E(L!)eição RJ – Tarcísio Motta: ‘Precisamos popularizar o Maracanã’
Vereador, candidato ao Governo pelo PSOL, faz críticas ao gasto feito com a Olimpíada Rio-2016 e garante que o Estado pode auxiliar em uma melhor utilização do legado
A mudança no Rio desejada por Tarcísio Motta, candidato ao Governo pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), segundo ele, passa pelo esporte. Ele enxerga a possibilidade de fazer no Complexo Maracanã um espaço para popularizar o esporte a cultura. Além disso, pretende auxiliar na caminhada para uma melhor utilização das arenas da Olimpíada Rio-2016, ao qual chamou de "mentira vendida à população do Rio".
Tarcísio pretende ainda fazer com que os membros do Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios) não sejam formados para o confronto e, sim, para levar segurança aos torcedores que vão aos estádios.
O vereador atendeu à reportagem do LANCE! para conversar sobre assuntos relacionados a esportes em uma possível gestão do Rio.
LANCE! - Por que se candidatar?
Tarcísio Motta: Viemos de uma tradição de que queremos construir um Rio melhor para quem trabalha, para quem vive do próprio trabalho, porque a gente, em determinado momento da vida, não só minha como de todo mundo que está junto com a gente, resolveu lutar por um mundo mais justo para todos e todas. Como acreditamos firmemente que o Rio tem jeito, mas não é o jeito dessa máfia, desse grupo que nos governa há tanto tempo. Como acreditamos que mudar é possível, resolvemos oferecer ao povo do Rio esta alternativa, que é uma alternativa de esquerda, comprometida com quem vive do próprio trabalho, alternativa que visa garantir os direitos das pessoas, combater as desigualdades e tornar o Rio um lugar melhor de viver para todo mundo. É por isso que sou candidato, junto com a Ivanete, minha vice, pelo PSOL.
"A realização desta auditoria tem um objetivo que é retomar a gestão pública do Maracanã e torná-lo, associado à questão do Célio de Barros e Júlio Delamare, um complexo popular de esportes do Rio de Janeiro. Inclusive, conseguindo construir uma política de ingressos mais populares"
Quais os projetos para a gestão do Maracanã?
É preciso fazer, imediatamente, uma auditoria no processo de privatização do Maracanã e nos contratos estabelecidos entre o Governo do Estado e o Maracanã. A realização desta auditoria tem o objetivo de retomar a gestão pública do Maracanã e torná-lo, associado à questão do Célio de Barros e do Júlio Delamare, um complexo popular de esportes do Rio de Janeiro. Isso significa, inclusive, conseguir construir uma política de ingressos mais populares, incluindo possibilidade da retirada das cadeiras atrás dos gols para fazer, destes, setores populares. Não é possível que a gente concorde, sem fazer nada, com esse processo de arenização do futebol brasileiro e tendo um dos principais símbolos, que é o Maracanã, como exemplo disso. Maracanã já foi exemplo de muita força popular do esporte e do futebol e, recentemente, é o símbolo da corrupção, do desvio do dinheiro público, da irresponsabilidade da máfia do Cabral, do Pezão e do PMDB. Da irresponsabilidade de mega eventos que, na verdade, não trouxeram legado algum de fato.
Você citou o Célio de Barros e o Júlio Delamare...
Precisamos retomar a gestão pública do Maracanã, recuperar e, ao mesmo tempo popularizá-lo novamente, associado a uma recuperação decisiva desses equipamentos, como o Célio de Barros e o Júlio Delamare para fazer, daquele complexo, não um complexo de negócios, mas um complexo popular de esportes para unir esporte, cultura e paixão.
E quanto à Aldeia Maracanã?
A Aldeia Maracanã é um dos pontos onde as manifestações de 2013 iniciaram e, por isso, reivindicamos a luta em defesa da Aldeia Maracanã. Ela pode muito bem estar integrada neste complexo, que pode ser um complexo de esporte e cultura. Fazer daquele local um espaço de formação de profissionais, de professores para as escolas indígenas do interior, espaço que seja, de fato, um museu das lutas dos povos indígenas, espaço de acolhimento para os povos indígenas que estão no Rio de Janeiro. Um espaço de memória de uma determinada luta é fundamental, ele não é contraditório com o que imaginamos. Célio de Barros, Júlio Delamare, Aldeia Maracanã, o Maracanã e a Escola Friedenreich precisam ser vistos de forma integrada. Nós, que acreditamos na educação integral, em uma política de esporte como direito associada à cultura e saúde, não podemos perder a oportunidade de ter ali um espaço para tornar, de fato, a vida das pessoas melhor. E o Governo Estadual tem papel fundamental.
