Grana da TV, calendário e estaduais: Globo se preocupa com o Brasileirão
Diretor de direitos esportivos do Grupo Globo, Fernando Manuel Pinto, abre o jogo ao L! e fala sobre as suas preocupações: datas apertadas, modelos e finanças estão entre elas
A temporada 2018 entrou em sua fase decisiva e as reclamações anuais voltaram à cena. Data Fifa desfalcando os clubes, excesso de jogos no calendário, times mistos para focar na Libertadores ou na Copa do Brasil... Todos os fatores refletem no Campeonato Brasileiro e não à toa estão gerando preocupação ao Grupo Globo. O diretor de direitos esportivos da empresa, Fernando Manuel Pinto, recebeu o LANCE! e falou por mais de 1h sobre planejamento, erros e propostas de mudança para o maior campeonato de clubes do país.
- O Campeonato Brasileiro, que é fascinante pelo equilíbrio e imponderável em termos de disputa, também é afetado em rodadas intermediárias ou decisivas. Esse ano acontece e ano que vem vai acontecer de novo. Precisamos, definitivamente, sair de um estágio onde todos reconhecem o problema para, de fato, trabalhar as alternativas e agir. Compreendo que o calendário brasileiro resulte de uma série de necessidades, costumes e tradições, mas o fato é que a gente carece de um debate e ocupação das datas com viés mais comercial e de desenvolvimento - declarou o diretor.
Fernando Manuel Pinto concorda com a maior parte das reclamações sobre o calendário e também cobra por uma mudança. Entretanto, é enfático: "o cenário é preocupante para os clubes no quesito comercial". As datas espremidas atrapalham a valorização do principal produto da emissora.
- O resultado final é que o Campeonato Brasileiro acaba espremido. Temos uma situação atípica no Brasil. Por ficar espremido com tantos jogos em poucos meses, você acaba provocando isso. Somos todos responsáveis por isso, por não antecipar problemas, por se apegar demais ao passado e não promover mudanças necessárias. Eu me preocupo com o necessário. Tanto para o Grupo Globo quanto para os clubes, de modo comercial, esse cenário é bem preocupante.
Confira a entrevista com Fernando Manuel Pinto na íntegra:
LANCE!: Quais são os principais desafios na frente do cargo na Globo e como é o processo de negociação com os clubes?
Fernando Manuel Pinto: Esse processo de lidar com futebol e aquisição de direitos é bem mais trabalhoso e envolve muito mais processo do que se supõe. Parece algo muito glamouroso, mas na realidade é algo muito trabalhoso em vários sentidos. Porque além da aquisição de direitos, nós buscamos desenvolver todo um relacionamento de desenvolvimento com o futebol, da execução dos acordos até os campos das ideias, o que podemos fazer melhor em termos de cobertura, calendário e desenvolvimento do futebol brasileiro.
"Jogos quarta à noite foram para às 21h30. Dificuldade de horário não está ligado apenas à televisão"
Como a Globo enxerga o cenário do futebol brasileiro atualmente?
- Acima de tudo o grupo e o próprio movimento de aquisição de direitos nos últimos dois e três anos, renovamos contratos de Série A, Série B, Copa do Brasil e jogos da Seleção Brasileira. O grupo renovou os votos e suas apostas na força do futebol brasileiro. E está convicto disso que o futebol brasileiro permanece sendo o principal ativo esportivo para o desenvolvimento dos negócios e da relação usando o esporte com o público.
