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Conheça o Wolverhampton, um dos clubes mais ‘portugueses’ da Europa

Clube inglês tem mais portugueses no elenco que o Sporting e a 'culpa' é do treinador da equipe. Portugal é o país com mais jogadores em um clube da Premier League

Patrício, Nuno Espírito Santo e João Moutinho: os principais portugueses do Wolverhampton
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Wolverhampton (ING)
Dia 30/07/2018
15:14
Atualizado em 30/07/2018
15:52

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A Premier League se destaca por ser um dos campeonatos com maior presença de jogadores estrangeiros, totalizando 65% dos atletas. O Wolverhampton, que foi o campeão da 2ª divisão na última temporada, chama a atenção por um fato curioso: o número de jogadores portugueses, fazendo com que o clube inglês tenha mais lusos em seu elenco que o Porto, Benfica e o Sporting.

Além dos jogadores, o treinador do time, o também português Nuno Espírito Santo, é o principal fator que explica o contingente no 'Wolves'. Em um campeonato multicultural, a aceitação de jogadores estrangeiros pelo Wolverhampton e os demais clubes ingleses destoa dos casos de xenofobia e intolerância vistos na sociedade britânica e na Europa, de forma geral, nos últimos anos.

Premier League: plural e multicultural
A Premier League é uma das competições que mais detém jogadores estrangeiros. Para se ter uma ideia, dos 605 jogadores, que compõem o elenco de 20 times, 396 são estrangeiros, totalizando 65% dos atletas. O Manchester City é a equipe que mais tem jogadores estrangeiros, número que aumentou depois da chegada de Pep Guardiola e de investimentos milionários. 66% do time do City é composto por atletas de fora da Inglaterra, ou seja, dos 44 jogadores do elenco do clube inglês, 29 são estrangeiros.

O Chelsea vem logo depois, com 27 estrangeiros de um montante de 38 jogadores, somando 71% da equipe. O Watford completa o pódio com 24 estrangeiros em um elenco de 29 jogadores. O Burnley é o que menos no elenco, são 13 jogadores em um elenco com 25 atletas (52%).

Vale a pena ressaltar que os números englobam os clubes do Reino Unido. O Cardiff, de País de Gales, vai disputar a Premier League desta temporada e tem, em seu elenco, 15 jogadores ingleses. Como a Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte constituem o Reino Unido, os ingleses do Cardiff não contam como estrangeiros.

Na lista de estrangeiros, o Wolverhampton ocupa, apenas, a 15ª colocação: dos 29 jogadores da equipe, 18 são estrangeiros. O que chama atenção, porém, não é a colocação, mas sim a nacionalidade dos estrangeiros da equipe da cidade de Wolverhampton. Dos 18 estrangeiros, oito são portugueses, o que faz com que Portugal seja o país, com mais número de jogadores em um clube da Premier League.

À moda portuguesa
Nesta temporada, o Wolverhampton chama atenção pela quantidade de jogadores portugueses. O clube inglês já acertou com quatro jogadores portugueses, das nove contratações que fez para a disputa da Premier League. Foram 50 milhões de euros (R$ 217,6 milhões) gastos em reforços, sendo 21,6 milhões de euros (R$ 91 milhões) apenas em jogadores portugueses.

Destaques para jogadores que tiveram carreiras sólidas na Europa e na seleção portuguesa, como é o caso do goleiro Rui Patrício, que foi contratado junto ao Sporting, clube que defendeu por mais de 12 anos, 16 milhões de euros (R$ 69 milhões). O jogador já disputou 73 partidas por Portugal, conquistou a Eurocopa de 2016 e participou de duas Copas do Mundo (2014 e 2018).

João Moutinho também fez parte do elenco português campeão da Euro e participou das mesmas Copas do Mundo que o goleiro. Ao todo, já fez 113 partidas pela seleção e marcou sete gols. Estava no Monaco, mas já teve passagens pelo Porto e chegou por 5,6 milhões de euros (R$ 24,3 milhões). O fato de ter outros portugueses no elenco, é um agravante para a chegada de novos jogadores do país.

- Não foi preciso os jogadores portugueses me convencerem. O clube me mostrou o projeto e isso é o mais importante. Joguei com os portugueses, conheço eles e outros jogadores. Espero que o Wolves consigam boas coisas na Premier League - disse João Moutinho em sua chegada

Além dos dois jogadores já consagrados, o zagueiro Rúben Vinagre e o atacante Diogo Jota também foram contratados e o meia ofensivo Pedro Gonçalves subiu para o profissional. Já estavam no clube, o volante Rúben Neves e os atacantes Ivan Cavaleiro e Hélder Costa. O grande contingente de portugueses no clube fazem com que o Wolverhampton tenha o mesmo número de jogadores portugueses que o Porto e Benfica, e mais que o Sporting e cinco clubes portugueses.

