Impasse no pagamento de cotas de TV afeta clubes e traz preocupações na reta final da Série B
Desacordo entre Coritiba e Globo 'trava' repasses de pagamentos de 18 clubes. Preocupados, dirigentes creem em diálogo, mas não está descartada paralisação
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As preocupações com a reta final da Série B não estão restritas ao que ocorre dentro de campo. Um impasse entre Coritiba, Grupo Globo e CBF sobre o pagamento de direitos de transmissão afetou boa parte dos clubes que participam da competição.
Segundo informações divulgadas pelo UOL e confirmadas pelo LANCE!, o imbróglio começou porque o Coritiba não teria aceitado a prorrogação do contrato até 2022. Após a decisão do Coxa, 18 clubes que disputam a Série B teriam deixado de receber o valor da mais recente parcela.
O L! traz um panorama da situação envolvendo os clubes, CBF e Globo. Embora haja margem para diálogo, a paralisação da Série B a poucas rodadas do fim da competição não está totalmente descartada.
COXA SE MANIFESTA APÓS IMPASSE
Após a repercussão do impasse na imprensa, o Coritiba emitiu nota oficial na última quarta-feira, na qual explicou sua recusa do novo acordo. Em informe divulgado no site, o clube apontou que "o termo apresentado ao Coritiba previa prazo de 2018 a 2022, caso em que a adesão impediria qualquer outra negociação com a Globo referente à Série B nesse período". Além disto, o Coxa já selara um contrato em março deste ano com o Grupo Turner (à época, donos do Esporte Interativo) para o ano de 2019.
A alternativa do clube foi aderir em 20 de setembro "ao contrato coletivo apenas para 2018, documento que não foi aceito pela Globo para viabilizar o repasse à CBF e clubes".
Sobre o termo de adesão solicitado pela Globo, o alviverde ainda disparou: "O Coritiba possui contrato individual de cessão de direitos de transmissão com a Globo referente à Série B de 2018, motivo pelo qual juridicamente não poderia ceder os mesmos direitos duas vezes".
Coritiba e Goiás têm vínculo à parte com emissora. Já demais clubes recebem mesma quantia, em parcelas
O Coritiba e o Goiás têm um vínculo diferente com a emissora, por já terem disputado a elite do futebol nos últimos anos. Enquanto isto, os demais clubes recebem, por ano, R$ 8 milhões entre cota fixa e verba de logística. O "rateio" é repassado pela CBF.
Mandatário do Goiás (que, ao contrário do Coritiba, aceitou os termos para uma prorrogação do contrato até 2022), Marcelo Almeida confirma que o clube não foi prejudicado financeiramente. Mas se sensibiliza diante da situação dos demais clubes que disputam da Série B:
- Fiquei sabendo desse assunto pela imprensa. Não fomos contatados nem pela Globo, nem pelo Coritiba e nem por qualquer outro clube. Espero que o problema seja resolvido o mais rápido possível para que não prejudique o andamento do campeonato.
O dirigente valorizou a boa parceria do Esmeraldino com a emissora:
- O contrato entre Globo e Goiás foi celebrado há vários anos e nunca tivemos nenhum impasse. Estamos com o nosso recebimento em dia. Estou acompanhando esse problema que por enquanto não nos afetou.
FOLHA SALARIAL, RENOVAÇÕES... PARALISAÇÃO? TENSÕES NOS CLUBES!
A falta de repasse da parcela deste mês despertou preocupação entre os clubes que não receberam. Segundo o L! apurou, representantes das 18 agremiações vêm se reunindo com a CBF e a Globo para chegarem a um acordo.
Presidente do Paysandu, Tony Couceiro detalhou as reivindicações dos clubes e foi incisivo em sua postura:
- Os clubes estão conversando com a CBF e não aceitam a posição da Globo. Ainda não se tem uma posição do que vai acontecer, mas os clubes estão unidos, nenhuma solução está descartada.
O mandatário destacou uma preocupação que une os clubes:
- Todos os clubes estão muito preocupados e terão muita dificuldade de fechar suas contas sem esses valores, que são valores que estavam previstos no orçamento dos clubes desde o início da competição.
Mandatário do Fortaleza, que é líder da competição, Marcelo Paz também desabafou:
- É uma situação que gera desconforto, sem dúvida. Ficou combinada antes da competição a divisão dos valores e, com isto, todos os clubes já fizeram seus respectivos planejamentos considerando a verba da televisão. Não contar com ela pode gerar um grande problema financeiro. Ninguém em sã consciência podia imaginar isso.
"Clubes estão unidos. Nenhuma solução está descartada", diz presidente do Paysandu
O dirigente do Tricolor do Pici tem uma expectativa mais otimista quanto ao desfecho do impasse e não vê na paralisação da competição a melhor saída:
- Espero que o bom senso prevaleça. Creio que esta possibilidade de paralisação seria muito extrema. Prejudicaria a grade de televisão, o espectador, os jogadores... Confio que o diálogo seja a melhor saída.