"As Olimpíadas foram uma mentira vendida para a população do Rio, que, na verdade, aceleraram o processo de crise econômica que estamos vivendo, com altos índices de desemprego. Foi feito sem planejamento e investimento sem planejamento gera elefante branco"
No início, não havia a previsão de que o Estado fizesse a gestão das arenas do legado da Rio-2016, mas, de alguma forma, pode se envolver?
É claro que precisamos cobrar a tremenda irresponsabilidade que foi construir esses verdadeiros elefantes brancos que se tornaram, por exemplo, o Parque Olímpico e o Parque Radical, em Deodoro. É claro que é preciso cobrar do PMDB. As Olimpíadas foram uma mentira vendida para a população do Rio, que, na verdade, aceleraram o processo de crise econômica que estamos hoje vivendo. Foi feito sem planejamento e investimento sem planejamento gera elefante branco. É claro que o Governo do Estado precisa ajudar na recuperação do que foi feito com o dinheiro público. Governo Estadual pode incentivar, por exemplo, a construção de um calendário de competições esportivas no Estado inteiro que aproveite essas arenas. O Estado pode garantir a perspectiva de fazer, em parcerias público/público, esses espaços como espaços de centro de promoção de educação física e da própria cultura do esporte. Estive, por exemplo, visitando a Escola de Educação Física da UFRJ e ali, com verba da Olimpíada, foi construída uma piscina nos parâmetros olímpicos. Hoje está sem uso porque uma peça do maquinário dessa piscina é importada e o governo não dá condição para que essa peça seja importada. Esse é o tipo de coisa que o governo pode ajudar. Ao fazer um convênio com a UFRJ, por exemplo, para que possamos ter, com as escolas estaduais, a possibilidade de usar espaços, equipamentos e universidades como espaço de promoção da educação física e esporte amador. Não assumindo a gestão das arenas, mas promovendo o calendário, parcerias público/público para aproveitar esses espaços construídos, articulando com universidades, popularizando o esporte, o Estado pode ajudar.
Há algum projeto específico em relação ao Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios)?
Precisamos ter um diálogo melhor, inclusive, com o torcedor que está indo aos estádios. Do nosso ponto de vista, policiamento nunca é apenas repressão. Precisa ser diálogo com quem está vindo, precisa ser a garantia da tranquilidade do torcedor que vai ao estádio e não a criminalização desse torcedor. Esse processo de arenização levou uma política que, muitas vezes, criminaliza o torcedor ao tentar coibir aqueles crimes cometidos por determinadas pessoas que se identificam a partir das torcidas organizadas. Mas temos passado do ponto. No ponto de vista do Gepe, o que pensamos é formação em serviço. É preciso que a gente perceba que o policial do Gepe não pode estar sendo formado para a guerra, para o confronto, e sim para aquilo que é necessário, que é uma lógica de policiamento comunitário.
E em relação aos projetos socioesportivos junto à Suderj, o que se é imaginado?
A Suderj pode ser decisiva se conseguirmos recuperar a missão institucional. Há um tremendo potencial para que o esporte seja o elemento de inclusão e a Suderj pode ser o motor para isso, mas, precisamos recuperar a função dela, fazer concurso público, garantir que ela tenha essa determinada missão. Ao mesmo tempo, ela pode ser aquela instituição do estado que coordena uma iniciativa que, em nosso entendimento, é muito importante: a associação entre os clubes de bairro e as escolas estaduais. Há clubes de bairro, não só na capital, mas também no interior, que possuem algumas estruturas que estão em tremendas dificuldades financeiras. Ao mesmo tempo, temos escolas sem quadras poliesportivas, sem espaços, com quadras ruins, e o convênio com esses clubes de bairro, que são tradição no Rio, pode recuperar a garantir a relação entre educação e esporte. A Suderj também pode ser o órgão responsável por este tipo de relação, junto, obviamente, com a Secretaria de Educação. Mas ela estaria neste ponto do cadastramento, diálogo com esses clubes, contrapartidas oferecidas na lógica da relação e promoção de um calendário esportivo.
"Os clubes que já têm condições de andar com as próprias pernas e possa oferecer mais ao Estado que o Estado a eles, podemos manter esse tipo de convênio, mas precisamos estimular de fato os clubes que hoje estão em maior dificuldade financeira, onde o Estado tem mais a oferecer a eles também"
A Secretaria tem alguns projetos em parceria com os grandes clubes de futebol. Como enxerga isso?