Novo reforço português à vista
O Wolverhampton pode acertar com o seu nono português. De acordo com o portal turco 'Fanatik', o clube está interessado em contar com o zagueiro luso-brasileiro Pepe. O Wolves teria que arcar com 7 milhões de euros (R$ 30 milhões) para trazer o zagueiro português, que já disputou três Copas do Mundo com Portugal e já jogou no Real Madrid.

Nuno Espírito Santo, o responsável
O motivo do Wolverhampton ter tantos jogadores portugueses se dá por conta do seu comando técnico. O treinador português Nuno Espírito Santo chegou nos Wolves em 2017 e assumiu o time na segunda divisão. Apenas o atacante Ivan Cavaleiro já estava na Inglaterra na chegada do treinador, depois de Nuno, sete jogadores portugueses foram contratados.

Dos quatro profissionais da sua comissão técnica, três são portugueses, que incluem o assistente técnico, o treinador de goleiros e o preparador físico. Segundo o 'Birmingham Mail', o técnico conversa com os jogadores sempre em português.

Natural de São Tomé e Príncipe, Nuno Espírito Santo nasceu no Natal, no dia 25 de dezembro de 1974 e, por isso, foi acrescido no seu nome 'Espírito Santo'. Como jogador era goleiro, mas não teve muito destaque. Integrou o elenco do Porto, campeão da Champions League, em 2003/04. Também jogou no Deportivo La Coruña (1996 a 98, e em 2001/02) e no Dínamo de Moscou (2005/06). Encerrou a carreira no Porto, em 2009/10. Tem como principal inspiração, o treinador José Mourinho, que o dirigiu no Porto, em 2003.

- Eu vou ser honesto. Eu fui um goleiro, que passou a maior parte da carreira no banco do que dentro de campo. Isso me deu duas perspectivas. Me proporcionou a enxergar o jogo, o espaço, tudo. E me ajudou a entender o futebol de agora - disse Nuno, ao 'Birgmingham Mail'

Portugal dá resultado
Nuno Espírito Santo pode ser acusado de ser "corporativista", por contratar tantos jogadores de seu país natal, mas o seu trabalho tem dado certo no clube inglês. O treinador assumiu o clube em 2017, na segunda divisão, porém, com uma incrível campanha conseguiu o acesso para a Premier League. A campanha foi similar a histórica do Manchester City, comandada por Pep Guardiola, que rendeu ao clube de Manchester, o título da Premier League.

O Wolverhampton, de Nuno Espírito Santo, fez 99 pontos na EFL Championship, com 30 vitórias, nove empates e sete derrotas em 46 jogos, além do melhor ataque com 82 gols. O Manchester City, de Guardiola, fez 100 pontos, com 32 vitórias, quatro empates e duas derrotas, e, também teve o melhor ataque, com 106 gols.

Futebol, reflexo e oposto da sociedade
A cidade de Wolverhampton é considerada a 12ª maior cidade da Inglaterra, fora de Londres e também é conhecida por ser multicultural. A enorme aceitação dos estrangeiros no principal campeonato da Inglaterra e da Europa, destoa do tratamento com os imigrantes dentro da sociedade inglesa e da Europa em geral. A xenofobia, assim como o racismo, tem sido características pungentes da sociedade européia nos últimos anos e um dos principais problemas sociais e econômicos do continente.

Em 2016, o Reino Unido decidiu sair da União Européia depois de 43 anos pertencendo ao grupo. Um plebiscito foi feito e 52% da população foi à favor. A saída ficou conhecida como 'Brexit' (junção de 'Bre', que faz menção ao Reino Unido e 'exit', 'saída' em inglês). No ano do Brexit, o número de casos relacionados a xenofobia e racismo aumentou em 50% e, segundo o 'Independent', mais de cem episódios de xenofobia, que incluem insultos e crimes de ódio, já foram catalogados.

Se 65% dos jogadores da Premier League são estrangeiros, apenas 9,2% da população inglesa é composta por imigrantes, segundo o 'Migration Observatory', da Universidade de Oxford. E se o Wolverhampton tem um histórico positivo com os portugueses, o mesmo não pode ser visto, em 2016, quando membros da comunidade portuguesa foram atacados na Inglaterra.

- Um carro parou junto à minha família, nos cuspiu e insultou. Fiz queixa à polícia, mas muitos portugueses aqui não querem falar por medo de represálias - disse o português Joe Barreto, em 2012, ao 'Lusa', agência de notícias portuguesa

De acordo com o 'Kick It Out', entidade inglesa conhecida por combater crimes de ódio dentro do futebol, 469 casos de discriminação foram apurados na temporada de 2016/17, um aumento de 16,7% em comparação a temporada anterior. Durante a Copa do Mundo, uma capa do 'The Sun' causou polêmica a desmerecer a Colômbia, dizendo que o país só tinha a Shakira (cantora), café e cocaína, sendo mais um exemplo da visão negativa com o "de fora".

Indo na contramão, o futebol surge como um respiro tolerante dentro de ondas intolerantes que se refletem dentro da sociedade européia. A multicultural Premier League e o português Wolverhampton refletem essa realidade.

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