Nesta quarta-feira, está em jogo no Allianz Parque uma invencibilidade de 28 jogos do Palmeiras em seu estádio contra outro de 26 partidas sem perder no ano, do Corinthians. É o segundo Dérbi de 2017, o primeiro após o clássico ter se tornado centenário em 6 de maio. Mais de cem anos depois do primeiro jogo, o clássico que abriu caminho para uma das maiores rivalidades do futebol mundial ainda vive na cidade de São Paulo com nomes como Amílcar Barbuy Filho, de 92 anos, e Marcelo Grimaldi, de 29 anos de idade.
Seu Amílcar é filho de Amílcar Barbuy, responsável por jogar no ataque e comandar o Corinthians no dia 6 de maio de 1917 no campo da Antarctica. Do lado verde, Marcelo é bisneto de Attilio Grimaldi, zagueiro do Palestra Itália naquela tarde de domingo e que saiu vencedor pelo placar de 3 a 0, graças aos três gols de Caetano.
- Meu pai era um sujeito reservado. Falava pouco, mas tinha firmeza e autoridade. Como não existia a função de técnico e ele exercia essa liderança, também era o responsável por comandar o Corinthians. Foi assim no primeiro jogo contra o Palestra. Em casa ele era igual, firme e líder. Quando era criança eu podia fazer tudo, menos o impossível - recorda Amílcar, com um largo sorriso no rosto ao falar da personalidade do pai dentro e fora de campo.
Por mais que tenha defendido o Corinthians no encontro inicial contra o rival, Amílcar também teve ligação com o Palestra desde o início. Por ser "oriundi", descendente de italianos, ele participou da fundação do Palestra Itália e esteve em campo no primeiro jogo do novo clube, na vitória sobre o Savóia, em janeiro de 1915 em Votorantim. A ligação voltaria a ser maior oito anos mais tarde por conta de uma situação inusitada.
'Eu nasci em 1925, quando o meu pai já era verde, mas fiquei preto e branco. Jamais vou saber porque nasci corintiano', Amílcar
Um dos primeiros ídolos do Corinthians, Amílcar conseguiu com que o pai, Giovanni Barbuy, assumisse o bar da sede social do clube. Mas em 1923 a sede corintiana mudou de local e Giovanni perdeu o espaço. Inconformado, Amílcar deixou o Corinthians e se transferiu para o Palestra, onde ficou até 1930. Sempre líder, foi capitão da equipe verde e branca enquanto esteve lá.
- Eu sou corintiano, mas tenho grande simpatia pelo Palestra. O que eles fizeram pelo pai foi importante. Na verdade, quando teve o problema com o bar lá no Corinthians e meu pai decidiu sair, ele achava que o clube iria chamar ele de volta, mas não aconteceu. Daí ele foi para o Palestra e acabou enterrado com a bandeira do Palmeiras quando morreu em 1965 - lembra Amílcar, que tem filhos e netos palmeirenses apesar da ligação com o rival.
Chamado por Benito Mussolini para jogar e comandar a Lazio, Amílcar viveu na Itália com a família entre 1930 e 1932. O período só não foi maior porque a esposa sentiu saudade da família e não se adaptou ao frio europeu. Amílcar também defendeu a Seleção Brasileira e foi campeão Sul-Americano de 1919 e 1922. O filho guarda a camisa usada na competição de 1919 como uma das principais lembranças deixadas pelo pai.
Se do lado preto da rivalidade a lembrança é da primeira geração, do lado verde é da terceira. Marcelo Grimaldi, aos 29 anos, é bisneto de Attilio Grimaldi. Zagueiro, ele formou dupla com Bianco no Palestra Itália.
- Desde garoto eu ia na casa da minha avó e via um quadro do meu bisavô com o uniforme. Meu pai sempre falava da história dele e quando cresci entendi o que aquela imagem representava - diz Marcelo, sócio do clube e também sócio-torcedor do Palmeiras.
- Sempre fui palmeirense e procuro ir nos jogos com o meu pai. Palmeiras e Corinthians é outro campeonato para mim. Na vitória do ano passado com o gol do Cleiton Xavier eu já havia comprado ingresso e ele não pôde ir. Fui com a minha esposa e pedi para ela não usar nenhuma peça de roupa preta. Na hora de sair para o estádio, estava vestida de verde e com meia branca porque na manhã daquele dia vimos uma matéria na TV que contava a história da final de 1993. Pura superstição. Ainda bem que deu certo e vencemos - conta Marcelo.
'Dá orgulho ver meu bisavô. Tenho tatuagem da cruz de Savóia na perna. Levo na pele a marca que ele levou no peito pelo Palestra', Macelo Grimaldi
Cheio de recortes do bisavô, o palmeirense lamenta não ter nenhuma camisa usada por Grimaldi nos tempos do Palestra Itália e invariavelmente questiona a avó para saber se não há nada em meio aos registros guardados:
- Sempre tive coleção de camisas do Palmeiras, mas nenhuma dele. Quando vou até a casa da minha avó eu pergunto se ela não tem nenhuma lá.
Depois de encerrar a carreira, Grimaldi ainda tornou-se árbitro de futebol.
Quem são eles:
Amílcar
Nome: Amílcar Barbuy
Nascimento: 29/4/1893 (Rio das Pedras-SP - hoje é Piracicaba)
Falecimento: 24/8/1965
Jogos e gols pelo Corinthians: 210 jogos / 89 gols
Anos no Corinthians: Entre 1913/1923
Jogos e gols pelo Palestra Itália: 100 jogos / 11 gols
Anos no Palestra Itália: 1915 e 1924/1930
Grimaldi
Nome: Attilio Grimaldi
Nascimento: 15/8/1896 ( São Paulo)
Falecimento: 6/9/1958
Jogos pelo Palestra Itália: 114 / não marcou gol
Anos no Palestra Itália: 1916/1924