Sobre o estágio atual do futebol brasileiro no campo dos negócios, costumo dizer que sempre que você renova as apostas e acredita, isso jamais deve te afastar de uma visão crítica do que nós devemos fazer a mais para desenvolver ou o que devemos esperar e motivar o futebol a fazer. É um cenário que nos preocupa, um agravamento de crise em alguns clubes. Creio que decorra de diversos aspectos, desde gestões passadas, mas a própria transformação do nosso país. O implemento do ProFut, impondo uma responsabilidade de custo e gestão bem maior, a própria formatação da venda dos direitos dos clubes da Série A, que impõe para o futuro de 2019 em diante, do principal contrato, que é o da Série A em termos de receitas de televisão para os clubes, uma gestão bem mais desafiadora. Você migra de um formato onde alguns clubes tinham valores fixos assegurados para um modelo onde a remuneração de um clube está ligada à participação dele na Série A. É uma soma de quatro fatores absolutamente variáveis. Pela presença na Série A, uma parcela que depende de números de jogos exibidos, uma parcela ligada ao mérito esportivo porque depende da posição final do clube no campeonato, e uma quarta parcela que depende da venda daquele clube no pay-per-view. Creio que os clubes têm um cenário desafiador, que da mesma maneira que o novo modelo trouxe mais meritocracia e projeta mais equilíbrio e divisão de recursos baseados em meritocracia esportiva e comercial, também impõe mais desafio de gestão financeira e estratégica na exploração de ativos.
Os problemas no calendário do futebol brasileiro são recorrentes. Como a Globo avalia o planejamento para os próximos anos?
- Para o ano que vem, já temos uma grande notícia. Os jogos de quarta à noite foram programados para às 21h30. O futebol é um produto que se encaixa dentro de uma estratégia de programação da Globo e sempre há um esforço para tentar dialogar e compreender, e isso já acontece para o ano que vem com a antecipação de 15 minutos. É importante também frisar que uma dificuldade com o horário não está ligado apenas a televisão, está também ligado à necessidade dos próprios clubes ou dependendo da cidade de suas arenas para que as pessoas possam chegar. Será também que não é uma questão de infraestrutura e transporte? Bom seria se nós pudéssemos, com o futebol, continuar incentivando que o sistema de transportes se adapte também a economia e eventos, não o contrário. É natural ver, nos Estados Unidos e Europa, eventos que começam a noite e terminam de madrugada, sem prejuízo para que as pessoas possam ir e voltar para casa. Há um esforço e compreensão do grupo, mas aquele horário noturno não é um capricho. É uma necessidade em termos de programação, que por sinal valoriza muito o futebol, porque nós temos o futebol como um produto de horário nobre, quando as famílias já estão em casa, acompanhando e repercutindo.
Os conflitos de datas acabaram prejudicando os clubes durante a temporada. Tivemos exemplos de jogadores convocados e, neste caso, os clubes tendo que fazer um planejamento especial para tê-los em campo. Como modificar isso?
- Não tenho como deixar de externar meu sentimento de frustração quando você verifica de maneira continuada. São vários anos acontecendo esse conflito entre jogos de Seleção Brasileira e grandes competições nacionais. Em vez de apontar o culpado, é melhor reforçar a necessidade desse diálogo para que a gente não tenha prejuízo para a Seleção Brasileira, que necessita logicamente de se preparar e contar com os melhores em todas as datas, e também não afetar o valor das nossas competições nacionais. Esse ano ficou muito explícito na semifinal da Copa do Brasil, e já vi que o calendário do ano que vem aponta um conflito na final da Copa do Brasil. E ainda tem o Campeonato Brasileiro que é fascinante pelo equilíbrio e pelo imponderável em termos de disputa, e ele também é afetado em rodadas intermediárias ou decisivas. Esse ano acontece e ano que vem vai acontecer de novo. Precisamos, definitivamente, sair de um estágio onde todos reconhecem o problema para, de fato, trabalhar as alternativas e agir. Compreendo que o calendário brasileiro resulte de uma série de necessidades, costumes e tradições, mas o fato é que a gente carece de um debate e ocupação das datas com viés mais comercial e de desenvolvimento. Muitos falam das disparidades de receitas entre clubes por regiões, como os clubes do Nordeste e os do Sul e Sudeste. Em parte, considerável, essa distância vem pela ausência de um calendário que coloque todas essas marcas competindo, frequentando e dividindo o mesmo bolo do dinheiro. Em vez (disso), temos um terço do calendário dedicado a competições estaduais, em que naturalmente o seu aproveitamento econômico vai estar limitado pelo caráter regional. São debates como esse que tenho me empenhado a fazer com as entidades organizadoras ou com alguns clubes.
