OPINIÃO: Até quando os nossos jovens talentos resistirão?
Em um ano que voltou a ter o Brasil como recordista de jogadores na Liga dos Campeões da Europa, jovens sofrem com o descaso de clubes no processo de formação destes como futuros profissionais<br>
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Em meio a tantos acontecimentos tristes que sangram o notíciário em 2019, uma boa notícia levanta a bandeira de que o talento nacional ainda não está perdido. Três jovens brasileiros tiveram grande destaque na rodada da semana passada da Liga dos Campeões da Europa. Refiro-me a Marquinhos, David Neres e Vinicius Júnior. O primeiro, de 24 anos, um zagueiro de origem, exerceu a função de meio-campo e foi decisivo no triunfo do Paris Saint-Germain
sobre o Manchester United. Os outros dois, ao se enfrentarem no clássico Ajax x Real Madrid, mostraram a qualidade que o nosso futebol ainda produz. E exporta aos montes.
David Neres, de 21 anos, e Vinicius Júnior, de 18, não deram folga um minuto sequer aos setores defensivos adversários. Enquanto Neres buscou o jogo em todos os espaços possíveis – inclusive com finalizações –, a ex-joia do Flamengo brilhou mais uma vez. No lance que resultou no gol de Benzema, o antigo garoto do Ninho reuniu um repertório de habilidade, técnica e inteligência.
Em uma temporada que voltou a ter o Brasil como recordista de jogadores inscritos na principal competição de clubes do mundo, o destaque acima é de extremo valor, ainda mais após uma campanha fraquíssima num campeonato de base, como o Sul-Americano Sub-20, que fez renascer a discussão sobre o talento do futebol brasileiro. Afinal, a Seleção ficará fora do Mundial da categoria (a ser disputado este ano na Polônia) pela terceira vez em quatro edições.
Pelo que vemos, falta tudo ao Brasil. Menos talento. Mas temos machucado tanto esses prodígios... Apesar de tudo parecer corroborar para a derrocada do esporte no país, uma luz ainda insiste em brilhar no fim do túnel. Da tragédia que vitimou dez jovens em um alojamento de condições precárias num CT moderno como o do Flamengo a vergonha ocorrida na final da Taça Gunabara entre Vasco e Fluminense – e o amadorismo com o qual suas diretorias se portaram no episódio da disputa pelo Setor Sul do Maracanã – ao não colocarem em primeiro lugar os interesses do torcedor, o grande patrimônio de um clube de futebol.
Depois da tragédia ocorrida no Ninho do Urubu, enfim uma série de fiscalizações a instalações nos clubes brasileiros, fruto – é que bom que se diga – do apelo midiático extensivo na cobertura de tragédias e no desdobramento dos fatos subsequentes.
A cultura do jeitinho brasileiro, aquela de remediar ao invés de prevenir, evidencia a ineficiência do poder público concernente ao modo de lidar com a obrigação de assegurar o bem estar e a paz da sociedade. E não só isso. Denota também a visão de dirigentes, protegidos pela políticas de clubes, de não respeitar etapas criteriosas na formação destes futuros profissionais.
Oferecer o básico a estes meninos que moram em alojamentos é visto como medida impreterível para que estes ganhem a famosa “casca”. Apesar de os principais clubes brasileiros galgarem passos no tocante a uma visão mais profissional na base, as etapas ainda encontram vícios. Enquanto não são sanados, o trigo luta para se desenvolver em meio a plantação de joio.
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