Vamos analisar essas parcerias. Em nosso entendimento, os clubes que já têm condições de andar com as próprias pernas e possa oferecer mais ao Estado que o Estado a eles, podemos manter esse tipo de convênio, mas precisamos estimular de fato os clubes que hoje estão em maior dificuldade financeira, onde o Estado tem mais a oferecer a eles também. É a promoção da diversificação do esporte como uma política pública territorializada e não concentrada. É ruim que estejamos caminhando para uma concentração, de que os únicos clubes com força no Rio de Janeiro sejam os clubes de futebol e os quatro grandes da capital. É preciso que se fortaleça, de alguma forma, a territorialização do esporte porque isso é pensar como política pública. O Estado não tem de ter uma política pensada para os grandes clubes, mas para os pequenos. Além disso, olhar a possibilidade de outros esportes que também temos tradição, como o vôlei, que tem o centro de treinamento da Seleção Brasileira aqui no Estado, a perspectiva com o basquete, a possibilidade de conseguir utilizar os equipamentos olímpicos e o Célio de Barros para uma formação em atletismo. Popularização do esporte, mas também com a preocupação de olhar o esporte de alto rendimento. Temos de entrar nas duas dimensões, que tendem a se completar.
Em maio, foi criado o Conselho Estadual do Futebol Masculino e Feminino do Rio de Janeiro (Conefut-RJ). Há algo visando esse conselho?
Defendemos como uma das nossas principais bandeiras, desde 2014, a construção de um Conselho Estadual do Esporte. Acreditamos no Conselho de políticas públicas como elemento importante de participação da sociedade civil na definição das políticas públicas para cada área. E, neste ponto de vista, um Conselho Estadual do Esporte, que possa nos ajudar a implementar essa política de calendário de competições no Rio, relação e convênios dos equipamentos do legado olímpico, tudo isso passa por esse Conselho. Inclusive, o tipo de política que teríamos de incentivo ao futebol, em especial ao futebol feminino ou aos clubes que estão em maior dificuldade. Não passaria pelo nosso entendimento um Conselho especializado no futebol, seria uma área de um grande Conselho com a participação da sociedade civil. Esse Conefut estaria subordinado ao Conselho Estadual do Esporte
A Secretaria tem parcerias com outras áreas do Governo que não tem uma ligação diretamente com o esporte, como a com o Novo Degase e o programa Novo Plano Juventude Viva. Como enxerga o papel do esporte como oportunidade de uma melhora de vida?
Defendemos que segurança pública não é assunto só de polícia, presídio, armas e violência. Segurança pública é a garantia de que as pessoas possam ser livres, é a garantia da liberdade. Assim, usar a cultura, o esporte e a educação como políticas públicas para disputar a juventude faz todo o sentido. É preciso que a gente entenda que muitos valores estarão sendo construídos a partir da prática esportiva, da solidariedade, da colaboração, são valores que se constroem na escola, na quadra, no teatro, no cinema, na roda de leitura. O esporte pode ser um elemento de inclusão. Inclusão para uma população que hoje só tem do Estado a ponta do fuzil. Essa juventude negra e pobre que está sendo exterminada precisa ser acolhida por outras políticas públicas.
Temos a alegria de ter muito perto de nós o Clodoaldo (nadador paralímpico), que é campeão paralímpico. E ele tem nos ensinado como o esporte pode ser um instrumento importante de inclusão, inclusive, das pessoas com deficiência, que é muito importante. Como elas se integram à sociedade de forma mais plena a partir do esporte e é um absurdo que o Brasil tenha campeões paralímpicos como o Clodoaldo e tenha pouquíssimas políticas de inclusão neste sentido.
Na questão do Degase, 80% dos jovens que entram evadiram nos últimos anos. Possibilidade de usar o esporte no Degase como forma de reinclusão dessa juventude e, através do esporte, fazer com que as escolas sejam melhores e os alunos deixem de abandonar.
Bate-bola com Tarcísio Motta:
Pratica ou praticou um esporte?
Pratiquei, durante alguns anos, a caminhada. Caminhada como forma de combater algo, que é a obesidade, que é uma situação da minha vida com a qual tenho de lidar. Não por estética, mas para manter a saúde.
Um ídolo no esporte
Hoje, o Clodoaldo, sem dúvida.
Lembrança que tenha ligação com esporte
São Januário lotado na final da Copa do Brasil de 2011. A final foi em Coritiba, mas a primeira partida foi em São Januário, um jogo inesquecível. Fui de arquibancada, que onde gosto de ir, e estava com meu irmão e meu filho.
Time de coração
Vasco da Gama.
Quem é:
Nome completo: Tarcísio Motta de Carvalho (PSOL)
Vice: Ivanete Silva (PSOL)
Data de nascimento: 28/01/1975
Coligação: Mudar é possível - PSOL / PCB
Ocupação: Vereador
Valor em bens declarados: R$10.000,00
*Nesta sexta-feira, será publicada a entrevista com o candidato Wilson Witzel, do PSC