"Temos uma situação atípica no Brasil. Esse cenário é preocupante.
Série A fica espremida"
O uso de times mistos no Brasileirão não está desvalorizando o produto?
- Isso começou no ano passado, acho que não são fatos isolados, é um conjunto de modificações. A mudança do calendário da Conmebol... Acho que existe um apelo para se dedicar tantos meses a competições regionais. O resultado final é que o Campeonato Brasileiro acaba espremido. Temos uma situação atípica no Brasil. Por ficar espremido com tantos jogos em poucos meses, você acaba provocando isso. Somos todos responsáveis por isso, por não antecipar problemas, por se apegar demais ao passado e não promover mudanças necessárias. Eu me preocupo com o necessário. Tanto para o Grupo Globo quanto para os clubes de modo comercial, esse cenário é bem preocupante. Fora a exploração de mídia, ele tem que ser valorizado pelo seu potencial de ocupação de arenas. É um produto que gera jogos revelantes. Faz parte dessa agenda, de passarmos da fase de diagnosticar problemas, pensar em alternativas e agir. O futebol brasileiro tem que estar atento ao tema do calendário, pois a Série A fica espremida.
A quantidade de jogos no Brasil não ajuda a piorar a qualidade dos jogos? Não seria interessante se fazer menos com mais, reduzindo datas dos estaduais (que são financiados pela televisão) e aumentando o período da competição mais importante do país (Brasileiro)?
- Quando entramos nesse debate, temos que reconhecer também os pontos fortes do Estadual. Tem tradição, de fato geram jogos emblemáticos, mas da mesma maneira que tem pontos fortes, tem que ver os desafios que a manutenção acaba impondo. Se me perguntar se sou a favor do fim dos estaduais, digo que não. Não a curto ou médio prazo por questões comerciais. Defendo um reposicionamento. Temos que proteger as competições nacionais, pois só elas colocam os clubes brasileiros o ano inteiro prestando atenção um no outro. Em que momento um torcedor do Rio ou de Minas vai prestar atenção em um clube do Ceará, de Santa Catarina ou até de São Paulo? Só em uma competição nacional. Durante 1/3 do ano, nós condenamos o torcedor a ficar prestando atenção só no seu estado. Isso é um desperdício. Só com o Brasileirão, onde todos jogam contra todos, onde prestam atenção em todos os jogos, é que você tem a atenção plena do público brasileiro com o futebol brasileiro.
O quanto a Globo tem o poder de mandar os jogos no horário que ela quer?
- Isso é dialogado com os clubes e entidades organizadoras. Existe um esforço em prol do desenvolvimento do negócio futebol com a mídia de ter horários alternativos. Talvez, na última década, a mídia que mais desenvolveu em termos de aumento de receitas para o clube foi o pay-per-view. A satisfação do assinante está ligada à capacidade dele de assistir vários jogos. A ideia é de horários alternativos, que permitam que os torcedores assistam mais jogos, que o produto oferecido do futebol brasileiro na televisão paga seja melhor e que nós tenhamos a ocupação da atenção do brasileiro durante um fim de semana inteiro com o nosso futebol. Nossa ideia é mantê-lo e melhorar a experiência do consumo.
"Vi estaduais que, de 12 clubes, 8 vão à 2ª fase. Qual o suspense que você oferece?"
Como é o diálogo da Globo com a CBF para modificar questões importantes do calendário do futebol brasileiro?
- É um processo dinâmico, envolve a CBF e os clubes. Sim, existem acordos vigentes. Todo debate de transformação tem que ter responsabilidade para você promover benefícios e não problemas. Isso é um debate em andamento.
O baixo público é uma via de mão dupla, principalmente para quem transmite. Se o estádio não está lotado, é ruim pelo produto transmitido, mas melhor para a audiência da televisão, pois as pessoas estão em casa. O que pesa mais para vocês nesta balança?
