Um Tigre ferido! Veja fatores que levaram o Criciúma ao seu inédito descenso no Catarinense

Equipe não se encaixa e, rebaixada tendo apenas uma vitória em 11 jogos, ofusca temporada que previa celebração pelos 30 anos do título da Copa do Brasil de 1991

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Em 1991, o Criciúma fazia história ao superar o Grêmio na final da Copa do Brasil e garantir uma das vagas na Copa Libertadores do ano seguinte. Contudo, passados 30 anos, o Tigre sofreu sua maior ferida em campo: a derrota por 1 a 0 para o Avaí, na última quarta-feira, em pleno Heriberto Hülse, levou a equipe a um inédito rebaixamento no Campeonato Catarinense. As mudanças bruscas na gestão e o atropelo ao formar o elenco custaram caro.

- O Criciúma tinha seu futebol gerido por uma empresa e o acordo ia durar até o fim de 2022. Só que o presidente anterior (Jaime dal Farra) decidiu renunciar no ano passado e, além disto, rescindiu o contrato com a empresa. Os conselheiros definiram que alguém iria assumir a presidência, o Moacir Fernandes, mandatário campeão da Copa do Brasil de 1991 chegou a pensar em assumir o posto, mas não foi à frente. Por fim, eu aceitei o cargo, com a condição de que o (Waldeci) Rampinelli estivesse no posto de diretor de futebol - afirmou ao LANCE! o presidente Anselmo Freitas.

O dirigente, que chorou no dia anterior em entrevista coletiva após a queda de divisão ser sacramentada, foi categórico. Ao L!, Freitas afirmou que desde primeiro de janeiro de 2021, quando assumiu o "mandato-tampão", teve de arregaçar as mangas.

- Eu ficaria mais à frente da parte financeira do Criciúma, enquanto o Rampinelli, o (gerente de futebol) Giuliano Bittencourt e a comissão técnica fossem os responsáveis pela montagem do elenco. Precisávamos ser rápidos e tínhamos um árduo desafio: o Jaime deixou as contas pagas, mas o caixa completamente zerado - disse.

'CASCUDO' HEMERSON MARIA NÃO AJUDA ELENCO A FUNCIONAR

Hemerson Maria não conseguiu ajustar equipe carvoeira (Divulgação / Twitter Criciuma)

O Tigre recorreu a um treinador que consegue bem os atalhos do Campeonato Catarinense. Campeão da Série B do Brasileiro pelo Joinville, com um título estadual pelo Avaí e passagens por Figueirense e Avaí, Hemerson Maria encontrou no Heriberto Hülse uma missão ingrata.

- Formamos o plantel praticamente do zero. Contratamos sete jogadores para formar uma espinha dorsal, também subimos sete da base e fomos montando, pouco a pouco, o elenco... Tudo isto a toque de caixa e com o objetivo de ficar entre os oito para irmos às quartas de final da competição - afirmou Waldeci Rampinelli, que deixou o cargo de diretor de futebol logo após o revés para o Avaí.

O mandatário Anselmo Freitas reconhece que houve dificuldade para encontrar os nomes ideais.

- Trouxemos alguns atletas que realmente foram apostas, mas todos passaram pelo aval da diretoria de futebol e alguns foram pedidas pelo Hemerson Maria e por sua comissão técnica - afirmou.

Porém, os resultados não vieram. Passados sete jogos no Catarinense, com incríveis três empates e quatro derrotas, Hemerson Maria foi demitido. Sua última partida no comando da equipe foi a derrota por 1 a 0 para o Próspera, no Heriberto Hûlse. Curiosamente, o adversário era comandado por Paulo Baier, ídolo do Criciúma.

O L! procurou Hemerson Maria para falar sobre sua curta passagem no Tigre. Porém, via sua assessoria de imprensa, o treinador informou que não queria se manifestar. 

Repórter da Rádio Massa FM Criciúma, Rogério Dimas crê que alguns fatores anunciavam a tragédia da equipe.

- Além do Criciúma ter contratado a toque de caixa, foi pouco de tempo de preparação. A equipe começou a se preparar faltando um mês para o Estadual. Além disto, houve reforços que chegaram com a competição em andamento e alguns atletas não tinham qualidade - apontou.

MUDANÇA DE COMANDO NÃO EVITA O DESCENSO

Criciúma empata com Concórdia, rival direto na luta contra o descenso, e começa a selar sua queda (Celso da Luz/www.criciuma.com.br)

Com a saída de Hemerson Maria, o Tigre recorre a uma solução caseira. Campeão da Copa do Brasil de 1991 e de diversos estaduais, Wilson Vaterkemper é efetivado como treinador nas últimas partidas. O alento veio na nona rodada: uma vitória por 2 a 0 sobre o Metropolitano, que foi último colocado.

Só que o descenso começou a ser desenhado na rodada seguinte. Com atuação ruim, o Criciúma só ficou no 0 a 0 diante do Concórdia, seu adversário direto na luta contra a degola. O clássico diante do Avaí ganhou proporções dramáticas.

Desperdiçando algumas chances, o Tigre amargou a derrota por 1 a 0, sacramentado por um gol de pênalti convertido por Diego Renan. A equipe carvoeira, na penúltima colocação, ficou com o penúltimo lugar e, em 2022, disputará a Série B do Estadual.

Ex-diretor, Waldeci Rampinelli falou sobre o desafio do clube recolher os cacos.

- Fizemos um planejamento e não dá para saber como esta equipe não se adaptou, não se encaixou. Talvez tenhamos feito contratações infelizes, errado na preparação. Não esperávamos uma situação como esta. Eu sequer me coloco à disposição para a sequência da temporada - e frisou:

- Espero que não coloquem a culpa nos jogadores da base - completou.

