Imagine viver em um país estrangeiro e ter a sensação de estar sendo seguido nas ruas sem saber a identidade do sujeito que o persegue. Pois é. Esse é o caso do centroavante Fernandão, ex-Palmeiras e Bahia, que atualmente joga pelo Fenerbahçe, da Turquia.
– A pessoa está atrás de você e não sabe o que ela está pensando, aí quando você para o carro para ver, é só um torcedor. Os caras são malucos – conta ao em referência ao fanatismo da torcida do Fener.
Artilheiro do Campeonato Turco em 2014/2015, com 22 gols, atuando pelo Bursaspor, chamou a atenção de seu atual clube, para onde se transferiu em 2015/2016. O sucesso foi instantâneo, marcou 25 tentos na temporada, superando o holandês Robin Van Persie, que anotou 22.
– Quando eu saí do Brasil, já vinha de uma fase boa no Bahia. Isso é sequência e trabalho, vim determinado, focado no que eu vim fazer aqui na Turquia. Já são três anos e eu estou muito feliz – comemorou, lembrando a estabilidade no país e a rápida adaptação à Turquia.
Com esses números, não é à toa que a torcida nutra tamanho carinho por Fernandão. O brasileiro foi homenageado com um bandeirão personalizado pelos fanáticos do clube e encontra dificuldades para realizar as atividades do cotidiano sem que se depare com um deles.
– Você está comendo e eles te cutucam para tirar foto, para te abraçar. Até o pessoal da cozinha quando sabe que a gente está lá, sai de onde estão, vai até a nossa mesa e traz um monte de coisa para agradar. Eles são muito carinhosos, não só com a gente, mas com a família também. É impressionante, nunca vi algo assim – afirmou.
Na temporada atual, porém, o centroavante de 29 anos ainda não conseguiu repetir o desempenho dos últimos campeonatos por conta de lesão em três ligamentos do tornozelo esquerdo, algo que o deixou sem jogar por dois meses.
– Você perde todo o trabalho de pré-temporada, perde espaço, mas estou voltando aos poucos, estou indo para o banco nos jogos, isso já é um sinal de que você é importante. Minha cabeça está focada no segundo turno – disse, confiante.
TRAGÉDIA NA COLÔMBIA
A tragédia que vitimou 71 pessoas - a maior parte delas ligadas à Chapecoense - na Colômbia, causou comoção mundial e não foi diferente na Turquia, de acordo com Fernandão.
– Quando a gente recebeu a notícia, cheguei no clube e contei para os turcos. Eles ficaram muito tristes, dava para ver, mesmo sem conhecer, são pessoas do futebol, como a gente, somos seres humanos, a gente perde – disse, em tom emocionado.
Na partida em que retornou ao time titular após lesão, no último dia 30, o centroavante fez questão de homenagear a Chapecoense vestindo, ao fim do duelo, uma camiseta com o símbolo do clube catarinense e os dizeres “força Chapecoense”.
Fernandão atuou ao lado de Bruno Rangel, morto no acidente, em 2010, pelo Paysandu. Além dele, jogou em 2011, no Guarani, com o zagueiro Neto, um dos seis sobreviventes do voo 2933 da Lamia.
– Eu senti que perdi um pedaço de mim, porque eu não esperava, ninguém esperava, ainda mais com um time de futebol. Pessoas que eu joguei contra, que joguei do lado. É muito triste – lamentou.
BATE-BOLA COM FERNANDÃO, CENTROAVANTE DO FENERBAHÇE (TUR)
Como você vê essa sua adaptação ao futebol turco após três anos?
Tranquilo, estou começando meu quarto, adaptação já está bem encaminhada, porque no começo foi difícil, mas agora as coisas já fluem naturalmente, a comunicação também, apesar de eu não falar turco, mas falar inglês já ajuda.
De que forma vê o torcedor turco?
Eles são muito fanáticos, respiram futebol, é o esporte mais popular do país. Cada loucura que eles fazem, mas isso é bom para o jogador, você fica à vontade, só ver o carinho que eles têm por nós, é muito legal.
Depois de tanto tempo longe dos gramados, imagino que você deva estar ansioso para voltar a marcar gols.
Com certeza, o atacante que não faz gol é pouco lembrado, mas eu estou bem tranquilo, sei da situação que eu passei e o mais importante é que agora eu estou bem, então as coisas vão acontecer naturalmente, sei que se eu trabalhar eu vou voltar a fazer gols, é manter o foco.
Como está a situação de vocês no Campeonato Turco?
Nosso começo não foi legal, a gente reconhece isso, não foi muito agradável, mas agora o time está bem encaixado, a gente nota, o estilo de jogar mudou, o treinador vem como uma filosofia diferente, o grupo aceitou e está dando certo.
E a concorrência no elenco?
Isso me motiva, são quatro atacantes de área, mas o treinador faz um revezamento legal, todos estão recebendo oportunidade para jogar. Poxa, poder estar ao lado do Robin Van Persie, um jogador de nível mundial, você acaba se motivando mais ainda e isso só beneficia o Fenerbahçe.
O que pode falar do Moussa Sow?
Poxa, esse cara é um fenômeno, ele está numa fase boa, ele já esteve aqui, tem história no Fenerbahçe, tem histórico de fazer esses gols de bicicleta, mas eu fico feliz por ele, ajuda o nosso time fazendo gols. O que ele tem de gols desse jeito no currículo, é inacreditável. E é dom, porque o treinador mudou ele de lado, e mesmo assim parece que a bola procura. Pode estar perto ou longe do gol, ele faz.
No Palmeiras você acabou indo embora precocemente depois de começar bem. Ficou alguma mágoa?
Te confesso que eu tive uma sequência, se eu não me engano foram doze jogos com o Felipão, mas quando houve a contratação do Barcos, que na época chegou como grande nome, não tinha como, também não consegui fazer muitos gols pelo Palmeiras, era normal perder o espaço, isso é futebol, futebol é oportunidade. Não saí com mágoa, de nenhum clube do Brasil eu saí com mágoa, jamais. Fui sempre muito bem recebido, mas acontece que jogador às vezes está em uma fase boa e às vezes não está. Para atacante é mais difícil, se não fizer gol, não tem jeito.