Exclamações do Editor: ‘Males da dinastia na CBF são profundos, mas não incuráveis’
Se o Juizado do Torcedor do Rio der parecer favorável à ação pública que pede a anulação da assembleia que mudou as regras do jogo, tudo voltará à estaca zero<br>
O simulacro de eleição que levou Rogério Caboclo à presidência da CBF, nesta terça-feira, não é o final dessa história de terror. Se o Juizado do Torcedor do Rio der parecer favorável à a ação pública que pede a anulação da assembleia que mudou as regras do jogo, deu mais poder às federações e cassou o peso do voto dos clubes na escolha do mandatário, tudo voltará à estaca zero.
Esse, a partir de agora, deve ser o foco de quem defende um novo futebol brasileiro, em que o fortalecimento dos clubes, o incentivo às categorias de base, a transparência e democratização da gestão possam levar-nos a reduzir o abismo que nos separa do mundo civilizado da bola, a cada gestão que passa ainda mais acentuado. Os males causados pela dinastia Teixeira-Marin-Del Nero são profundos. Mas não incuráveis se de fato mudarem os ventos que sopram no palacete de cimento e vidro onde essa turma se abriga - ou se esconde – na Barra da Tijuca.
Mobilização é preciso! No âmbito político, vozes como a do deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), relator da proposta que originou a Lei do ProFut, e do senador Romário, já se levantaram denunciando como ilegal, imoral e continuista o circo eleitoral armado na terça para fazer vingar a candidatura única de Caboclo, com o respaldo interesseiro e comprometido de todos os presidentes de federação e o voto covarde de quase todos os clubes. Fantoche escolhido a dedo pelo status quo -sabe-se lá até quando continuará fiel ao criador - Caboclo assumirá o lugar de Marco Polo Del Nero, suspenso pela Fifa e impedido de sair do Brasil com medo de ser preso. É mais do mesmo.
Ao votar em branco, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, justificou que isso era o possível de fazer diante da pressão da CBF. Disse também ter medo de represálias da entidade contra o clube, assim como contra o Flamengo, que se absteve, e o Atlético-PR que sequer enviou representante. Ainda que o medo se justifique – desafiar essa gente sempre pode ter um custo – o Timão, o Mengo e o Furacão são mais fortes do que isso. Não podem e não devem intimidar-se. Podem, ao contrário, unir-se para liderar um movimento de resistência.
Até quando os clubes permitirão que seus direitos sejam cassados, que seus interesses sejam subvertidos em prol de interesses pessoais da cartolagem da CBF? A ação pública no Juizado do Torcedor é uma chance real de reverter esse cenário. Apoio da sociedade civil, do torcedor, não faltará nessa briga. A pressão faz parte do jogo. Mostrar à Justiça que uma mudança de rumo se faz necessária, e já, deve ser a prioridade de todos, Enquanto houver esperança, a luta tem de continuar.