Mundial de Clubes: Torcida do Wydad Casablanca mais do que assiste, quase decide
Massa vermelha canta sem parar por 88 minutos, sente abalo na marcação de pênalti com expulsão, mas retoma empolgação até se calar de vez com a derrota<br>
Torcida joga? Sim, bastante, mas não decide necessariamente. A massa que coloriu quase toda a arquibancada do Estádio Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat, ajudou o Wydad Casablanca a chegar bem perto da semifinal do Mundial de Clubes. Mas não deu.
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Desde a entrada no estádio, foi possível perceber que aqueles torcedores não estavam ali só para assistir ao jogo. Queriam assistir o time do coração, sem preposições, com proposição.
Encurralados em grades na direção das roletas de acesso, não conseguiam conter a ansiedade. Sofriam com a tentativa de ordenação das filas por policiais, mais preocupados com a razão do que com a emoção.
Dentro do estádio, os torcedores do Wydad pareciam ter energia e criatividade intermináveis, além de uma garganta com potência acima do normal para um ser humano qualquer. Os cantos davam a impressão de vir do fundo da alma e pouco serem repetidos. Só paravam quando começavam as vaias na posse de bola do adversário.
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Apupos ensurdecedores que por pouco não danificam permanentemente os tímpanos de tão altos. Se fora das quatro linhas ficava difícil conversar com alguém do lado, imagine pensar e jogar bola com esse barulho todo.
E os mosaicos? Sim, foram mais de um, com inscrições em árabe. Um bandeirão também foi aberto, com a figura de um beduíno e seu camelo sobre o mapa do Norte da África.
Tambores e bandeiras em mastros completavam a composição sonora e visual do espetáculo. E ainda tinha coreografias, todas sob a regência de três integrantes da torcida que ficavam na pista entre a arquibancada e o campo. Eles mexiam com as mãos para dar o sinal de que era hora de bater palmas, balançar os braços para um lado ou apenas berrar em uníssono.
A uma certa altura do jogo, ainda houve gritos de um lado do estádio respondido pelo outro durante três minutos, sem parar ou diminuir o volume.
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Coitada da torcida do Al Hilal. Restrita a uma mancha azul no lado inferior do setor central oposto à tribuna de honra, pouco foi notada. Só mesmo na marcação do pênalti aos 43 minutos do segundo tempo. Neste momento, um silêncio repentino desabou sobre o estádio. Um vácuo de realidade no sonho da massa vermelha marroquina.
O gol de empate na sequência da expulsão de Yahya Jabrane abateu o público local. A torcida passou os 11 minutos de acréscimos seguidos ao gol de empate quase sem esboçar reação. Só voltou a se manifestar no retorno dos times para a prorrogação. Mesmo assim, timidamente.
Quando Kanno foi expulso e igualou o número de jogadores em campo, as vozes das arquibancadas voltaram a se multiplicar. A cada corte, contra-ataque, queda no gramado por câimbra, os torcedores do Wydad botavam mais força na voz para energizar o time em campo.
Só que torcida ajuda, mas não ganha jogo. Na disputa por pênaltis, a perda da primeira cobrança do Wydad foi fatal. As vaias para as cobranças do Al Hilal não foram tão penetrantes. No fim, o silêncio da derrota surgiu mais suave do que a queda no vácuo do empate.
Ficou a impressão de que a torcida marroquina é das mais empolgantes e apaixonadas do mundo - se não a mais. E não é um resultado em campo que muda isso.