- Acho que são experiências diferentes, a de estádio e da televisão. Normalmente, os jogos de maior audiência são também os que a casa está cheia. O grande jogo repete o grande público. Não consigo ver a televisão como causadora da retirada de torcedores dos estádios. O Premiere é uma alternativa bem vista para consumir todos os jogos, em casa ou fora. O que pode tirar público do estadio é desinteresse, competições cujo formato não levem o torcedor a se envolver com o jogo sempre. Temos alguns campeonatos em que, claramente, as primeiras rodadas ou primeira fase valem muito pouco. Se vale muito pouco, o torcedor não vai e não assiste na televisão. Vi estaduais que, de 12 clubes, passam oito para a segunda fase. Qual é o suspense que você esta oferecendo? O calendário e as datas funcionam como recursos finitos. Tem restrição, você tem que aproveitar bem. Data de futebol é como prateleira para quem vende. Ocupe bem a prateleira, ou você não está colocando ali a sua capacidade de venda.
As gerações mais novas têm uma conexão mais forte com os clubes do exterior. Muitos, inclusive, já torcem para times europeus. Esse 'abandono' aos clubes nacionais provoca algum alerta na Globo?
- Boa parte dos nossos indicadores ainda apontam interesse do brasileiro com o futebol brasileiro. Não quer dizer que você tem que ficar quieto e ver a vida passar. Temos que cuidar do engajamento do torcedor, e isto está novamente ligado ao que falei sobre calendário. Há um momento mais frágil do calendário em termos de concentrar a atenção do público no futebol brasileiro, independente de como está o Estadual. Você rivaliza com o momento mais forte dos campeonatos europeus, reta final dos torneios e da Liga dos Campeões. Há uma preocupação maior com o engajamento do que com o abandono. De 2018 para 2019, marca uma mudança significativa. Até 2018, a Globo se encarregou pela venda dos direitos internacionais do Campeonato Brasileiro. Processo feito dentro de um modelo contratado. A partir de 2019, esses direitos internacionais estão com os clubes. Compreendo, optaram por centralizar esses direitos na CBF, e a CBF está realizando contratações internacionais. A Globo não faz parte desse processo, mas desejamos sorte ao futebol brasileiro.
"Os Estaduais rivalizam com principal momento da Europa: finais de Ligas e Champions"
Nós vemos situações de clubes vendendo a janta para pagar o almoço. São várias as equipes que pedem adiantamento das cotas de televisão para pagar coisas básicas dos dias atuais. Até onde vai a permitividade da Globo com isso, até onde pode se adiantar as cotas e é possível dizer que esses clubes que adiantam cotas estão vivendo um estado de luta contra a falência?
- A Globo não é um gestor do futebol. É um parceiro comercial. A gente busca nesse diálogo e execução dos acordos com os clubes, logicamente, conhecer, compreender e apoiar em alguns assuntos, mas fundamentalmente é um tema melhor para ser respondido pelos clubes, porque lida diretamente com a gestão financeira deles. Acho que existem casos e casos. De maneira geral, tenho visto um esforço dos clubes em superar as dificuldades dessa gestão financeira das antecipações. Espero que levem êxito.
A criação de uma liga profissional deveria ser uma pauta neste debate?
- O efeito de ter uma liga, uma mesa coletiva dos clubes, não dá pra antecipar o que seria. Na minha visão pessoal, o futebol brasileiro carece sim de maior diálogo entre os clubes. Existem clubes que têm dezenas de motivos para brigar, são rivais, disputam jogadores, disputam jogos, mas existe um motivo para uni-los, que é uma agenda institucional. Não me refiro apenas a direitos de televisão, mas agendas comum com poder público, segurança e, logicamente, aspectos comerciais para desenvolver o futebol como o calendário. A ausência desse senso de coletividade é um problema como um todo.
A Globo negociou com a Primeira Liga para ter os direitos de transmissão. Hoje, a competição é praticamente descartável e está fora do calendário. Qual a opinião da Globo sobre o torneio?
