Forte rivalidade: lembranças de 1995 dão tempero para atual final do Carioca entre Flamengo e Fluminense
Ao LANCE!, ex-jogadores recordam disputa eletrizante pelo título e trazem suas expectativas para a final do Carioca-2023. Jogo de ida acontece neste sábado (1), às 20h30
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Pelo quarto ano consecutivo, Fluminense e Flamengo irão a campo em busca do título carioca. Neste sábado (1), às 20h30, as equipes fazem o jogo de ida da final de Estadual que surge como um tira-teima histórico em torno do clássico na competição.
Enquanto a expectativa movimenta multidões, ex-jogadores do Tricolor das Laranjeiras e do Rubro-Negro resgatam ao LANCE! histórias de um dos mais emblemáticos duelos decisivos do Fla-Flu: o que definiu o campeão estadual de 1995.
+ Histórica? Ex-atletas de Flamengo e Fluminense lembram Carioca de 1991 e projetam atual final da competição
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O ELENCO ESTELAR DO FLAMENGO
Em um 1995 no qual comemorava seus 100 anos de fundação, o Flamengo não mediu esforços para montar um esquadrão capaz de conquistar tudo o que disputasse. A prova disto foi seu principal reforço: então melhor jogador do mundo, Romário desembarcou no Rio de Janeiro e desfilou de carro aberto para delírio da Nação.
O mandatário Kleber Leite garantiu a contratação do lateral-esquerdo Branco, outro tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira. Também chegaram jogadores experientes como o polivalente Válber, os zagueiros Agnaldo e Jorge Luís, além do meia William e do meia-atacante Mazinho Oliveira. Caberia a Vanderlei Luxemburgo, rubro-negro declarado e que vinha de um bicampeonato brasileiro à frente do Palmeiras, comandar a equipe que também tinha nomes como o astro Sávio e os meio-campistas Charles Guerreiro, Nélio e Marquinhos.
- Tecnicamente falando, tínhamos vários jogadores de qualidade. Romário, Sávio, Branco... Lutamos muito e foi muito bom trabalhar no clube - afirmou ao LANCE! Jorge Luís, ex-zagueiro rubro-negro.
O início de campanha do rubro-negro foi para lá de promissor. A equipe da Gávea foi líder do Grupo B nos dois turnos. Em seguida, um show de Romário levou o Flamengo a conquistar a Taça Guanabara. O Baixinho marcou os três gols na vitória por 3 a 2 sobre o Botafogo.
Com isso, a equipe comandada por Vanderlei Luxemburgo chegou ao Octogonal Final com três pontos extras. Botafogo e Vasco, por sua vez, entravam na reta final com um ponto de vantagem para cada um.
FLUMINENSE ENGRENA E VAI COM TUDO
O Fluminense continuava a sua busca por sair da fila no Campeonato Carioca. Sem títulos desde 1985, o Tricolor das Laranjeiras iniciou a competição bastante desacreditado. Sua principal novidade era Renato Gaúcho, que desembarcava nas Laranjeiras após uma passagem frustrante no Atlético-MG.
Outros jogadores conhecidos que chegaram ao clube foram os meias Ailton e Djair (todos com trajetória marcante por outras equipes do Rio de Janeiro). A equipe de Joel Santana ainda apostou em nomes menos badalados, como a dupla de zaga Sorlei e Lima, o polivalente Márcio Costa, o meia Rogerinho e o atacante Leonardo (ex-jogador do América-TR e que tinha uma passagem pelo Vasco).
- Tínhamos um grupo muito forte, muito unido. Sabíamos que entrávamos na competição como uma "quarta força", mas nossa prioridade era sempre o outro, jogávamos pelo bem do time - destacou o ex-jogador Leonardo, que se firmaria aos poucos até se tornar parceiro de Renato.
O Tricolor das Laranjeiras ainda tinha remanescentes de outras temporadas, como os laterais Ronald e Lira e o atacante Ézio.
FLA-FLUS EM 1995: MUITO ALÉM DO 'GOL DO BARRIGA'
A sensação de que Flamengo e Fluminense travariam um capítulo à parte em 1995 aconteceu ainda no primeiro turno do Carioca. Em 12 de fevereiro, Romário estreava oficialmente com a camisa rubro-negra diante de 98 mil pessoas. Porém, o camisa 11 mal teve espaço diante de um incansável Lima.
