Façam história! Antes da final, Pepe e Divino se encontram e se emocionam

Eternizados por Palmeiras e Santos, Ademir da Guia e Canhão da Vila aquecem final da Copa do Brasil com memórias sobre os tempos de ouro do futebol brasileiro

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Logo que se encontraram e se puseram frente a frente no Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu, Ademir da Guia, o Divino, e Pepe, o Canhão da Vila, reviveram o passado. As duas lendas de Palmeiras e Santos, apesar de estarem eternizadas em um museu, não vivem apenas deste passado e fazem da memória, o presente.

Nesta quarta, às 22h, quando os 22 jogadores dos finalistas da Copa do Brasil subirem ao gramado do Allianz Parque, cada um carregará consigo o anseio de escrever mais um capítulo da rica história dos dois clubes. Histórias essas que Ademir e Pepe cansaram de abrilhantar. E recordar. Rivais, eles se enfrentaram por diversas vezes com placares inesquecíveis e confrontos memoráveis, como as semifinais das Taças Brasil de 1964 e 65. A decisão do Paulistão-59, com Palmeiras campeão, e um incrível 7 a 6 vencido pelo Peixe só tinha Pepe.

"Decidir fora de casa nunca é bom. Mas gosto do Dorival Júnior como pessoa e como treinador", diz Pepe

– É, foi realmente uma época maravilhosa, tínhamos 7 a 6, 7 a 3, 5 a 0. Coisa que é rara hoje. Hoje é só 1 a 0, 2 a 0 e olhe lá. O maior jogo da história do Santos foi esse, o 7 a 6 contra o Palmeiras. Foi aqui no Pacaembu. Eu acho que foi o maior jogo que o futebol brasileiro já viu – recorda o ex-ponta Pepe, ao LANCE!.

Travado na rodovia dos Imigrantes por conta do trânsito, Pepe fez o amigo Ademir esperar por cerca de uma hora. Neste tempo, o Divino se divertiu e, em meio a caminhada lenta, esbarrou com uma fotografia de Pepe, ainda jovem. Emocionado, fez questão de enaltecer a beleza e a juventude do amigo.

“Atrasado”, Pepe chegou ao Museu e foi ao encontro do Divino. Ainda no cumprimento, fez questão de dizer que Ademir havia sido um jogador muito mais completo, mas o ex-palmeirense logo rebateu.

– Agora pergunta quem fez mais gols de falta. Foram uns 90. Pergunta quem tinha um canhão na perna esquerda. Pergunta quantas vezes ele foi campeão. Foi realmente um jogador importante junto com o Pelé.

Mais do que externar suas incontestáveis experiências, a dupla de lendas fez questão de conversar entre si e fez do encontro uma nova chance de reviver as memórias e o tempo de ouro do futebol brasileiro.

"Acho que pela decisão ser no Allianz, dá Palmeiras", palpita o ídolo Ademir da Guia

Observando atentamente cada detalhe, Pepe e Ademir da Guia dedicaram maior tempo à seção referente às Copas do Mundo. Encantados com lances de antigos companheiros, os olhos dos dois brilharam mesmo com os dribles de Garrincha.

– Não te dá saudade, Pepe? É a nossa vida que está aqui! – questionou o Divino, junto à grade de frente para o gramado do Pacaembu.

Saudade que as duas torcidas compartilham. Saudades dos ídolos desse passado. Nesta quarta, os atletas atuais tentam um título para entrarem na seleta galeria que tem Pepe de um lado e Ademir, do outro. Quem leva?

Ademir da Guia no Museu (Foto: Ari Ferreira/Lancepress!)


Leia um bate-bola com Ademir da Guia, o Divino


L!: Qual a expectativa para a final?
Divino:
O Santos tem um time bem organizado, né? Jogam juntos há algum tempo, os garotos. O primeiro jogo foi importante. Mas acho que pela decisão ser no Allianz, dá Palmeiras. Clássico é clássico, então estamos muito esperançosos. Sabemos que o Santos está numa fase excelente. Só chegar à tão sonhada final já é algo excelente para o clube. Vale muito.

L!: Qual o seu jogo preferido contra o Santos de quando era jogador?
D:
Em 66, Gilmar era o goleiro, foi aqui mesmo no Pacaembu, nós atacamos muito e ele defendeu tudo. No fim, bem no finalzinho, eu consegui fazer o gol. Foi muito especial. Ganhar do Santos era muito bom.

