A importância de Mário Filho na construção do Maracanã e da memória do futebol brasileiro
Jornalista e escritor mobilizou a sociedade pelo projeto do estádio pelo qual o futebol brasileiro é conhecido e, através de suas obras, construiu a memória do esporte nacional
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"O povo carioca deve ao dinamismo e à luta de Mário Filho a construção e conclusão das obras do Estádio do Maracanã e nada mais justo será que se dê àquela praça de esportes o seu nome". Foi com estas palavras que o então deputado Jamil Haddad justificou e, com todos os votos da Assembleia Legislativa do antigo Estado da Guanabara, em 1966, aprovou o projeto de lei que deu o nome de Mário Filho ao histórico palco carioca. A homenagem aconteceu nas semanas seguintes ao falecimento do jornalista e escritor pernambucano, idealizador do Maraca do jeito que o mundo conhece.
Desta forma, a repercussão ao projeto de lei aprovado pela Alerj nesta terça-feira, que rebatiza o Maracanã como "Edson Arantes do Nascimento - Rei Pelé" é grande, com mobilização popular para que o governador Cláudio Castro vete a decisão. Ao liderar a campanha pelo estádio, Mário Filho está ligado ao futebol brasileiro. Como escritor e jornalista, à construção de sua memória.
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A LUTA DE MÁRIO FILHO PELO MARACANÃ COMO ELE É
Como diretor do "Jornal dos Sports" e redator do "O Globo", Mário Filho defendeu a viabilidade do projeto do estádio. A resistência, como registrado nos jornais da época, vinha de parte dos intelectuais cariocas e também de políticos. Enquanto o jornalista fazia campanha pela construção do Maracanã na Tijuca, no local em que operava o antigo Derby Club, destinado às corridas de cavalo, o vereador e futuro governador da Guanabara Carlos Lacerda queria que o estádio fosse construído em Jacarepaguá, bairro na Zona Oeste do Rio, e com uma capacidade menor - cerca de 60 mil lugares - em razão dos custos.
- Razões sem conta eram apresentadas contra a ideia de construção do Estádio Municipal, desde as que davam o empreendimento como impraticável até as que se insurgiam contra uma obra falsamente apontada como suntuária. Faltava, evidentemente, uma ação ordenada e segura que mostrasse a ausência de fundamento de tais alegações e deixasse claro não apenas a necessidade como também a possibilidade da construção. Foi esta a tarefa a que se dedicou, nos últimos meses, o nosso companheiro Mário Filho, através das colunas d'O Globo e do "Jornal dos Sports". Numa série de artigos e de entrevistas definiu, com segurança e objetividade, uma matéria sobre a qual reinava muita confusão. E o mais interessante é que, à medida que avançava a campanha, o projeto a princípio, aos olhos de muitos, impraticável, se revelava coisa viável e vantajosa, e, portanto, merecedora do melhor apreço da administração pública - publicou o jornal "O Globo", em 31 de julho de 1947.
A mobilização pela construção do estádio começou em 1943, quando o presidente da Fifa Jules Rimet manifestou a intenção de realizar a Copa do Mundo fora da Europa, por conta da Segunda Guerra Mundial, e o Brasil surgiu como principal candidato, desde que fosse realizada uma grande obra. Em 1944, o projeto do "Estádio Nacional", que venceu o concurso promovido pelo governo, foi apresentado. Nos anos seguintes, a campanha de Mário Filho foi responsável pelo convencimento de importantes setores da sociedade carioca.
A pedra fundamental do empreendimento - agora como Estádio Municipal - foi lançada em 20 de janeiro de 1948, com as obras sendo iniciadas em 10 de agosto e concluídas apenas após a disputa da Copa do Mundo de 1950.
O FUTEBOL BRASILEIRO CONTADO POR MÁRIO FILHO
Dentre os livros escritos por Mário Filho, "O negro no futebol brasileiro" é fundamental na história do futebol no Brasil. O início, a construção, o lado sociológico no início do século passado, no Rio de Janeiro. E como o futebol se tornou elemento de destaque no imaginário e na cultura nacional, o contexto social daquela época, transcrito por Mário Filho, se tornou um documento histórico. Histórico como o autor.
Tão importante que na quinta edição do livro, publicada pela editora Mauad X, há registros de figuras como João Máximo e Gilberto Freyre em edições anteriores. Bastiões da cultura brasileira reconhecendo o futebol como elemento básico para o país e, por consequência, Mário Filho também.
No jornalismo, o homenageado de 1966 é considerado um marco no estilo adotado para contar as histórias dos jogos de futebol. A imprensa do Rio - com a relevância de ter sido capital nacional - bebeu da fonte e assim contribuiu para apaixonar a população. Tão importante quanto o espetáculo em si é saber contá-lo. Mário Filho ensinou. Pelé, lenda de tamanho inestimável, teve história contada por linhas moldadas pelo jornalista-escritor.
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