Clubes correm para formar times e Brasileiro feminino terá incertezas
Maioria das equipes deixou para elaborar o departamento feminino às vésperas do início do campeonato e no limite da determinação da CBF e da Conmebol
A luta feminina por espaço no mundo do esporte não é nova. No futebol, as diversas tentativas, muitas vezes frustradas, para a valorização da modalidade acabaram culminando em uma obrigação de entidades para que os clubes, enfim, se movimentem para montar suas equipes de mulheres.
No final de 2016, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Conmebol determinaram a criação e manutenção de times femininos para 2019, no adulto e na base. O estatuto da Fifa também inclui artigos que falam sobre a igualdade de gênero. Foram dois anos de prazo e pouca coisa evoluiu desde então.
No início do ano, apenas sete clubes da Série A contavam com um departamento adulto já estruturado. São eles Ceará, Corinthians, Flamengo, Grêmio, Internacional, Santos e Vasco. Após a divulgação da tabela das Séries A1 e A2, apenas o Fortaleza não apresentou uma equipe.
O que se viu durante o processo e até o momento foi uma correria e falta de organização para estruturar projetos com mais cautela. Muitos ainda desenvolvem a base, como o Flamengo - que não tem como aproveitar a parceria com a Marinha nos moldes do principal -, em suas equipes ou sequer contam com o time principal estruturado.
O Sport e o Vitória das Tabocas, por exemplo, estão na tabela divulgada da Série A1, mas ainda não ficou claro como disputarão o torneio. O primeiro é atual campeão pernambucano, mas, por conta de uma crise financeira, anunciou no final de fevereiro o fim do departamento de futebol feminino. A Federação Pernambucana entrou na jogada para tentar manter as equipes disputando a competição. Falando em desistências, o Rio Preto, atual vice-campeão, abriu mão da vaga na A1, dando lugar ao Internacional. Uma das melhores equipes femininas, o Kindermann já fez isso uma vez e este ano levará as cores do Avaí.
Há quem tenha recorrido para as parcerias com equipes já existentes. O cenário inicial preocupa, já que essa decisão, em algumas das situações, parece apenas um caminho mais rápido para não precisar investir de fato na modalidade.
Porém, isso pode se tornar algo positivo. O Corinthians, atual campeão brasileiro, por exemplo, teve uma parceria com o Audax até o início de 2018 e hoje já caminha com as próprias pernas de forma eficiente e vencedora. Os times que tem vínculos são Flamengo, Fluminense, São Paulo, Palmeiras, Atlético-MG, Goiás, Bahia, Ceará, Athletico-PR, Avaí e Chapecoense. O Botafogo disputará o Brasileiro, mas ainda não apresentou o projeto.
O futebol feminino é uma das modalidades que mais sofrem com a falta de investimento no Brasil. Além da luta para ter um espaço minimamente aceitável ser considerada ainda muito recente para a história, o preconceito com a participação das mulheres no esporte ainda afasta publicidade, patrocinadores e a visibilidade das partidas. Fazem apenas 40 anos que a prática da modalidade (entre outros esportes) foi liberada por lei no Brasil. Isso também explica o atraso e a resistência.
Quando Marta foi eleita a melhor jogadora do mundo pela primeira vez, em 2006, ela já estava jogando no futebol sueco. Na época ainda não havia uma competição nacional para as mulheres no país. A Copa do Brasil feminina começou apenas no ano seguinte e o Campeonato Brasileiro em 2013. A Copa acabou em 2017 para iniciar o Brasileirão no modelo atual.
A Série A1 do Campeonato Brasileiro começa no próximo dia 16. Os clubes irão se enfrentar em turno único e os oitos melhores se classificam para a fase seguinte. A partir da segunda fase – as quartas de final – os confrontos serão disputados em jogos de ida e volta até a final da competição. Os quatro últimos colocados ao final da primeira fase serão rebaixados à Série A2 de 2020.