Deputado estadual, Pedro Fernandes defende uma política de austeridade para o Rio de Janeiro possa sair da realidade em que se encontra. Candidato ao Governo pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista), ele pensa em diminuir secretarias e gastos em cargos comissionados para investir em áreas que aponta como essenciais. No caso do Maracanã, analisa dar oportunidade para que os clubes possam administrar o estádio e pensa na volta da "geral".
Em relação ao legado da Rio-2016, com o Governo Federal e Municipal levando à frente, acredita não ser prioridade para o Estado, mas afirma que poderá ajudar na fomentação da prática esportiva.
Pedro Fernandes recebeu o LANCE! para mostrar como o esporte pode fazer parte de uma possível gestão.
LANCE! - Por que se candidatar?
Pedro Fernandes: Acho que, como qualquer cidadão do Rio de Janeiro, nós ficamos muito tristes com a realidade que o Estado enfrenta. Quase 1,3 milhão de desempregados, pessoas que saem todos os dias de casa para buscar a dignidade de suas famílias e, por conta de uma má gestão, temos essa recessão, essa não política de desenvolvimento econômico, que é tão necessária aqui no Estado. Se tem cerceado o direito de ir e vir. A gente morre de medo quando sai de casa, sem ter a certeza de que vai voltar com segurança. Temos uma política desastrosa de manutenção de regalias e mordomias no serviço público, bancados pela população, e isso é uma ideologia que nós já defendemos há muito tempo. Tenho muito orgulho de ter sido o único deputado que abriu mão de todas as regalias e mordomias às quais um deputado tem direito. Nem carro oficial eu uso porque entendo que as pessoas já pagam o meu salário e o salário de deputado é o suficiente para eu ter meu carro, minha gasolina, minha moradia ou qualquer coisa neste sentido.
Sei que não é isso que vai resolver os problemas do Estado, mas essa, sem dúvida nenhuma, vai ser a principal ação, a primeira ação, para que possamos dar o exemplo, vindo de cima, começando pelo governador, para ir cortando tudo que não é essencial no estado do Rio, para que possamos ter recursos para educação, segurança pública, saúde, atividades de esportes e cultura. Enfim, tudo aquilo que for essencial.
Garanto que é só não roubar, não deixar roubar e administrar bem o dinheiro público, que vai sobrar dinheiro para que possamos avançar nisso. A gente gasta mais de R$ 1,2 bilhão com cargos comissionados e gratificações especiais que nada mais são, na maioria, cabides de emprego. Gastamos mais de R$ 2 bilhões com contratações terceirizadas, que também podem ser reduzidas sem causar impacto para a população. Gastamos R$ 200 milhões com posto-vistoria do Detran que não serve para nada, a não ser extorquir a população, incomodar a população. Temos a proposta de pegar esses R$ 200 milhões para implementar o contra-turno em 500 escolas já existentes no Estado para transformar em horário integral. Desafio nosso é fazer com que a escola seja mais atrativa, reter o aluno, e o esporte, sem dúvida, vai ser uma instrumento para fazer essa diminuição da evasão escolar.
Hoje, 65% dos presos do estado do Rio de Janeiro não têm o ensino fundamental completo, 83% dos jovens que deram entrada no Degase, os menores infratores, evadiram da escola porque o estado não tem a capacidade de reter esse aluno, de gerar oportunidade para esse aluno. Sou faixa preta de jiu-jitsu, fiz artes marciais a minha vida inteira e vou colocar, além dos esportes tradicionais, as artes marciais em todas as escolas de ensino médio do Rio de Janeiro por entender a importância que a arte marcial tem na ajuda da disciplina, da hierarquia, de cobrar o resultado e desempenho. É muito importante avançarmos nisso para ter outros exemplos que não apenas o do traficante da comunidade, mas também o do professor, do instrutor de esportes. Dinheiro tem no estado, precisamos é estabelecer prioridades.
