Os efeitos da temporada de 2019 para o Flamengo não ficaram restritos às quatro linhas. Sócio da Sports Value, uma das principais empresas de marketing esportivo do país, Amir Somoggi destacou que o balanço financeiro aprovado pelo Conselho Fiscal do clube deixou ainda mais significativa a diferença entre o Rubro-Negro e os seus rivais regionais.
- O abismo entre o Flamengo e os demais clubes de ponta do Rio de Janeiro ficou bem maior. O Rubro-Negro faturou R$ 950 milhões em sua receita total. Somados, Fluminense, Vasco e Botafogo chegaram a R$ 694 milhões em receitas. É um descolamento muito grande - afirmou, ao LANCE!, frisando que o contraste também é visto nas despesas com o futebol:
- Os custos de futebol do Flamengo são de R$ 618 milhões. O Fluminense, que vem logo em seguida, gastou R$ 147 milhões em 2019. A diferença evidencia que o Rubro-Negro consegue arcar com as despesas, enquanto Vasco (que desembolsou R$ 128 milhões no ano passado em futebol), Fluminense e Botafogo (que teve custos de R$ 114 milhões com futebol) "apagam incêndios" diários - completou.
TÍTULOS E TRANSFERÊNCIAS 'RENDEM' BASTANTE AO FLAMENGO
O consultor de marketing e gestão esportiva detalhou o que pesou para o Flamengo melhorar ainda mais suas finanças.
- Foi um dos melhores anos da história do Flamengo. Venceu Brasileiro, Copa Libertadores, disputou decisão de Mundial... O clube não só ganhou uma visibilidade maior, como também conseguiu maior adesão da torcida e foi obtendo grandes premiações... - disse.
Somoggi ressaltou que outro fator também saltou aos olhos no balanço financeiro de 2019 do Flamengo.
- O Flamengo lucrou R$ 300 milhões somente em transferências de jogadores! Isto contribuiu muito para as finanças, em especial com a cotação do euro e do dólar - declarou.
ADESÃO DE SÓCIOS DÁ FORÇA AO VASCO. MAS HÁ MUITO A CORRIGIR
Embora o balanço financeiro do Vasco tenha contabilizado um prejuízo de R$ 5 milhões, o clube terminou o ano de 2019 com um índice promissor. Amir Somoggi valorizou que a maneira como a torcida cruz-maltina "abraçou" o Gigante da Colina teve reflexos.
- O Vasco teve números muito positivos em relação ao sócio-torcedor. Saltou de R$ 12 milhões para R$ 36 milhões, o que prova que tem ainda muito potencial para crescer. O caminho da diretoria agora é aumentar esta força que o Cruz-Maltino tem em nível nacional - frisou sobre o clube, que teve R$ 215 mi em receitas.
Contudo, outro ponto do balanço cruz-maltino é visto pelo consultor de marketing e gestão esportiva como preocupante.
- O valor em negociações de jogadores foi muito inferior do esperado. Apenas R$ 11 milhões, o menor entre os clubes cariocas. Quando um clube que já lida com dificuldades financeiras não consegue concretizar transferências, o impacto pode ser forte - disse Somoggi.
VENDA DE JOGADORES É O TRUNFO TRICOLOR
As contas de 2019 do Fluminense apontaram o caminho para o clube conseguir receitas. O clube lucrou R$ 105 milhões em transferências de jogadores, aspecto que é visto com ressalvas por Amir Somoggi.
- Por mais que a venda de jogadores seja relevante para manter a saúde financeira, o clube não pode depender essencialmente disto. A diretoria tem de encontrar outros caminhos para obter receitas - afirmou.
O consultor de marketing e gestão esportiva chamou atenção onde o Tricolor das Laranjeiras poderia ter números melhores.
- O programa de sócios do Fluminense ainda está abaixo do esperado. Foram pouco mais de R$ 5 milhões de receitas em sócio-torcedor. O patrocínio por volta R$ 9 milhões também é inferior à dimensão do clube - declarou sobre o clube, que teve R$ 265 mi em receitas.
O sócio da Sports Value apontou o caminho no qual a equipe das Laranjeiras pode ter um bom caminho para entrar nos eixos.
- O Fluminense é um clube que tem torcida muito forte entre os ricos. Um bom caminho seria buscar patrocínios com empresas voltadas para este grupo - afirmou.
BOTAFOGO TENTA ENTRAR NOS EIXOS, MAS SITUAÇÃO SEGUE DELICADA
Amir Somoggi destacou que o balanço financeiro de 2019 deixou ainda mais nítida a situação delicada do Botafogo. Ao falar sobre o Alvinegro, que teve déficit de R$ 20,8 milhões em suas contas, o especialista foi categórico.
- O Botafogo está em uma situação falimentar. Não consegue vender tantos atletas, está envolvido em uma série de problemas - e, em seguida, avaliou a decisão de se tornar um clube-empresa:
- Assim que saiu o Projeto de Lei, o clube logo se apressou a tentar se tornar um clube-empresa porque sabe que não pode caminhar com as próprias pernas. É necessário um investidor que dê aporte para ajudar a sanar as dívidas - completou.
As dívidas do Glorioso beiram R$ 822 milhões. Somoggi vê falhas na maneira como a diretoria busca suas receitas.
- O Botafogo tem um estádio próprio e potencial para lucrar mais do que os R$ 11 milhões que conseguiu no ano passado. É hora do clube engajar mais a ida da torcida para o estádio. Sem contar no baque que teve em relação ao patrocínio - disse.
Além dos direitos de TV, as receitas alvinegras tiveram como carro-chefe as transferências de jogadores. O clube obteve cerca de R$ 39 milhões em negociações.
- Ao menos, percebe-se que o Botafogo está correndo atrás de uma solução para reagir financeiramente - afirmou.
AUMENTO DE PREMIAÇÕES CAUSA IMPACTO POSITIVO NOS COFRES
O sócio da Sports Value exaltou que uma mudança de rumo no futebol foi benéfica aos clubes cariocas: o aumento do valor das premiações de competições nacionais e continentais.
- Os valores estipulados pela CBF e da Conmebol contribuíram muito nas receitas dos clubes. O Flamengo campeão da Copa Libertadores somou mais de R$ 100 milhões (cerca de R$ 121 milhões) só em premiações. Vasco, Fluminense e Botafogo, independentemente de como foram em cada competição, também somaram quantias importantes em seus respectivos cofres - destacou.
O Tricolor das Laranjeiras somou por volta R$ 27 milhões em premiações, enquanto o Cruz-Maltino obteve em torno de R$ 22 milhões. Já os cofres do Alvinegro ganharam cerca de R$ 13 milhões por participação em competições.
Amir Somoggi traça um panorama de como os clubes estão lidando com as suas movimentações financeiras.
- Há muitos desafios pela frente. Cabe ao trio olhar para as gestões de clubes do Rio Grande do Sul que, mesmo sendo mais regionais, souberam se estruturar, equilibrar suas contas. Este é um caminho para Botafogo, Vasco e Fluminense correrem atrás e ficarem em um nível próximo ao do Flamengo - disse.