O presidente Anselmo Freitas não mediu palavras ao falar sobre como a fraquíssima campanha do Criciúma no Campeonato Catarinense ecoou no Heriberto Hülse.

- Estamos reavaliando tudo o que ocorreu até aqui com a equipe. É meu pior momento como torcedor, como presidente. Vamos nos reforçar para na Série C nos reerguermos depois desta frustração no Catarinense - declarou.

CONTRASTE COM A CAMPANHA ATUAL NA COPA DO BRASIL

Tigre superou Marília e Ponte Preta na competição nacional (Celso Luz/Criciúma)

Curiosamente, a Copa do Brasil tem sido um leve alento para o Criciúma em meio a este amargo primeiro semestre. A equipe catarinense se classificou nas duas primeiras fases da competição.

Primeiramente, a equipe empatou em 0 a 0 com o Marília no Kleber Andrade sob o comando de Hemerson Maria. Depois, com Wilson Vaterkemper, empatou em 1 a 1 no tempo normal com a Ponte Preta, venceu por 5 a 4 nos pênaltis em seus domínios.

- Não entendemos como isso. Chegamos às 32 equipes e lembro que, quando superamos a Ponte Preta, vimos comentários sobre surpresa com o nosso rendimento. Teremos sorteio da Copa do Brasil amanhã (sexta-feira) para sabermos quem será nosso adversário - disse Anselmo Freitas.

Já Waldeci confessa que faria uma "troca" em relação à campanha do Criciúma. 

- Nossas classificações na Copa do Brasil ajudaram os cofres do Criciúma. Mas isso representa muito pouco, ao menos para mim. Eu preferia que tivéssemos garantido a permanência - declarou o ex-diretor.

PRÓXIMOS PASSOS DO TIGRE NA TEMPORADA

'Temos de apagar esta mancha', diz Anselmo Freitas (Divulgação / Twitter Criciuma)

O mandatário Anselmo Freitas faz sua projeção para a sequência da temporada do Tigre. Aos seus olhos, há uma série de desafios para a disputa da Série C do Brasileiro.

- Nossa intenção é apagar esta mancha do descenso à Série B do Estadual e nos reforçarmos bem para a disputa da Série C. A Copa do Brasil já é um caminho. Também temos uma estrutura muito grande aqui no Heriberto Hülse, não só para a equipe masculina, mas também para abrigar categorias de base, a equipe feminina de futebol... Dentro de campo, tivemos este rebaixamento, mas não merecíamos, por tudo que fazemos, pois formamos os atletas para que eles permaneçam aqui - ressaltou.

O planejamento passa por trazer um novo executivo de futebol. O mandatário acenou qual é o perfil ideal para o Tigre.

- Queremos um executivo com trânsito na Série B, na Série C, na Grande São Paulo, que possa nos ajudar a qualificar o elenco para buscarmos tanto o acesso quanto o título - destacou.

Técnico na reta final do Estadual, Wilson Vaterkemper não está descartado.

- O Wilsão está de folga hoje (quinta-feira). Devemos conversar à tarde amanhã. Ele concordou em fazer parte desta transição - disse o dirigente.

CAMPEÕES DA COPA DO BRASIL DE 1991 AFIRMAM: 'SEM CLIMA PARA FESTA'

'Essa queda atinge todos nós', diz Sarandí, que foi lateral da conquista do título (Foto: Divulgação)

O rebaixamento no Campeonato Catarinense amargou uma comemoração que estava marcada entre os torcedores do Criciúma. Heróis da conquista da Copa do Brasil, principal título nacional da equipe carvoeira, não escondem a tristeza pelo desempenho atual da equipe.

Um dos destaques ofensivos do time comandado por Luiz Felipe Scolari há 30 anos, o atacante Jairo Lenzi foi taxativo.

- A gente não queria comemorar esta data com o Criciúma passando por um momento tão triste. Achávamos que a equipe poderia se salvar, por toda a estrutura que tem,  com um tratamento de primeira linha. Mas as coisas não funcionavam em campo - disse.

Em seguida, o ex-atacante lamentou-se pela maneira como a equipe foi conduzida no Estadual.

- O Criciúma é um time grande em Santa Catarina. Com o Wilsão, foi o último respiro. Não dava para deixar para o último respiro, jogar para não cair. Além disto, a equipe jogou muito mal contra o Concórdia, que era a última chance e ficou precisando de um gol. É uma condição muito ruim para a história do Tigre - desabafou.

Lateral-direito da campanha da Copa do Brasil de 1991, Sarandí também não mediu palavras. 

- Essa queda atinge todos nós, tanto atletas, quanto dirigentes quanto torcedores. Mas é um rebaixamento que expõe a desestruturação do futebol e que não aconteceu da noite para o dia. O futebol não recebeu um cuidado especial, mesmo sendo a principal modalidade do Criciúma - declarou. 

O ex-jogador apontou outro fator determinante para o rebaixamento do Tigre.

- O Criciúma passou por mudanças constantes, principalmente de executivos e atletas. Eu fiz parte do departamento de futebol profissional e depois, entre 2012 e 2013, das categorias de base (como diretor executivo). Neste período, vi muito uma falta de continuidade. Para completar, clube negociava os seus jovens - lamentou.

Sarandí ainda falou sobre a proximidade da celebração da Copa do Brasil de 1991, que aconteceu em 2 de junho.

- A gente não pode ficar somente com o que viveu há 30 anos. Essa queda tira um pouco do brilho. O Criciúma tem de saber se recuperar. A gente tinha as comemorações pensadas para esta conquista, mas não há clima para festa - disse. 

A nova gestão tem um desafio árduo para fazer o Tigre se reencontrar de fato.

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