Luiz Gomes: ‘O que há por trás da denúncia de assédio contra Neymar?’
'Neymar diz que não teve direito de defesa. É a palavra de um contra a do outro'
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É preciso ter muito cuidado antes de se estabelecer qualquer tipo de julgamento no caso do suposto assédio sexual que teria levado a Nike a suspender o contrato com Neymar, ano passado. Por uma razão muito simples: se Neymar é useiro e vezeiro de arrumar confusões e se envolver em trapalhadas fora de campo, de distintos graus de gravidade, a Nike está longe, muito longe de ser uma empresa acima de qualquer suspeita.
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O ataque a uma funcionária da Nike teria ocorrido em um hotel de Nova Iorque em 2016, denunciado por ela em 2018 e investigado no ano seguinte. Durante todo esse tempo foi mantido em sigilo até ser revelado essa semana pelo prestigioso jornal de negócios americano Wall Street Journal. Ou seja, o caso não veio à tona em um tabloide sensacionalista no estilo britânico, tão pouco em um jornal de informação geral, com equipes mais investigativas. Mas sim em um veículo especializado em economia o que constitui-se um importante indício de onde surgiu a notícia.
A Nike, inquirida pelo WSJ, afirmou que contratou um escritório especializado em investigações e que a sindicância interna que apurou o caso terminou de forma inconclusiva. Ou seja, não foi possível a comprovação da denúncia o que - e isso é importantíssimo deixar claro - não deve e não pode servir para desmoralizar as afirmações da vítima ou torna-la a vilã do processo. Segundo a multinacional, o contrato teria sido rompido simplesmente porque Neymar se recusara a colaborar com as investigações.
A versão do jogador, como se sabe, é outra. Neymar diz que não teve direito de defesa, que jamais foi informado com clareza sobre o que se investigava, sobre a autora da denúncia, mesmo nos anos em que continuou a usar as chuteiras da marca americana e a participar de eventos da companhia. É a palavra de um contra a do outro.
De um lado, vale lembrar, que Neymar se envolveu depois em outro caso de assédio sexual, denunciado pela modelo Najila Trindade e também arquivado por falta de provas. O jogador já teve problemas com o fisco, foi processado pela forma nebulosa com que transcorreu a negociação que levou a sua saída do Santos para o Barcelona, gosta de promover e participar de festas quando não deveria, bate boca na internet, coleciona, enfim, episódios que em nada contribuem, ao contrario, para sua imagem de ídolo.
De outro lado, a Nike, justa ou injustamente, como descreve o site The Greenest Post, "tornou-se sinônimo de trabalho infantil após a revista Life divulgar, em 1996, foto de um paquistanês de apenas 12 anos de idade costurando uma bola de futebol da multinacional". Mais recentemente, ainda no ano passado, a marca foi acusada, em reportagem da BBC de Londres, de explorar mão de obra da minoria muçulmana na China para a fabricação de de seus produtos. Aqui no Brasil já foi alvo de uma CPI e teve seus contratos com a CBF postos sob suspeita. Investigações, diga-se, como as que existem por aqui contra seu parceiro Ricardo Teixeira, que nunca deram em nada.
Mas qual teria sido a intenção de quem foi a fonte da matéria do WSJ em tornar o caso público neste momento? Isso não se sabe. Mas o vazamento ocorre oito meses depois do jogador assinar contrato com seu novo patrocinador, a Puma, agora sua fornecedora de material esportivo, e exatamente no momento em que, comenta-se nos bastidores do mundo da publicidade, uma mega campanha global da marca alemã está sendo preparada tendo o camisa 10 da Seleção como uma das estrela.
Tudo isso pode ser uma mera coincidência. Pode ser apenas teoria da conspiração de publicitários, uma gente, como é do ofício, de uma mente fértil e extremamente criativa. Mas, nesse mundo dos negócios, ainda mais quando o futebol é o pano de fundo, o vale tudo é o que muitas vezes impera. E a disseminação de informações confidenciais - nem sempre fake news, como agora - é sempre uma arma poderosa de ataque.
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