Jovem perde 38 parentes pelo ebola e cria clube para buscar reintegração
Time já tem mais de 130 integrantes e tem o lema de acabar com o preconceito com os sobreviventes da epidemia que assolou Serra Leoa e matou cerca de 10 mil pessoas
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A epidemia do ebola foi, enfim, encerrada de forma oficial na semana passada. Porém, a luta dos sobreviventes ainda será longa. Principalmente contra o preconceito nos países infectados. Em Kenema, sul da Serra Leoa, um jovem de 24 anos, que perdeu 38 parentes por causa da doença, resolveu utilizar o futebol para reaproximar as pessoas da cidade, e transformou a falta de esperança em motivo de orgulho.
O drama de Erison Turay começou em meados de 2014. Um dia chegou em casa e o seu pai disse que muitos estavam infectados. Até então, o jovem ainda não. Mas como não havia ambulâncias, levou todos de moto para o hospital. Acabou contagiado, tratou-se e se recuperou. Ao contrário de muitos famliares.
- Alguns morreram em junho, julho... Aos poucos fiquei sozinho, perdi a esperança - conta Turay, que sonha em ser jornalista de rádio, em entrevista ao "New York Times".
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O lema do recém-criado Kenema Ebola Survivors FC é claro: facilitar a reintegração dos jovens sobreviventes na sua comunidade, promovendo a união através de um esporte muito amado no país, reduzir o medo e o estigma social. A ideia surgiu através de uma conversa com a médica francesa Nadia Wauquir, voluntária em Serra Leoa no combate ao vírus.
- Um dia ele me contou que tinha a ideia de fazer algo para ocupar o muito tempo livre que tinha agora. Perguntei o que mais gostava de fazer, e ele respondeu que era jogar futebol - explicou a médica à rede BBC.
'Se o meu pai estivesse vivo, estaria orgulhoso de mim', diz o criador do clube de Kenena
Com a vida voltando aos poucos ao normal, o clube foi enfim criado. A ideia era, além de integrar os sobreviventes do ebola de Kenema, que, traduzindo, é o nome da equipe, dar uma atividade às pessoas. Já são mais de 130 integrantes de diversas idades, entre homens e mulheres.
- Quando estamos jogando futebol podemos esquecer o passado. Eu me sinto feliz ali, como se estivesse no céu - emociona-se Turay, lembrando do preconceito que os sobreviventes sofrem:
- Quando se entra em uma loja, as pessoas falam: "olha, um sobrevivente, não o deixem entrar aqui". Isso me faz sentir com ebola novamente.
Em campo, o time feminino estreou melhor. De forma sugestiva, os jogos foram contra a equipe formada por voluntários. As mulheres venceram por 2 a 0, enquanto os homens perderam por 5 a 0. Para Turay, mero detalhe.
- É verdade que não ganhamos, mas as pessoas aceitaram jogar conosco. Não tiveram problemas em nos tocar. São os nossos irmãos - disse.
O Kenema Ebola Survivors foi inscrito na federação local. Algo fundamental para o desenvolvimento. O campo de uma escola primária é o local de treinos, que ocorrem três vezes por semana. Diversas ajudas já foram recebidas, como doações de bolas, apitos, luvas de goleiros e outros itens.
- Se o meu pai estivesse vivo, estaria orgulhoso de mim. As coisas ficaram difíceis, mas ainda não estamos mortos. Por isso, enquanto conseguir viver, tenho de ter esperança - concluiu.
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