Uma historinha um pouco esquecida, mas que vale ser relembrada. Há 50 anos, no dia 29 de abril de 1970, num Maracanã que recebeu 57.370 torcedores, o Brasil vencia a Áustria por 1 a 0. Era o último amistoso da Seleção antes da viagem para a Copa do Mundo de 1970 (o time embarcaria no dia seguinte). Rivellino, após assistência de Gérson, limpou a marcação e, da entrada da área, pela direita, chutou de esquerda, colocado, para fazer o gol decisivo.
O jogo rolou numa quarta-feira à noite diante de um público bem modesto para uma despedida rumo à Copa (o estádio havia recebido 169 mil, meses antes, para o jogo da classificação para o Mundial). E o motivo era o descrédito de uma equipe que tinha passado por uma gigantesca crise política e técnica nas semanas anteriores, culminando com a demissão do treinador João Saldanha. O comandante vivia às turras com o governo militar, já que não admitia ingerência, fazia muitos testes e tinha amargado alguns resultados ruins (como a derrota para a Argentina e o empate com o Bangu em jogo-treino).
Sob crise, Zagallo assumiu no dia 22/3 e, após vitórias sobre o Chile (Morumbi e Maracanã) e a seleção amazonense, veio o duelo de fogo com a Áustria, um selecionado forte que não se classificou para a Copa-70 sendo eliminado pela então Alemanha Ocidental.
Este jogo teve um aspecto muito importante: pela primeira vez, Piazza (na zaga), Rivellino e Tostão (no ataque) jogaram como titulares, assumindo posições-chave, que seriam determinantes na campanha do tri.
Em relação ao time titular campeão no México e que até hoje é cantado em verso e prosa como o mais espetacular da história das Copas, apenas dois não estavam entre os titulares contra a Áustria: Everaldo e Jairzinho. O lateral-esquerdo estava no banco e não foi testado (ele só assumiria a titularidade, barrando Marco Antônio, no jogo de estreia do Brasil na Copa, contra os tchecos). Já Jairzinho entrou na etapa final contra a Áustria, no lugar de Rogério e foi muito bem.
Vale destacar que este amistoso era decisivo para Rogério. O botafoguense vinha de lesão e, se sentisse alguma dor, seria cortado, o que acabou ocorrendo (curiosamente, quem foi chamado para o seu lugar, para ser o terceiro goleiro, foi Leão, arqueiro do Palmeiras). Sem a sombra de Rogério, o Furacão se tornaria o novo dono da camisa 7.
O Brasil fez um bom primeiro tempo e Pelé quase marcou numa cobrança de falta. A Seleção foi ainda mais incisiva no segundo tempo, quando teve boas chances e chegou ao gol com Rivellino aos 13 minutos. O futebol convincente contra um tradicional rival europeu resultou num fator importante destacado pela imprensa: a torcida, que nas partidas anteriores havia vaiado muito a equipe, desta vez aplaudiu o grupo, que dominou um rival considerado de bom nível.
O Brasil jogou com Félix (Fluminense), Carlos Alberto Torres (Santos), Brito (Flamengo), Piazza (Cruzeiro) e Marco Antônio (Fluminense); Clodoaldo (Santos), Gérson (São Paulo) e Rivellino (Corinthians); Rogério (Botafogo), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro).
Entraram Jairzinho (Botafogo), no lugar de Rogério, e Dario ‘Dadá Maravilha’ (Atlético-MG), no lugar de Pelé.