Presidente do Vila Nova, Ecival Martins destaca como a ausência da verba repassada tem afetado os clubes:
- A maioria dos clubes tem receita pequena. Por isto, os valores repassados pela Globo são fundamentais para a gente formar times competitivos e dar condições para que todos os jogadores trabalhem. Eu entendo que nós, CBF e a Globo vamos chegar a um consenso. Estamos muito preocupados com o fechamento de nossas contas!
'Situação gera desconforto. Confiamos no bom senso', diz dirigente do Fortaleza
Do lado do Atlético-GO, o dirigente Adson Batista crê que os demais clubes não têm nada a ver com o impasse entre Coritiba e Rede Globo:
- Se o Coritiba não assinou, o problema é do Coritiba! Nenhum de nós está de acordo com o que está acontecendo com os clubes. Fazemos um planejamento para a Série B, contamos com estes valores e deixam de pagar a última parcela por isto? Chega a nos constranger!
Gestor do Londrina, Sergio Malucelli lamenta o fato acontecer justamente às vésperas da temporada acabar:
- Além do impasse não ter a ver com nenhum dos outros clubes, não dá para Globo e CBF chegarem no último mês e anunciarem que deixarão de pagar os direitos. A gente tem de arcar com décimo-terceiro, férias, renovações. Fazemos um planejamento mês a mês para a Série B! Além disto, precisamos dos direitos da cota para as passagens das últimas rodadas, não temos como arcar com estas despesas.
Presidente do Oeste, Ernesto Garcia também afirmou que o jurídico do clube será acionado para avaliar o caso:
- Nós assinamos o contrato para 2018. Está firmado, vão ter de pagar. Vamos trabalhar com muita cautela. O Coritiba não tem culpa desta situação envolvendo a gente, mas não podemos ser prejudicados. Esperamos o bom senso.
CLUBES SE MANTÊM ABERTOS AO DIÁLOGO
Cogitando paralisar a Série B apenas "em caso extremo", os clubes ainda mostram confiança em um acordo:
- A gente está aguardando. Não é justo em uma hora dessas aparecer esta decisão de retirar nossos valores. O caminho mais correto é procurar a Globo e a CBF, chegarmos a um acordo. Todos estamos preocupados, os clubes terão muita dificuldade de fechar o ano sem esses valores (da parcela que se queixam de falta) - diz o dirigente do Boa Esporte, Rildo Moraes.
Presidente do Figueirense, Claudio Vernalha exaltou o bom relacionamento com os clubes e a expectativa para que tudo se resolva:
- Exista uma conversa saudável para que tudo seja solucionado. As conversas têm sido diárias entre os clubes, acreditamos que o melhor caminho é a gente ir para o diálogo mesmo. Uma paralisação seria descabida.
No mesmo tom está Roberto Tonietto, presidente do Juventude:
- Nossa expectativa é de que tudo se resolva da melhor forma possível. Estamos em contato frequente com os clubes e acreditamos que, em breve, todos nós vamos chegar a este acordo quanto aos valores.
Segundo Francisco Battistotti, presidente do Avaí, medidas drásticas só prejudicariam os clubes:
- Sou contra esta situação de paralisar a competição, até pelo regulamento. Não vejo isto como melhor saída para resolver o assunto.
Procurados pelo LANCE!, os presidentes de CSA, Guarani, Ponte Preta e São Bento não quiseram se manifestar. Já os mandatários de CRB e Brasil de Pelotas não foram localizados até o fechamento desta reportagem, enquanto o dirigente do Criciúma não pôde responder às nossas ligações.
GLOBO E CBF DÃO SEUS RESPECTIVOS PONTOS DE VISTA
Procurado pelo L!, o Grupo Globo não deu detalhes sobre as tratativas de contratos com os clubes. Porém, disse que em nenhum momento recebeu informação sobre risco de paralisação da Série B:
"Não fomos informados sobre qualquer intenção de paralisação dos clubes e, em respeito à confidencialidade do contrato com CBF e clubes, não consideramos apropriado expor aqui detalhes de termos e mecânicas contratuais. De qualquer forma, reforçamos que todos os temas contratuais são de pleno conhecimento das partes contratantes".
Secretário-geral da CBF, Walter Feldman disse que a entidade está disposta a contribuir para solucionar o impasse:
- Estamos em contato permanente com os clubes em busca de uma solução tranquilizadora.
Presidente do Sampaio Corrêa, Sérgio Frota revelou a expectativa para que venham novidades na próxima semana:
- O objetivo dos clubes é mostrar que, com as leis do Profut e Fair-play Financeiro, é fundamental termos estes valores para nossas receitas. Como isto pode ser mudado assim, de uma hora para a outra? Não é nada contra ninguém. É só questão da Globo cumprir o que está escrito! Confiamos que a partir da próxima segunda-feira, já tenhamos boas notícias sobre isto.
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