sua vez, é o completo oposto e ficou famoso por propor uma pressão sufocante na saída de bola do adversário, com um sistema complexo de coberturas e um ataque posicional rápido, que busca chegar ao gol em poucos toques.
Muitas vezes, no calor do jogo, a filosofia dos treinadores acaba ficando apenas no campo das ideias, distante da realidade dos 90 minutos. Mas esse não foi o caso no clássico entre Real e Barça: a goleada histórica só possível por que os princípios táticos do alemão se sobrepuseram aos do italiano, e isso pode ser explicado a partir de cada um dos quatro gols do jogo.
O duelo tático entre Real Madrid e Barcelona
Antes da análise detalhada de cada gol, é importante entender como as duas equipes se organizaram em campo, dentro das ideias de cada técnico. Começando pelo Real Madrid, que costuma marcar no 4-4-2 com encaixes individuais (o popular "cada um no seu").
A intenção é que cada defensor acompanhe o jogador mais próximo até certa posição do campo, de modo que cada adversário tenha um marcador relativamente próximo - o que é possível já que a quantidade de jogadores para as duas equipes é sempre a mesma.
O Barcelona, por sua vez, tem adotado o 3-2-5 (partindo do 4-2-3-1) como formação tática quando tem a posse de bola: o lateral-direito Koundé fica preso na saída de bola, como um terceiro zagueiro, enquanto o lateral do outro lado, Balde, avança para se posicionar como um ponta-esquerda; este movimento força o brasileiro Raphinha a jogar por dentro, como um meia, ao lado de Fermín López.
A ideia por trás dessa troca de posições é simples: colocar dois jogadores rápidos nas costas do meio-campo do rival e provocar dúvida sobre quem deve marcá-los. Se os zagueiros largam sua posição, a defesa fica exposta a lançamentos; se os volantes recuam para marcar, o time fica acuado e não consegue criar chances de gol. E foi com base nessa "armadilha" que o time catalão construiu a sua goleada.
O primeiro gol de Lewandowski - Real Madrid 0x1 Barcelona
A jogada tem início com uma bola parada no campo de defesa do Barcelona, situação que dá tempo para Raphinha e Fermín López se posicionarem nas costas de Tchouaméni e Valverde.
Os dois zagueiros do Real Madrid caem na armadilha ao mesmo tempo, e largam suas posições para marcar os meias do time adversário. Este movimento deixa a defesa vulnerável a passes longos e com um espaço grande às suas costas.
Marc Casadó, que tem a bola na origem da jogada, enxerga esse espaço e faz o passe em profundidade. Como os laterais do Real Madrid não subiram junto dos zagueiros, Lewandowski tem posição legal para receber o lançamento e sair cara a cara com o goleiro antes de finalizar e abrir o placar.
Lewandowski de novo! - Real Madrid 0x2 Barcelona
Dois minutos depois, o centroavante ampliou em uma jogada simples e rápida, mais uma vez manipulando as marcações individuais da zaga adversária. Mais uma vez Marc Casadó iniciou a jogada e utilizou Raphinha como "isca" pelo centro para atrair a marcação de Lucas Vázquez.
O jogador merengue quebrou a defesa e deixou espaço às costas para a subida de Balde, que recebeu a bola com liberdade quase na linha de fundo e cruzou para o meio da área. Sozinho, Lewandowski marcou de cabeça.
O golaço de Yamal - Real Madrid 0x3 Barcelona
Desesperado para reverter o placar, o Real Madrid dobrou a aposta nos encaixes individuais e decidiu pressionar a saída de bola do Barcelona. Entretanto, por se basear no posicionamento do adversário e não na proteção ao espaço, esse tipo de marcação deixa os defensores muitas vezes expostos, como na sequência da disputa aérea entre Lewandowski e Militão, após lançamento de Iñaki Peña.
O polonês levou a melhor sobre o brasileiro e deu um leve desvio para Raphinha, que já atacava o espaço deixado no meio da zaga. Com a bola dominada e de frente para o gol, o brasileiro esperou a ultrapassagem de Yamal para dar o passe em profundidade e servir a joia espanhola para um golaço.
Raphinha fecha o placar - Real Madrid 0x4 Barcelona
Para fechar o placar, mais uma aula de Raphinha na manipulação da defesa adversária: durante o início da jogada, o brasileiro atraiu a marcação de Lucas Vázquez, que era o último defensor, para liberar espaço às costas do jogador.
Com praticamente meio-campo aberto, o jogador da Seleção Brasileira pediu o passe em profundidade e recebeu a bola já à frente do rival, cara a cara com o goleiro Lunin. A finalização por cobertura foi a "cereja do bolo", para marcar um gol que chama a atenção pela qualidade individual.
A goleada sobre o Real Madrid fez o clube catalão abrir seis pontos de vantagem na liderança de La Liga. E se alguém ainda questionava, tanto a atuação quanto o resultado já não deixam mais dúvidas: o Barcelona joga, hoje, o melhor futebol da Europa.
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