Título da Espanha quebra discurso de brasileiros e nacionalistas locais ao colocar bascos em evidência
Gols de Nico Williams e Oyarzabal, comando de Luis de la Fuente; nomes do País Basco decidiram a Eurocopa em favor da Fúria
"O Brasil não ganha nada porque tem um jogador do Aston Villa". "Enquanto o Brasil tiver um jogador do Porto na lateral, não vai ser campeão". "Jogador do Newcastle como titular da Seleção? Mais 24 anos sem ganhar nada".
Este foi o discurso de muitos torcedores brasileiros nos dias que sucederam a eliminação para o Uruguai, ainda nas quartas de final da Copa América. Procurando razões para depositar sua frustração por uma nova queda, diversos aficionados apontaram para os clubes onde os atletas desfilam seu bom futebol.
Porém, a Espanha, neste domingo (14), fez com que qualquer discurso que diminua o trabalho feito nas seleções e atribua qualquer responsabilidade aos clubes caísse por terra. Um treinador basco conduziu a Fúria contando com vários jogadores da comunidade autônoma e com dois gols de jogadores originados na região.
Luis de la Fuente, muita experiência dentro da seleção por ter trabalhado na base. Entre 2013 e 2021, três categorias diferentes, até que chegaria aos profissionais em dezembro de 2022, após a Copa do Mundo. Desde então, Nations League e agora Eurocopa adicionadas ao currículo. Para tal, confiou em seus companheiros de região.
Ao todo, dez jogadores bascos foram convocados por Luis para compor o elenco campeão na Alemanha. Dois deles apareceriam na final para balançar as redes e serem decisivos no histórico título que transformaria a Espanha em maior campeã da Euro, com quatro títulos.
O primeiro seria marcado por Nico Williams. O ponta-esquerda já era muito badalado por suas atuações no Athletic Bilbao durante a temporada, tendo chamado a atenção de gigantes da Europa. Mas a competição de seleções o colocaria ainda mais em evidência. O gol na final, idem. Recebendo da joia barcelonista Lamine Yamal, bateu cruzado para balançar as redes de Pickford. A recompensa de um menino alegre, que joga e baila como Vini Jr, o perseguido pelos brasileiros.
Perto do fim, Mikel Oyarzabal, vindo do banco, concretizaria um ciclo positivo tanto pela seleção quanto pela Real Sociedad. De carrinho, completaria cruzamento de Cucurella, lateral reserva do Chelsea (que jogará apenas a Conference League), e marcaria o gol do título merecido. O craque dos Txuri-urdin, tratado como herói improvável.
Quase no último lance, Unai Simón apareceria. Um tanto quanto contestado, o goleiro tomou o lugar de De Gea, deu continuidade ao legado de Casillas, e fez grande defesa pra evitar gol de cabeça de Declan Rice. Oito anos em Bilbao.
A seleção da Espanha conquistou o mundo em 2010 baseada no grande legado deixado pelo Barcelona de Pep Guardiola, somado a um Real Madrid em reconstrução, e contando com um jogador do Villarreal (Capdevila). Por isso, muitos se acostumaram a crer que a solução está sempre nos times de topo do país.
A influência deste tipo de pensamento chegou ao Brasil. Jogadores de West Ham, Wolverhampton e Girona precisam obrigatoriamente ser linchados pelo clube que jogam, independente da qualidade que possam agregar. Aos nacionalistas espanhóis, da mesma forma. Se nasceu no País Basco, não presta, pois a comunidade é desprezível.
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Discurso falho. Real Sociedad e Athletic Bilbao têm seus atletas de qualidade que podem agregar à Espanha. Futebolistas de times de menor expressão na Europa são altamente utilizáveis na Seleção. Vale aprender com os exemplos, e não só os de vitória.
Livakovic agarrava pelo Dinamo Zagreb quando fez o Brasil chorar em 2022. Klose balançava as redes e ultrapassava Ronaldo no ranking de artilheiros da Copa do Mundo enquanto desfilava seu futebol na Lazio. Stekelenburg operava milagre em chute de Kaká em 2010, defendendo o Ajax por mais de uma década. O clube não importa. A qualidade sim. Os bascos sobraram na Espanha. De La Fuente aproveitou o que tinha de melhor. Fica a lição.