Gil: ‘Ter sido treinado pelo Tite não me garante na Seleção Brasileira’

Zagueiro do Shandong Luneng esteve em todas as convocações desde que o treinador assumiu a equipe. Jogador fala da boa fase do time, que tem a melhor defesa da China

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Campeão brasileiro pelo Corinthians em 2015, o zagueiro Gil deixou o Timão para se aventurar no futebol chinês. Em sua segunda temporada no Shandong Luneng - tem mais dois anos e meio de contrato -, o defensor segue nos planos do técnico Tite na Seleção Brasileira, que o convocou para todos os jogos que comandou até o momento pela Amarelinha. 

O zagueiro vive boa fase na China. O Shandong Luneng tem a melhor defesa da Super Liga, com 13 gols sofridos em 15 partidas disputadas. A sua equipe está em quinto, a nove do líder Guangzhou Evergrande, mas com um jogo a menos, e luta por um lugar na próxima Liga dos Campeões da Ásia.

Em entrevista ao LANCE!, Gil falou sobre as críticas que ele e outros jogadores sofrem ao serem convocados para a Seleção, mesmo atuando na China, e o sonho de poder defender o Brasil em uma Copa do Mundo.

O Shandong Luneng vem fazendo uma boa campanha na Super Liga Chinesa, em quinto, mas está atrás nove pontos do líder Guangzhou Evergrande. Diante desse cenário, qual é a grande meta do time na temporada?

A gente sabe que chegar na parte de cima da tabela é complicado. Mas estamos lutando nas primeiras posições para brigar por vagas na Liga dos Campeões da Ásia. Temos muitos jogos importantes pela frente e vamos em busca das vitórias. O mais importante é somar pontos fora de casa e, nos nossos domínios, conseguir os resultados positivos.

Como parar o líder Guangzhou Evergrande, atual hexacampeão na China?

Não tem uma fórmula para pará-los. O planejamento deles deve ser pensando em toda a temporada e em conquistar títulos. A gente faz o nosso aqui, da nossa maneira, e sabemos que a Super Liga Chinesa é muito complicada. O Guangzhou Evergrande e o Shanghai SIPG, quando abrem vantagem na liderança, são difíceis de encostar. Estamos fazendo o nosso trabalho, a nossa equipe em relação ao ano passado teve uma crescente muito grande. Sabemos que temos que continuar nessa pegada, pois só assim que podemos ser valorizados e valorizar o campeonato, que tem crescido também.

Gil disputou 14 jogos na Super Liga (Foto: Divulgação / Shandong)

Você está em sua segunda temporada na China e tem visto a chegada de inúmeros craques ao futebol do país. Como isso é tratado no país? Valoriza ainda mais os campeonatos locais?

Sim, está supervalorizado. Em relação ao ano passado, têm chegado vários jogadores para poder animar ainda mais o campeonato. São nomes consagrados em seus times e que chegam na China para fazer crescer o futebol e a mentalidade do esporte aqui. Os jogadores estão chegando com essa mentalidade também, estão fazendo grandes apresentações dentro de campo. Isso atrai os torcedores. Os estádios estão sempre cheios, com número máximo de pagantes, e isso é consequência dos atletas que estão vindo aqui jogar e muito do que os chineses estão fazendo, com todos esses investimentos.

Em dois anos, o que viu de mudança no futebol do país? Os times estão dando ênfase também na base ou apenas na contratação de craques?

Os chineses estão investindo na base também. Todos os clubes, agora, precisam ter jogadores chineses mais novos, tem que jogar com um atleta com menos de 23 anos de idade. Por conta disso, estão investindo na base porque é o futuro do futebol daqui. Eles querem que o futebol esteja muito mais evoluído e desejam ver o crescimento dos atletas, não apenas os que estão chegando, mas os que estão aqui há mais tempo. Esse é o casamento perfeito. Os estrangeiros chegam para ajudar a crescer o futebol e os chineses estão entendendo isso e estão podendo contribuir também.

O que mudou do Shandong quase rebaixado no ano passado para o que briga nas primeiras posições nesta temporada?

Não dá para dizer o motivo, pois não saiu muita gente da equipe. Estamos fazendo grande jogos, o Diego Tardelli voltou a fazer muitos gols e vive grande fase. Sabemos da capacidade dele. O grupo fez a pré-temporada junto, isso já ajudou bastante, entendemos bem o que o treinador queria. E o esforço dos jogadores no dia a dia, comprometimento que tem dado certo.

Gil chegou em janeiro de 2016 à China (Foto: Divulgação)

O que falar desse momento do Tardelli, que vem fazendo gols em todos os jogos...?