A Primeira Liga surgiu em meio a muita coisa que corria. Renovação de estadual, debate de calendário, a própria renovação da Série A. Minha leitura é que a Primeira Liga tem ou teve um ideal interessante, a criação de uma mesa coletiva para debater aspectos e soluções. Não tenho certeza se o objeto daquela discussão era de fato o que a gente precisa. Será que o Brasil precisa de novas competições ou temos mais do que deveríamos ter? Tantos conflitos de datas, tanta dificuldade para jogar tantas vezes. O que nós precisamos é uma melhor ocupação das datas existentes.
Qual é o argumento usado para a sua definição dos valores no pay-per-view? Existe um modelo para justificar os números na televisão aberta e fechada? O repasse do pay-per-view está dentro do que agrada aos clubes? Há clubes que não estão satisfeitos com os valores...
- Gostaria de enxergar como um processo de transformação. A mudança de 2019 para 2024 foi uma mudança promovida durante um processo de renovação muito trabalhoso e conturbado com a concorrência, que de forma legítima buscou e até parabenizo pela iniciativa de ter buscado se envolver com o futebol brasileiro e investir. Esse processo funcionou como unir o útil ao agradável. O útil com uma nova abordagem de contratação, mais baseada em equilíbrio, meritocracia esportiva e comercial, e por combater a concorrência do ponto de vista comercial e manter os direitos, com o agradável de promover dentro desse ambiente o debate sobre o modelo. Enxergo esse novo modelo como um grande avanço de preocupação com a distribuição de recursos, porque, na prática, você vai verificar que 2/3 dos recursos empregados pela Globo no futebol vão estar ligados a critério de igualdade, que são 40% da verba de televisão aberta e fechada, ou ligados a aspectos de meritocracia esportivo e comercial, sendo 30% dependente do número de vezes que o clube será exibido e nada relacionado à audiência, e 30% baseado no desempenho final do clube na competição. Tem muito esforço para usar essa mecânica para equilíbrio, já que 1/3 da quantia desse bolo, estimo, que será alocado para pay-per-view. É uma estimativa porque o pay-per-view, ao contrário das verbas de televisão aberta e fechada, não tem um valor fixo de referência. O que nós dividimos com os clubes é o percentual da receita dos sócios desse modelo, que é justo e ganhamos juntos. Esse novo modelo é um grande passo, um grande avanço e que, em tese, encaminha outros avanços e debates em parceria do grupo Globo com os clubes.
"Gestão de negócios te força a fazer opções. Promovemos a maior negociação da Série A"
Como a Globo encarou, após tantos anos, o cenário no qual não terão os direitos de transmissão da Liga dos Campeões? Mesmo com a ascensão de Neymar, talvez o carro-chefe do marketing brasileiro, a Globo não terá esses direitos...
- Gestão de negócios ou nesse caso específico de aquisições de direitos, te força a fazer opções. Nos últimos dois anos e 11 meses, e falo pela minha atuação direta, o grupo passou por um processo de aquisição de Série B, Copa do Brasil e Seleção Brasileira, temos um encaminhamento sobre competições da América do Sul, além de promover a maior negociação e mais abrangente negociação da Série A já feita. Neste momento, já são 34 clubes aderentes ao novo modelo da Série A. E mais ampla em termos de números de temporadas cobertas. Pela primeira vez, foi feito um acordo sobre a Série A no Brasil cobrindo seis temporadas, de 2019 a 2024. Se o grupo que busca com a sua parceria em relação com o futebol gerar um produto, capaz o suficiente de desenvolver negócios de mídia com o futebol, faz uma eleição e uma escolha de seguir e abraçar o futebol brasileiro, é natural que você tenha uma opção para ser feita de não seguir com uma aquisição internacional. São opções. Foi uma opção de mercado e negócios feitos.
Em relação a outros campeonatos europeus, o que estamos vivendo no Brasil é um reflexo da transformação dessa indústria de mídia no Brasil, sofrendo efeitos de uma continuada recessão. Vejo o Italiano, por exemplo, sem uma distribuição televisiva regular. Ocorreu também com o Francês. E a própria Liga dos Campeões, que tem a maior parte dos seus jogos na Internet. É difícil você isolar causas e efeitos, mas no contexto, a decisão da Globo é ligada a uma avaliação de negócios e capacidade de investimentos dedicado ao futebol brasileiro, o que é uma postura louvável para um grupo brasileiro, impactado também pela situação econômica do país.