No segundo turno, os tricolores vinham em má fase diante dos embalados rubro-negros. Porém, o Fluminense freou o adversário e garantiu uma vitória por 3 a 1, com gols de Renato Gaúcho, Jorge Luís (contra) e Leandro Silva (Jorge Luís, de cabeça, fez o gol dos flamenguistas). A equipe de Vanderlei Luxemburgo conquistava pontos e terminou os turnos na liderança, mas o Fluminense tinha se saído melhor nos Fla-Flus.
Na primeira partida do Octogonal Final, o clima de decisão ganhou uma voltagem ainda maior. O Fluminense tinha quatro pontos em três jogos, enquanto o Flamengo estava com dez pontos (sete mais os três pontos extras).
Em uma etapa inicial de tirar o fôlego, os rubro-negros ficaram na frente do placar por três vezes, com gols de Mazinho Oliveira, Sávio e Marquinhos. Porém, após os gols de Ézio e Renato Gaúcho no primeiro tempo, Rogerinho fez os tricolores deslancharem na etapa final e garantirem a virada para 4 a 3. A série de resultados rendeu provocação da torcida do Fluminense nas arquibancadas.
REVIRAVOLTAS ATÉ A CONSAGRAÇÃO DO 'REI DO RIO'
O Octogonal Final guardou para a última rodada o Fla-Flu que decidiria o título carioca. Bastava um empate para o Flamengo se sagrar campeão carioca e o Fluminense tinha de buscar uma nova vitória no Maracanã.
Diante de 112 mil pessoas, os tricolores dominaram as ações no primeiro tempo e abriram vantagem com gols de Renato Gaúcho e Leonardo. Os rubro-negros retornaram do intervalo em novo ritmo e conseguiram uma reviravolta. Romário marcou seu primeiro gol na carreira contra o Fluminense. Seis minutos depois, Fabinho igualou o placar.
Os ânimos se exaltaram: o flamenguista Marquinhos e o tricolor Sorlei brigaram e foram expulsos. Logo depois, Lima e Lira também receberam cartão vermelho. A torcida rubro-negra celebrava o título quando Aílton recebeu passe pela esquerda, deixou a marcação para trás e encheu o pé.
A bola ia para fora até que, dentro da área, desviou de barriga para a rede. Enquanto os rubro-negros pediam impedimento, a torcida do Fluminense ia ao delírio com o gol da vitória por 3 a 2. O gol teve sabor de vingança para Aílton: no início de 1995, ele tentou o retorno ao Flamengo, mas o presidente Kleber Leite o preteriu, o chamando de "peladeiro".
Além de levar o Fluminense conquista do Carioca, Renato Gaúcho levava a melhor em uma curiosa disputa. O atacante, Romário e o botafoguense Túlio Maravilha travavam uma briga pelo posto de "Rei do Rio" naquele Estadual.
'A DIMENSÃO DAQUELE FLA-FLU TORNOU NOSSA CONQUISTA MAIOR', AFIRMA LEONARDO
LEONARDO
Atacante do Fluminense no Carioca de 1995
LANCE!: O que fez a diferença para o Fluminense ir se ajustando até a busca pelo título carioca?
Além da nossa união ser muito forte, tínhamos muita luta e nos respeitávamos muito. Começamos a competição com uma derrota (1 a 0 para o Madureira), o Joel (Santana) conversou com a gente no vestiário e pediu para que o grupo continuasse muito forte. O Renato Gaúcho também alertou para que ninguém se desmotivasse, pois era só a estreia e, mesmo como "quarta força", tínhamos condições de brigar com todos.
L!: A imprensa na época definiu o Fluminense como "time de operários". Condiz com o espírito que vocês tinham em campo?
Na verdade, esse rótulo foi dado em função dos jogadores não terem um status de estrela. Tinham o Lira, o Ronald, Lima... O Joel foi montando bem a equipe, fomos crescendo aos poucos até lutarmos pelo título. Mas tínhamos também alguns líderes, como o Renato, o Aílton, Djair...
L!: Como foi o desafio de entrar em campo para disputar um Fla-Flu decisivo?
Sabemos que um Fla-Flu é visto de uma forma diferente. Nos fechamos em um grupo muito forte, o Joel dizia para ficarmos sempre muito atentos. Nosso primeiro tempo foi brilhante, eles praticamente não tiveram chances. Quando tive a oportunidade, fui e tentei. Fico feliz, sou reconhecido até hoje.
L!: Onde você estava quando aconteceu o gol de barriga do Renato?