"Apresentei um projeto na Alerj para autorizar retirar uma parte das cadeiras para voltar a "Geral". No meu governo, vai voltar a ter "Geral" no Maracanã. Acho isso importante para, inclusive, facilitar o barateamento dos ingressos"
Quais os projetos para a gestão do Maracanã?
Primeira coisa é achar um caminho jurídico para romper esse contrato com a Odebrecht. A minha opinião, e vou trabalhar neste sentido, é a de abrir oportunidade aos clubes ou algum clube do Rio administrar o Maracanã. Tenho conversado muito com o presidente do Flamengo (Eduardo Bandeira de Mello) sobre isso. Flamengo tem interesse em administrar o Maracanã. Inclusive, apresentei um projeto na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) para autorizar retirar uma parte das cadeiras para voltar a "Geral". No meu governo, vai voltar a ter "Geral" no Maracanã. Acho isso importante para, inclusive, facilitar o barateamento dos ingressos, mas acho que não cabe à Odebrecht, mas sim a algum clube fazer a administração do Maracanã. O Flamengo já demonstrou interesse . Não sei se outros clubes também terão interesse em participar desta disputa, mas, certamente, será aberta a todos.
E para o Célio de Barros e o Júlio Delamare?
São importantes. É um legado histórico. O Célio de Barros é o Maracanã do atletismo. Se por algum motivo isso for inviabilizado, temos de ter a contrapartida para quem for assumir o Maracanã, faça um outro estádio para não perdermos esse instrumento importante de potencialização de atletismo no Rio de Janeiro. Atletismo, inclusive, nos Jogos Olímpicos, sempre foi motivo de orgulho para o Brasil e temos de potencializar isso. Será sempre um instrumento a mais para a gente avançar em relação à criminalidade, pegando essas crianças e gerando oportunidades através do esporte. É possível! De preferência, mantê-los ali. Se, por algum motivo, não puder, temos de chamar todas as entidades, conversar e, se aceitarem, fazer um outro equipamento em outra área da cidade. Não vejo dificuldade neste sentido.
Quanto à Aldeia Maracanã, algo especial?
Temos de ter diálogo com eles. O ideal é que pudéssemos encontrar um caminho de ter esse equilíbrio de eles viverem em tranquilidade e, ao mesmo tempo, a sociedade também ficasse satisfeita com o resultado da negociação. O que não dá para fazer é truculência. Isso não vamos fazer. O que vamos fazer, logo no primeiro dia, é abrir o diálogo para ver se existe o interesse de abrir uma outra área ou mantê-los ali. Não dá para ficarmos do jeito que está. Temos de buscar um caminho e pode ser, perfeitamente, embutido no processo de licitação a restauração ou melhor utilização daquele espaço.
"Com toda a sinceridade, acho que essa não é a prioridade. O Estado, hoje, vive uma dificuldade financeira significativa. Se o Município e o Governo Federal têm condições de avançar nesse processo, acho que o Estado poderia ser um fomentador"
No início, não havia a previsão de o Estado fizesse a gestão das arenas do legado da Rio-2016, mas, de alguma forma, pode se envolver?
Com toda a sinceridade, acho que essa não é a prioridade. O Estado, hoje, vive uma dificuldade financeira significativa. Se o Município e o Governo Federal têm condições de avançar nesse processo, acho que o Estado poderia ser um fomentador maior de entrada nas escolas, comunidades... Detectar os novos talentos e encaminhar para essas áreas de alto rendimento. Acho que o Estado tem de focar nas escolas, fazer atividade esportiva e cultural nas escolas, comunidades, periferias para que possamos fazer com que o esporte seja um dos caminhos para reverter esse problema de segurança pública que temos. Não será só com isso que vamos resolver o problema, mas será um dos pilares para que possamos avançar. Gerar oportunidade de ocupar a cabeça dessa garotada, de ser uma referência na vida dessas pessoas. Acho que é um caminho que a gente acredita.
Há algum projeto específico em relação ao Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios)?
