Engajamento e nova fonte de renda para os clubes de futebol: saiba o que são os fan tokens
Atlético-MG, Corinthians, São Paulo, Cruzeiro, Vasco e Flamengo são clubes que já têm definido um modelo para atrair os torcedores e obter mais dinheiro pelos criptoativos
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O mercado dos criptoativos chegou ao futebol. Clubes poderosos da Europa, como Atlético de Madrid, Barcelona, Galatasaray, Juventus, Manchester City, Milan, Paris Saint-Germain e Roma são alguns que já aderiram a esse modelo de negócio.
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De olho nesse movimento e oportunidade de novas receitas, além da aproximação com o torcedor, clubes brasileiros começaram a apostar nos fan tokens, ativos digitais voltados para o futebol. Atlético Mineiro, Cruzeiro, Corinthians, São Paulo, Coritiba e Vasco são alguns que já lançaram suas moedas, enquanto o Flamengo vai lançar a sua na próxima terça-feira (19).
Os fan tokens (FTOs) são representações digitais de ativos reais, fracionadas e protegidas por criptografia. Dessa forma, qualquer ativo do clube pode ser tokenizado e vendido em partes para pessoas interessadas.
- É uma fonte de receita com muito pouco custo aos clubes, um modelo que está ligado ao engajamento da torcida, não têm outra coisa. É um sócio-torcedor com outras características - explicou ao LANCE! Flávio Sivieiro, que trabalha na UniProof, empresa de blockchain (empresa que presta serviços de criptomoedas).
Outro aspecto positivo dos fan tokens é que não há nenhuma validade estabelecida. Enquanto a pessoa estiver em posse de um ou mais, poderá usufruir de todos os benefícios que lhe convém.
Flávio Sivieiro explicou como funciona o mecanismo de compra e venda dos tokens:
- Quando tem a oferta primária, no momento que são distribuídos ao mercado, o clube que define o preço. Ele define não apenas o valor, como também a quantidade de tokens que serão emitidos. A partir daí, você têm a plataforma de bitcoin selecionada pelo clube, e você pode vender para quem você quiser, desde que esteja cadastrado na plataforma. E aí é oferta e procura, não tem nada que define o preço, a não ser a disposição da pessoa em pagar - apontou.
Vasco, pioneiro no Brasil
Em dezembro de 2020, o Vasco foi o primeiro clube brasileiro a apostar nas fan tokens para captar novos recursos. O Cruz-Maltino se filiou à empresa Mercado Bitcoin e passou a comercializar direitos de créditos que o Mecanismo de Solidariedade garante aos clubes sobre as transferências de atletas formados na base.
Cada token corresponderá a 1/500.000 dos valores a serem recebidos pelo mecanismo de solidariedade dos jogadores*.
O Mercado Bitcoin comprou do Vasco 20% dos tokens pelo valor de R$10 milhões e receberá, adicionalmente, 5% dos tokens pela prestação dos serviços de operacionalização. O Cruz-Maltino ficará com os demais 75% dos tokens e poderá colocá-los à venda a qualquer momento após a negociação dos 20% adquiridos pelo empresa, remanescendo com uma participação mínima a todo tempo de 25%.
Dentre os 12 jogadores formados no Vasco dos quais é possível captar por meio do Mecanismo de Solidariedade estão Philippe Coutinho (Barcelona), Paulinho (Bayer Leverkusen), Allan (Everton), Alan Kardec (Chongqing Dangdai), Marrony (Midtjylland) e outros.
O Cruzeiro, com a Talentos da Toca (CRZ0), lançou um modelo parecido ao do Vasco, mas o criptoativo da Raposa é referente aos jogadores das categorias de base.
Corinthians e a interação com a Fiel Torcida
Ronaldo Fenômeno será imortalizado na sede social do Corinthians com um busto. Com 63,58% dos votos, ele superou Basílio e Gilmar dos Santos Neves na eleição, em que somente os portadores dos tokens do Timão ($SCCP) puderam participar.
Como cada unidade tem um peso. Assim, quem adquiriu mais, tem maior poder de decisão sobre o assunto colocado em votação na plataforma.
Esse é apenas um dos exemplos do que Corinthians, Atlético-MG, e futuramente Flamengo, apostam para atrair seus torcedores no mercado das fan tokens. Vale ressaltar que os três clubes citados estão filiados à empresa Sócios.com.
O clube paulista divulgou ao público o projeto em 1º de setembro, data que marcou os 111 anos de sua fundação. O primeiro dia de vendas do $SSCP foi considerado um sucesso. Em menos de duas horas, todas as 850 mil unidades disponibilizadas pela Sócios.com foram comercializadas, quebrando o recorde de vendas nacional. O sistema da empresa chegou a sair do ar por conta do tamanho da demanda.
