José Luiz Portella: ‘O alienista da Fifa’
Colunista do LANCE! fala sobre Gianni Infantino, presidente da Fifa: 'É o tipo que deseja estabelecer padrões de normalidade para o mundo, sendo ele o amalucado'
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Gianni Infantino é o tipo que deseja estabelecer padrões de normalidade para o mundo, sendo ele o amalucado.
Em boa parte, relembra a saga de Simão Bacamarte, protagonista de Machado de Assis em “O Alienista”, obra memorável, pela competência do autor e sua extrema ironia ao retratar a nossa sociedade.
Bacamarte é um médico que estuda os distúrbios psiquiátricos, constrói manicômio e começa a internar as pessoas, que lhe parecem loucas. De repente, 75% da população estão no hospício. Bacamarte se dá conta que está errado e resolve mudar o enfoque: louco é quem mantém um padrão lógico e considerado normal. E passa a interná-los. Descobre mais uma vez ter errado. Ao final, acreditando ser o único com personalidade perfeita, solta a todos, e interna apenas a si próprio no manicômio que construiu.
A FIFA já foi e voltou inúmeras vezes sobre o reconhecimento dos mundiais. Sem lógica alguma, sem manter um raciocínio articulado.
Os títulos mundiais valem pelo que representaram na época em que foram disputados, com a respectiva nomenclatura de então. Não são comparáveis nem passíveis de homogeneização. A “donna è mobile”. Reconhece títulos, desconhece-os, ao sabor do interesse em jogo.
O mundial de 2000 foi um dos mais desorganizados. O Manchester veio forçado pelo governo inglês, que almejava sediar 2006. O Vasco tomou o lugar do Palmeiras, então representante da vaga de campeão da Libertadores, numa negociação feita na mesa da CBF; o Real Madrid amaldiçoou a disputa o tempo todo, e os jogadores europeus se entregaram as delícias das praias cariocas e a magotes de caipirinha, em vez de treinar. 2000 tem seu valor específico, mas não pode ser referência para o “início dos mundiais na face da terra”.
Ele vale mais do que as conquistas do Santos contra o Milan e Benfica, esquadrões campeões da Europa, bases das seleções dos respectivos países? Claro que não. A cada um, a sua história.
O assunto é despiciendo por si próprio e pela pouca autoridade moral da FIFA, mas, cabe comentá-lo para entendermos a mente de Infantino. Com tanto assunto relevante a discutir, com a FIFA enroscada em processos graves, vários dirigentes contemplados, inclusive, Blatter, caberia a Infantino recuperar a credibilidade da instituição. E ele vem com bobagens como esta, e o Mundial-2026.
Infantino é um cara do sistema e visa mantê-lo.
Aplica a velha forma: finge que muda para manter tudo como está.
Ou ensandeceu ou quer nos enrolar. Ele tem traços de Simão Bacamarte.
Na dúvida, melhor seria internar o Infantino em Zurique, sozinho, naquele bunker-hospício da FIFA.
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