Eu já estava dentro do vestiário, fui substituído para a entrada do Ézio. Lembro que o Lira e eu estávamos acompanhando e ouvíamos o que vinha das arquibancadas. Aí, numa certa altura, ouvimos um barulho bem baixinho de comemoração. Logo depois, um segurança do Fluminense chegou e disse: "Foi gol nosso!". Fomos para a beira do campo e estávamos todos com muita ansiedade até a hora do jogo acabar. Conseguimos ser campeões, ainda mais com a dimensão daquele Fla-Flu tornou nossa conquista ainda maior.
L!: Como é fazer parte de um clássico que se tornou histórico?
Ah, é uma honra, ainda mais por toda a campanha e também pela minha história na competição. Eu não era titular no início mas, aos poucos, fui ganhando a vaga do Ézio e passei a fazer dupla com o Renato. Terminei a competição como artilheiro da equipe (com nove gols marcados), mesmo não jogando todas as partidas. Tenho o reconhecimento da torcida do Fluminense até hoje e para um tricolor desde pequeno isso é muito marcante.
'CRESCEMOS NA ETAPA FINAL, INFELIZMENTE, SOFREMOS O GOL NO FIM', RECORDA JORGE LUÍS
JORGE LUÍS
Zagueiro do Flamengo no Carioca de 1995
LANCE!: Como foi a luta da equipe para encarar aquele Fla-Flu decisivo?
Sabíamos que tínhamos jogadores com muita técnica, mas tínhamos de ficar atentos. O Fluminense vinha jogando bem, ia ser muito difícil.
L!: O Flamengo foi para o intervalo com desvantagem de dois gols. O que a equipe fez para ter uma nova postura?
Quando terminamos o primeiro tempo, tivemos uma conversa bem grande, bem franca. Inclusive, o Vanderlei (Luxemburgo) apontou aonde a gente estava falhando, os lugares nos quais a gente tinha deixado espaços para o Fluminense. Outros jogadores conversaram e nos mobilizamos bem em torno da partida.
L!: A reação em campo foi sinal disso...
A gente cresceu muito. Todo o Flamengo cresceu em campo e tínhamos grandes jogadores. Romário, Sávio... O Marquinhos também vinha muito bem. Só que, depois que a gente empatou, fiquei atento e comecei a alertar todo mundo. Lembrava de como era o estilo do Joel, tinha trabalhado com ele no Vasco (o zagueiro foi campeão carioca em 1992 e 1993 no Cruz-Maltino sob o comando de Joel Santana). Sabia que o Fluminense ia esperar a gente tentar sair para o ataque e tentar uma situação numa brecha que a gente desse na defesa.
L!: Até que veio o gol do Fluminense no finzinho...
Aconteceu pelo lado esquerdo e o nosso melhor marcador, que na época era o Charles Guerreiro, naquele momento deixou o Aílton bem próximo da área. Tentei de todas as formas evitar que ele chutasse. Lembro que a bola do Aílton chegou a raspar na minha cabeça, mas acabou chegando ao Renato, que marcou o gol. Infelizmente, pois a gente estava muito perto do título.
EXPECTATIVAS EM TORNO DA FINAL
A poucas horas da bola rolar para mais uma final com Fla-Flu, os ex-jogadores apontam suas perspectivas para o clássico. Aos olhos de Jorge Luís (que fez parte do Flamengo campeão carioca em 1996), os comandados de Vítor Pereira têm ainda arestas a serem aparadas para buscarem o título.
- O Flamengo tem muita qualidade técnica e continua forte. No entanto, ainda tem de se ajustar em especial na parte defensiva para se impor com tranquilidade - e destacou:
- Falta se encaixar um pouco mais para engrenar bem e conseguir boas campanhas não só no Carioca, mas também em outras competições de alto nível - completou.
Um dos heróis do título carioca do Fluminense em 1995, Leonardo reforça sua empolgação com a atual equipe.
- Estou muito feliz com o que o Fluminense vem mostrando com a chegada do (Fernando) Diniz. Mas sabemos que se trata de um grande clássico, que exige toda a atenção possível. É torcer para que o Tricolor entre bem armado e para que o Cano esteja em um dia ótimo - disse.
Para o ex-atacante, há algumas semelhanças em relação ao contraste de realidades com o Fla-Flu de 1995.
- Tecnicamente, o Flamengo é superior, tem grandes jogadores. Só que o Fluminense vem crescendo há algum tempo, tem feito boas campanhas. É esperar que, assim como aconteceu com a nossa equipe, a atual geração tricolor vá para dentro e consiga se impor - disse.
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