"Os clubes brasileiros disputam com os internacionais. É uma indústria globalizada"
O modelo de gestão dos principais clubes europeus segue em linha distinta da adotada pelo futebol brasileiro. Enquanto na Europa, continente que reúne os 20 clubes mais ricos e com maior faturamento do mundo, a opção é pela transformação deles em empresa, no Brasil segue em voga o modelo associativo. Esse é fator determinante para essa distância de nível financeiro/técnico?
- Vejo, sim, uma diferença, mas acho impossível você isolar fatos ou causas para isso. Sobre o tema da natureza jurídica dos clubes, eu vejo com bons olhos. Faria bem para o futebol brasileiro ter - não de forma compulsória, mas a opção com clareza quanto aos benefícios e renúncias que os clubes de futebol podem fazer - mais clara a opção pela profissionalização da gestão dos clubes e do futebol. O futebol é uma indústria globalizada e, por isso, inevitavelmente os clubes brasileiros estão disputando com os clubes internacionais. Aspectos ligados a calendário, tamanho de mercado e a própria situação do país influenciam no quadro onde pode ter uma distância entre clubes de continentes diferentes.
A lei do ProFut tem avanços interessantes, mas nenhum clube ainda foi punido por não honrar seus compromissos fiscais. A solução pode estar numa fiscalização mais rígida?
- Não tenho conhecimento técnico para identificar se é uma solução. O que provoca um acidente aéreo são vários erros não corrigidos e acumulados. O desenvolvimento de um negócio vem de vários acertos. Maior responsabilidade financeira de clubes, estabelecimento de uma pauta coletiva, focada na agenda comum de médio e longo prazo, um olhar mais crítico, de desenvolvimento de produtos, só aqui falamos três itens. Não estaríamos inventando nada, é assim que é feito (risos).
Como a Globo reage à entrada do Facebook no futebol? Foram dois campeonatos a nível internacional comprados em seguida...
- Havia uma expectativa. Recentemente, fizeram uns movimentos em outros mercados. Concorrência não é novidade, nem aqui e nem em qualquer outro lugar. Temos nossas alavancas e forças em termos de posição de negócios construído no Brasil, assim como eles, um player internacional, também terão. É positivo para o ambiente, mas esperamos seguir trabalhando e defendendo os interesses do grupo Globo.
"O que precisamos é uma melhor ocupação das datas existentes"
Como estão as negociações com os clubes que fecharam com o Esporte Interativo?
- São negociações continuadas. Esse fracionamento dos clubes deixa claro que os desafios são muito trabalhosos. O futebol brasileiro aprendeu com esse processo. A Globo já firmou 34 contratos para esse modelo 2019-2024. Dos clubes que venderam televisão fechada para terceiros, vários deles fecharam televisão aberta e pay-per-view com o Grupo Globo. Você citou Santos, Inter, Fortaleza, Ceará, Ponte Preta... Com alguns clubes, nós já compomos os acordos nas mídias que eles possuem disponibilidades. Há, sim, clubes sem contrato. Sigo engajado em mostrar as vantagens do novo modelo.
A Globo pode ficar sem transmitir alguns jogos?
- Dentro do alinhamento jurídico do Brasil, o grupo precisa ter o direito dos dois clubes. O Grupo Globo tem um volume de jogos que tem contrato e a Turner tem direito a outro pacote de jogos. Note que como isso é por mídia, há partidas que podem ter exibição em televisão fechada pela Turner e televisão aberta pela Globo. Nós nunca passamos por essa situação na Série A, mas falta um tempo e algumas variáveis. Muitos clubes foram colaboradores na formação de ideias. O que me cabe fazer é continuar expondo benefícios e avanços. É impossível ver a distribuição de direitos de clubes que são coletivos sem termos que são padrões e comuns a todos. Tenho orgulho de dizer que o termo apresentado ao clube é coerente.