Rio de Janeiro é um fomentador e tem a capacidade, como poucos lugares, de receber a quantidade de grandes eventos que recebemos e podemos receber. Naturalmente, temos de estar preparado, não só para idealizar o evento, mas proporcionar segurança do evento e das pessoas. Esse é um desafio que temos de avançar porque o turismo é muito pouco explorado no Rio de Janeiro. Precisamos avançar nesse processo e garantir segurança nos eventos. É um passo importante para que voltemos a ter credibilidade de atrair turistas. Temos uma beleza natural que nenhum outro lugar tem, temos estrutura e condições de fazer um calendário de eventos significativo, que vai ser uma das formas de gerar emprego, gerar renda para o Estado. Obviamente, a segurança pública passa por isso. Pode ter o lugar mais lindo do mundo, a melhor estrutura do mundo, se as pessoas não se sentem seguras de ir, se não consegue desempenhar um evento com sucesso, vamos cada vez mais ter dificuldade em trazer turista. Então, logicamente essa é uma preocupação. Gepe tem esse "know-how" há bastante tempo, de lidar com os grandes eventos. Isso será muito importante não só para o futebol, mas também para todos os eventos no Rio.
"Tudo que é parceria será muito bem-vinda. O Estado passa por uma crise financeira enorme e terá muita dificuldade de caminhar sozinho. (Parceria) Não só com os clubes, mas com a iniciativa privada, explorando e dando a ela a oportunidade de explorar publicidade"
A Secretaria tem alguns projetos em parceria com os grandes clubes. Como enxerga isso?
Tem de ampliar isso. Tudo que é parceria será muito bem-vinda. O Estado passa por uma crise financeira enorme e terá muita dificuldade de caminhar sozinho. (Parceria) Não só com os clubes, mas com a iniciativa privada, explorando e dando a ela, juntamente com a prefeitura, a oportunidade de explorar publicidade. Temos de trazer a parceria público/privada para todos os setores. Todos que quiserem adotar um projeto, avançar... E o poder público tem de dar a contrapartida, como a exploração de publicidade. Podemos avançar em outras áreas também. O que falta, hoje, é iniciativa. Da mesma forma que avançaram na segurança, com a Fecomércio, podemos elaborar projetos como esse na área de esporte. Por isso, meu secretário vai ter esse perfil, de pessoas que saem da zona de conforto para buscar parceria, buscar recurso. Se formos esperar cair no colo, teremos muitas dificuldades. Qualquer empresa será muito bem-vinda em fazer uma parceria e ampliar projetos. E temos de buscar a prefeitura porque tem de ser uma coisa que tenha retorno para a empresa também. Não podemos ser hipócritas de falar "Aqui é um projeto social da empresa". Se for só isso, bacana, mas se pudermos proporcionar algum tipo de ganho direto para essas empresas também, acho que será importante. É custo zero para o Estado permitir uma determinada publicidade. Claro que tem de ter o cuidado com a poluição visual, mas se puder no alambrado da quadra de futebol, colocar lá uma publicidade da empresa. Em contrapartida, ela bancar o professor, o material para fazer uma escolinha de futebol, um projeto de jiu-jitsu.
Em maio, foi criado o Conselho Estadual do Futebol Masculino e Feminino do Rio de Janeiro (Conefut-RJ). Há algo visando esse conselho?
É uma oportunidade da sociedade civil monitorar o Estado. Sempre que tem a participação da sociedade civil, eu sou favorável ao processo. Acho que o grande problema, este alto número de corrupção, gasto do dinheiro público é justamente porque não se tem transparência no processo e a população não participa diretamente. No nosso governo, vamos fazer uma proposta de transparência absoluta e de participação direta da população. Todo mundo vai saber exatamente onde está sendo gasto cada centavo. Todos os Conselhos serão muito bem-vindos. Acho importante não só pela parte consultiva, mas principalmente pela fiscalização da execução da política de Estado que vai ser estabelecida.
E em relação aos projetos socioesportivos junto à Suderj, o que se é imaginado?