Ficamos felizes pelo bom desempenho dele, pois dá uma segurança para quem joga atrás. Sabendo da qualidade dele e do jogador que ele é, ficamos felizes por ele estar retornando e fazendo o que sabe de melhor. Espero que continue assim, pois é um cara que merece, é batalhador, e a ajuda muito a equipe.

O que diferencia o método de trabalho do alemão Felix Magath do Mano Menezes?

Cada treinador tem a sua metodologia de trabalho e temos que fazer o que ele pede. Se a gente não concorda com algumas situações, estamos abertos a chegar e passar alguma informação em prol do grupo. Quando cheguei aqui era o Mano, com respeito que tínhamos por ele temos pelo Magath, e continuamos trabalhando da mesma maneira.

Mano Menezes treinou o Shandong Luneng (Foto: Divulgação)

Você vem sendo convocado pelo técnico Tite para jogos da Seleção Brasileira mesmo atuando no futebol chinês. O fato de ter trabalhado com o treinador, assim como Paulinho e Renato Augusto, facilita para ser convocado?

Não vou dizer facilitar, pois tudo depende do trabalho. Para ser convocado não é porque você trabalhou com o treinador anteriormente ou porque você o conhece, mas é pelo seu dia a dia. E a Seleção Brasileira tem profissionais capacitados para acompanhar todos os jogos, os atletas que interessam para ser convocados. E isso tem sido feito. A minha convocação, como a do Paulinho, Renato Augusto ou de outros jogadores que estão aqui na China, é porque eles estão acompanhando o nosso trabalho. Ajuda pelo fato de a comissão técnica dele está sempre passando os jogos, mostrando os vídeos. Aí ele sabe nosso momento aqui. E não é só conosco, mas com todos os jogadores.

Como você convive com essas críticas de quem está na China perde competitividade, não é para ser convocado...?

Críticas vamos receber em algum momento de nossas vidas, não apenas no futebol, mas em qualquer área. O que eu particularmente faço é seguir trabalhando, pois minha vida inteira trabalhei, o respeito é bom e todos nós gostamos. Em relação ao futebol, todo mundo tem a sua opinião. Se quiser opinar, dar a opinião, pode dar. Mas eu continuo focado, fazendo o meu trabalho da melhor maneira possível. Para as pessoas que acompanham futebol e criticam o futebol chinês, é só pegarem meus números. Tem outras seleções que estão levando jogadores que atuam aqui na China. O Witsel, do Tianjin Quanjian, foi convocado agora, o colombiano Giovanni Moreno, do Shanghai Shenhua, também foi chamado. Talvez seja para pegar um pouco no pé mesmo, para poder fazer algum tumulto. Pois, sinceramente, não vejo isso. Se o jogador chegar em campo e não render, tudo bem. Mas se foi chamado e está treinando e jogando bem, não vejo motivo para criticar. Para mim, não faz muito efeito, pois sigo trabalhando e focado. Mas para nossos pais, nosso filhos que estão assistindo e escutam falando mal, eles ficam chateados.

Gil em ação contra a Argentina (Foto: Divulgação / CBF)

Paulinho e Renato Augusto, que são titulares com o Tite, vêm em grande forma...

É verdade. Eles estão jogando muito bem, fazem o seu melhor em campo, e não tem motivo para receber as críticas. Sou bem tranquilo quanto a isso, uma vez que tenho que provar a vida inteira meu potencial.

Você foi titular contra a Argentina, no amistoso realizado na Austrália. Na sua visão, o que faltou para a Seleção sair com melhor resultado?

"Os pequenos detalhes que decidiram o jogo entre Brasil e Argentina. Foi muito disputado"

O Brasil jogou bem, como sempre foi um jogo disputadíssimo contra a Argentina. As duas equipes em alto nível, mas os pequenos detalhes que decidiram o jogo. No período em que estão com a Seleção, os jogadores dão o seu máximo. Todo mundo quer vencer, pois sabemos que a Seleção funciona assim. O mais importante é continuar trabalhando. Na partida seguinte, vencemos a Austrália de goleada.

O Brasil não estava em boa situação nas Eliminatórias até a chegada do Tite. Hoje, está classificada para a Copa do Mundo. Até que ponto a entrada de um novo treinador pode mudar o ambiente e o estilo de uma equipe? E o que fez o Tite para a melhora no Brasil?

Cada um tem sua metodologia de trabalho. Não tem essa de mudar tão rápido de um treinador para o outro. São os mesmos jogadores que estavam sendo convocados pelo Dunga. Todo mundo trabalhando da mesma maneira, só que agora a equipe encaixou. Achou uma forma de jogar que deu uma consistência muito boa para os titulares e aqueles que entram seguirem no mesmo ritmo. Não podemos tirar o mérito do Dunga, que convocou a maioria desses jogadores. Ele também tem os méritos dele.