- Venho aqui muito emocionado em nome do clube para dizer um sonoro e gigante muito obrigado. Vocês invadiram o aplicativo da Socios.com durante o lançamento da nossa FTO, o fan token do Corinthians, e o sistema ficou lento e atrasou o processo. Mesmo assim, foi um sucesso total! Toda a oferta inicial se esgotou rapidamente. Vocês mostraram mais uma vez para o mundo que, quando a Fiel se apresenta, a estrutura não aguenta - disse José Colagrossi Neto, superintendente de marketing do Corinthians, em vídeo divulgado nas redes sociais do clube.
Conforme divulgado oficialmente pelo Timão, 50% dos fan tokens foram negociados no exterior, mais precisamente em 150 países diferentes. Cada unidade foi vendida a 2 dólares (aproximadamente R$ 10).
Dessa forma, a arrecadação na oferta inicial foi de 1,7 milhão de dólares (cerca de R$ 8,7 milhões). Embora os detalhes do acordo entre o Corinthians e a Socios.com não tenham sido revelados, a expectativa é que, assim como o Galo, o Timão fique com 50% do valor gerado pelas vendas dos FTOs. Atualmente, o $SCCP está sendo negociado por 2,71 dólares (cerca de R$ 15 reais), enquanto o $GALO está saindo 2 dólares (R$ 10 reais).
Valorização dos ativos
A $SCCP possibilitou a maior contratação do Timão na temporada. Em entrevista do programa “Jogo Aberto”, da Band, Duílio Monteiro Alves, presidente do Timão, disse que a parceria com a Sócios.com ajudou na chegada de Willian.
Devido às ações envolvendo tanto o aniversário do clube quanto as chegadas de Willian e Róger Guedes, entre os dias 1º e 7 de setembro, o Corinthians foi o clube brasileiro com mais interações nas redes sociais, com 16, 9 milhões. Não à toa, durante esse período, o $SCCP registrou uma valorização superior a 100%.
Uma das grandes dúvidas que um potencial comprador pode ter em relação aos fan tokens está no retorno financeiro.
Em entrevista ao "GE", Danilo Fratangelo, gerente de Inovação do Timão, explicou como o engajamento do público valoriza os fan tokens.
- O fan token é um passe para engajar em interações com o Corinthians que envolvem escolhas, e que acontecem exclusivamente dentro da plataforma do nosso parceiro. Como muitas pessoas ao redor do mundo querem ter esse passe e desfrutar dessas interações com o Corinthians, construiu-se o ecossistema com a lógica de que esse passe possa ser comprado e revendido. A oferta inicial é o único momento em que o preço de venda é definido (no caso, U$2 cada fan token). A partir do momento posterior à oferta inicial em que o ativo é listado (no nosso caso, dia 09/09), abre-se a livre comercialização entre todas as partes que o detêm naquele momento. E a partir daí o seu preço é determinado, a cada segundo, pela quantidade de pessoas que desejam comprar em relação a quantidade de pessoas que desejam vender - ponderou Danilo.
Um mar de possibilidades
Embora os modelos de fan tokens usadas por Vasco e Corinthians sejam lucrativos e benéficos aos torcedores, Flávio Sivieiro acredita que existam diversas formas de explorar as vantagens que essa criptomoeda pode oferecer.
- Há muitas outras opções para explorar com os fan tokens. Um exemplo seria: “Quem comprar token, têm direito a cadeira cativa no estádio do seu time”. São infinitas as possibilidades. A vantagem do token que é você poder passar para outra pessoa sem consultar o clube. Quando você quer vender o título da cadeira cativa, tem que ir na diretoria do clube, trocar documentos. Com o token, é possível comercializar com mais facilidade, além de transferir os direitos que o token lhe dá. É uma espécie de título ao portador - disse.
Para Flávio, como os FTOs ainda são novos no Brasil, os clubes que não lançaram suas moedas podem analisar e explorar diferentes estratégias.
*O mecanismo de solidariedade é um direito previsto no Regulamento de Transferências da FIFA e na Lei Pelé, que foi criado no início dos anos 2000 com o objetivo de incentivar os clubes a formar atletas.
Isso permite que até 5% do valor total de cada transferência internacional e nacional de um atleta seja dividido proporcionalmente a todos os clubes pelos quais aquele atleta passou até completar 23 anos para as transferências internacionais e 19 anos para transferências nacionais.
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