Estado vai ser o fomentador de atividade esportiva e cultural. Não interessa se será pela Suderj ou qualquer outro órgão do Estado. Temos de fazer uma política pública de Estado. Não podemos fazer algo específico sobre A, B ou C. O que vamos fazer é uma austeridade séria. Vamos cortar de 18 secretarias para seis. Então, não me importa saber, neste momento, qual órgão vai executar. Estamos fazendo uma política de Estado. Temos de pensar macro neste momento, estabelecer prioridades. Muito vai ter de ser revisto. Existe muito gasto desnecessário, excesso de cargo comissionado, excesso de pessoal...
A Secretaria tem parcerias com outras Secretarias que não estão ligadas diretamente ao esporte, como a com o Novo Degase e o programa Novo Plano Juventude Viva. Como enxerga o papel do esporte como oportunidade de uma melhora de vida?
Primeiramente, temos de falar de integração. É muito importante, tanto a parte de esporte, quanto de cultura e educação estarem inseridas no Degase. Existe uma grande discussão se o Degase tem de ir para a Secretaria de Segurança Pública ou se tem de manter na Secretaria de Educação. Essa não é a discussão prioritária, em minha opinião. O que temos de nos preocupar não é onde o Degase está, e sim como vamos conseguir integrá-los para gerar a ressocialização, que é o mais importante. Infelizmente, temos uma cultura hoje de depósito de menores infratores no Degase da mesma forma que temos depósito de presos em nossos presídios. Temos de gerar oportunidade porque essas crianças ficaram um tempo no Degase e depois vão sair. E essa tem de ser nossa preocupação, como fazer para que ele não entre e saia pior do que entrou, como é a realidade que temos hoje? Como disse, esporte é um fomentador importante de transformador na vida dessas pessoas.
O pessoal que trabalha comigo sempre fala que não posso ficar dando meus exemplos porque eu não reflito a realidade da população. Tive oportunidade de nascer em uma família estruturada, estabilizada financeiramente e tudo mais, mas eu, como muitos jovens e crianças, tinha problema de comportamento na escola. O que não é motivo de orgulho para ninguém. Depois que entrei para as artes marciais, passei a fazer esporte, o meu instrutor me deu essa disciplina, que acho que tem de ser um instrumento complementar do professor em sala de aula. Estou dando exemplo de esporte, mas isso serve para a parte cultural também. É preciso criar mecanismos de atrair o jovem que está na escola. Esporte vai ser uma ferramenta muito importante para que possamos reduzir a evasão escolar e, acima de tudo, ajudar na questão da disciplina, do respeito das pessoas. Fazer com que essas crianças e adolescentes sejam pessoas melhores. Novo objetivo é fazer com que eles paguem pelo crime que cometeram, mas mostrar que existem outras possibilidades na vida além do crime organizado. Além do esporte, a gente complementa com qualificação profissional, faça uma inserção deles no mercado de trabalho gerando uma oportunidade que será muito importante para ele não se voltar ao mundo do crime.
Bate-bola com Pedro Fernandes
Pratica ou praticou algum esporte?
Faço artes marciais minha vida inteira. E joguei muito bola também (risos). Agora estou com o quadril operado e não estou podendo brincar.
Um ídolo no esporte
Sou muito fã do Hélio Grace. Não só pelo jiu-jitsu, da equipe Grace, mas por tudo que representou. Sem dúvida, é um grande exemplo. Por ser flamenguista, Zico também. Não tem como fugir.
Lembrança que tenha ligação com o esporte
A transformação que teve na minha vida, como cidadão. Me deu disciplina, respeito. Tenho total noção e gratidão ao jiu-jutsu na minha vida pela transformação que fez ao cidadão Pedro
Time do coração
Flamengo.
Quem é:
Nome completo: Pedro Henrique Fernandes da Silva (PDT)
Vice: Dr. Julianelli (PSB)
Data de nascimento: 22/04/1983
Coligação: Renovar para mudar - PDT / PSB
Ocupação: Professora de Ensino Superior
Valor em bens declarados: R$711.000,00
*Nesta quarta-feira, acompanhe a entrevista com o candidato Romário Faria, do PODEMOS