Cenário inusitado também é a atitude do Atlético-PR, por exemplo, que em algumas partidas não compartilhou as imagens dos gols e, em parceria com o Coritiba, transmitiu via YouTube e no Facebook os clássicos. A Globo teme que os clubes se tornem uma concorrência?
- É natural que o melhor e mais amplo acesso a tecnologias traz o impulso dos clubes produzirem o próprio conteúdo. Isso está acontecendo no Brasil e acontece fora também. A grande questão é, novamente: como você lida e relaciona esse ímpeto e vontade legítima de dispor do seu ativo para o modelo de negócio que, de fato, remunere e traga recursos? Esse equilíbrio vem da própria evolução do desenvolvimento de negócios. O grupo Globo tem tentado se posicionar como parceiro para ajudar o desenvolvimento de negócios dos clubes também nessa área. Os clubes (estão) ativando, com muita competência, essas transmissões, pré, pós e bastidores. Isso tudo gera mais demanda e interesse em acompanhar o jogo ao vivo na televisão. Na realidade, ao invés de conflitar, pode colaborar para reforçar o engajamento do torcedor com aquele clube ou competição.
"Durante 1/3 do ano, condenamos o torcedor a ficar prestando atenção no seu estado"
Uma das coisas que o Esporte Interativo revolucionou no Brasil foi o uso do streaming. Desde coletivas até transmissões ao vivo foram usadas pelo canal. Qual a posição da Globo sobre o uso desse modelo?
- Não diria que tem uma revolução nisso. Sobre a iniciativa do Esporte Interativo na Série A, a concorrência faz muito bem e a existência dela criou um ambiente para uma discussão sobre qual a maneira mais adequada ou propensa para a aquisição de direitos com maior equilíbrio na distribuição de recursos. Gerou também um ambiente para, em vez de uma aquisição de curto prazo como a Globo tinha em mente, migrarmos para um modelo em que adquirimos até 2024.
Sobre o streaming, não vejo uma revolução de um player. Estamos passando pela evolução tecnológica. Da mesma forma que em algum momento teve uma oferta de esporte condicionado pelo o que representava apenas a televisão aberta, quando o cabo e televisão fechada surgem, você passa a ter capacidade de entregar conteúdo segmentados para diversos players. O streaming funciona da mesma forma. Se fizer um paralelo com a música, permite oferecer mais o tempo todo, mas no final das contas a exibição na Internet reflete a uma oferta de conteúdo gratuito que uma televisão aberta faz, ou uma oferta de conteúdo mediante a assinatura que uma televisão paga tradicional faz. Não tem uma revolução em termos de modelo de negócio. Temos uma evolução em termos de tecnologia em como podemos entregar esse tipo de conteúdo.
Em toda transformação, é muito importante que seja sustentável para o negócio. A forma como essa exploração é feita deve vir para somar, não destruir valor. Me preocupa capacidade de banda, geração de receita que esse segmento de distribuição de Internet pode gerar para quem paga conta, que são as entidades organizadoras e clubes. O grupo Globo possui o Premiere Play, onde pode acompanhar qualquer jogo desde que seja assinante. Da mesma forma, há a oferta digital de Globo ou SporTV. Não é o máximo que podemos fazer, mas temos que ter a certeza que vamos dar passos à frente, com mais receitas e exposição dos clubes.
Qual é o seu maior sonho de modificação no futebol brasileiro?
- Eu acho que é voltar a posicionar o futebol brasileiro como um produto de mídia, com grande satisfação e envolvimento entre os clubes. Tenho tido um diálogo com eles para conciliar o que buscamos e o que o futebol precisa. Vê-lo forte, com retenção de talentos, sem prejuízo para as outras competições... (Ver) o futebol brasileiro como pilar do nosso calendário. Só uma competição nacional, onde você coloca as marcas competindo entre si com regularidade, pode fortalecer o coletivo. Na hora que você condena a meritocracia e o equilíbrio em 2/3 do ano, é o primeiro terço que condiciona onde o clube vai chegar. Existe uma distância muito grande que não foi provocada por escolha aleatória. O tamanho é determinado pelo mercado de mídia que existe ali, e isso explica o tamanho da divisão de uma região para outra.
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