Gil esteve em todas as convocações de Tite (Foto: Divulgação / CBF)

O Brasil já pode ser considerado um dos favoritos para conquistar a próxima Copa do Mundo?

Favorito pelas condições de agora, mas até o ano da Copa do Mundo, até o momento de começar a competição, tem muita coisa para acontecer ainda. Tem a preparação de todos os jogadores, da comissão técnica e tudo aquilo que envolve o projeto para poder fazer uma grande Copa. Todos estão focados para fazer o seu melhor.

A Copa do Mundo já se aproxima e você está no grupo do Tite. É um sonho participar do Mundial? Já pensa na possibilidade de disputar a competição?

Sonho. Todos os jogadores sonham com isso, com a oportunidade de atuar em uma Copa do Mundo. Para que o sonho se torne realidade, tem que continuar lutando aqui no Shandong, e isso eu tenho feito. Se depender de mim, vou sempre fazer o meu melhor para estar no grupo e continuar sendo convocado. E, claro, respeitando os companheiros, e Seleção Brasileira é uma vitrine, onde todos os jogadores querem estar e cada um faz o seu melhor para ser convocado.

Você jogou uma temporada com o Montillo aí no Shandong e, ontem, ele anunciou aposentadoria do futebol por conta de constantes lesões. Como você viu esse anúncio? Pegou de surpresa?

Fiquei sabendo no dia por algumas pessoas, eu estava viajando no momento. O que podemos é lamentar, era um excelente jogador. Espero que ele sucesso e descanse com a sua família. Se ele tomou essa decisão, é porque ela era o melhor para ele.

Você ainda se vê atuando no futebol brasileiro?

Saudade de voltar a gente sempre tem. Acompanho sempre, vejo as notícias, mas é complicado. Tenho que pensar no meu futuro, em cumprir o meu contrato. Ainda tenho mais dois anos e meio de vínculo aqui no Shandong. Mais para frente penso sim, tenho vontade. Mas não posso dizer nada agora. O Campeonato Brasileiro está cheio de jogador consagrado, com clubes formando grandes equipes, e fica aquela vontade de poder jogar também na competição.

No Brasil, chegou a especular que o Flamengo estava interessado em você. Houve proposta?

Não, não chegou para mim. Tinha visto algo, mas não chegou nada para mim nem para o meu empresário. Tenho contrato aqui também e sei que é um pouco complicado negociar. E estou focado em terminar bem a temporada aqui e fazer o meu melhor sempre.

Gil atuou por três anos no Corinthians (Foto Daniel Augusto Jr)

Sente saudade do Corinthians?

Também. Estou sempre acompanhando. O mais importante é o carinho e o respeito das pessoas por onde passei. Nos três anos que vivi no Corinthians eu pude respeitar as pessoas que estão envolvidas não só na parte do futebol, mas o pessoal que dá o suporte para que possamos entrar em campo.

Em uma possível volta ao Brasil, o Corinthians teria prioridade?

Não vou dizer prioridade, pois não sabemos o dia de amanhã. Mas é um clube que eu guardo um carinho enorme, todos sabem disso. Mas não sei o dia de amanhã, o que pode acontecer. Não posso dizer que o Corinthians tem prioridade, mas foi um lugar que passei três anos jogando em altíssimo nível.

E para o futebol europeu, teria vontade de voltar para um grande centro?

Também. Ano passado tive uma proposta para jogar na Europa novamente, mas decidi junto com meus empresários que o melhor era ficar aqui, onde já estava adaptado. Mas acompanho sempre, estou em contato com os jogadores da Seleção que atuam na Europa, falamos sobre os campeonatos. O legal é que estamos na China e não estamos tão sumidos como o pessoal acha. Estamos sempre acompanhando, buscando informações para poder melhorar e fazer o trabalho da melhor maneira possível. Se pudesse voltar a jogar na Europa, seria gratificante e realizaria um desejo meu.

Como foi o seu início no Americano, de Campos?

Não vou dizer que tive dificuldade, pois como sou de Campos, facilitou para mim. Apesar de ser um time pequeno do Rio de Janeiro, sempre fizemos bons campeonatos cariocas. Chegamos nas finais da Taça Rio, e isso serve de aprendizado. Consegui construir uma carreira legal, nunca esquecendo do que passou atrás, e mostrar aos jovens que nem tudo são flores, que já passei por uma equipe pequena do Estado do Rio e que venci assim mesmo. Guardo o Americano com muito carinho, pois foi o clube que me abriu as portas para poder jogar futebol e tenho esse carinho por eles até hoje.

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