L!: Quais as diferenças no futebol entre hoje e o passado?
D: Hoje se coloca três volantes, às vezes três zagueiros. Eu joguei sempre com um volante só, o Santos jogava com Clodoaldo só e tinha cinco atacantes, jogadores mais técnicos, dribles, tabelas, cruzamentos. Não há mais.

L!: Tem algum jogo do Palmeiras que te marcou como torcedor?
D: Nós tivemos a fase da Parmalat que foi muito boa, veio Edmundo, Evair, com outros bons atletas. A equipe fazia gols, ganhava de quatro ou cinco. Parece que a empresa tinha muito dinheiro, trazia jogadores que atuavam na Seleção Brasileira.

L!: E como vê o time hoje?
D: Hoje é difícil trazer esse tipo de atleta (de Seleção), a não ser que busque na Europa. É importante contratar bem. Parece que com o Allianz Parque vamos reviver os bons momentos.

L!: Qual era o segredo para brecar o Santos de Pelé, Pepe e cia?
D: Segredo no futebol não tem. A preocupação era marcar bem, não perder as chances de gol, quando faz o gol fica tudo muito mais fácil.

Pepe posa para o LANCE! (Foto: Ari Ferreira/Lancepress!)


Confira um bate-bola com Pepe, o Canhão da Vila

L!: Qual a expectativa para a final?
Pepe:
Decidir fora de casa nunca é bom. Mas gosto do Dorival Júnior como pessoa e como treinador. O Ademir jogou com o tio dele, o Dudu, bom jogador também. O Dorival é muito inteligente, vê muito bem o jogo, sabe organizar e manter a disciplina. Então acho que apesar do equilíbrio todo, o Peixe vai acabar comendo o Porco (risos).

L!: O futebol mudou muito daquela época para cá. Você acha que seria hoje um ponta melhor do que foi?
P: Acho jogaríamos mais. Pelo que tenho visto, nós jogaríamos melhor. Hoje, a preocupação é muito maior não deixar jogar, naquela época não havia isso. O craque tinha condições de mostrar seu potencial. Esse pessoal de hoje tem muita dificuldade para jogar, principalmente os atacantes. No nosso time, por exemplo, o Zito era considerado o sexto atacante, então nós tínhamos cinco, mais o Zito. Hoje, quando coloca dois na frente o treinador está sendo ousado.

L!: Como enxerga a idolatria que o torcedor tem pelo senhor?
P: Não posso me queixar de nada, tenho um carinho grande por parte da torcida santista. Se eu não fui nenhum jogador fantástico, fui de muito valor, decidi jogos e títulos, tenho prêmio por não ter sido nunca expulso de campo, apesar de levar botinadas (risos). Tive uma carreira muito bonita, sou seguramente considerado um dos cinco melhores jogadores do Santos.

L!: Além de maior artilheiro ‘humano’ você é também o maior jogador humano, já que Pelé é um ET?
P: Eu lancei essa frase e pegou. Eu fiz 405 gols no Santos, e isso é bastante. O Pelé marcou mais de mil, mas ele era ET, não vale. Tenho quase a certeza que dificilmente vou ser alcançado. Hoje, normalmente, o jogador não fica mais tanto tempo no clube como eu.

Santos x Palmeiras: clima quente na Vila (foto:Ivan Storti/LANCE!Press)


PALMEIRAS X SANTOS - JOGOS PARA A HISTÓRIA

7 a 6 - 1958

O Santos venceu o Palmeiras pelo placar de 7 a 6 em jogo da Taça Rio-São Paulo. A partida é considerada uma das melhores do futebol brasileiro.

Paulistão - 1959
Palmeiras e Santos terminaram empatados e foram decidir o título em três jogos extras. Após dois empates, o Verdão venceu e foi o "supercampeão".

Taça Brasil - 1964 e 1965
Nos dois anos, as duas equipes se enfrentaram nas semifinais da competição. Ao todo, foram três vitórias do Peixe e um empate em quatro jogos (ida e volta das semifinais). O Santos passou à final e foi campeão nas duas vezes.

Paulistão - 1968
Ao vencer o rival no Palestra Itália, o Santos foi campeão do estadual antecipadamente.

Paulistão - 1996
Ao vencer o rival no Palestra Itália, desta vez foi o Palmeiras que confirmou o título antecipado: 2 a 0.

Copa do Brasil - 1998
Outra semifinal aconteceu em 1998, dessa vez pela Copa do Brasil. Com dois empates e mais gols marcados fora, o Palmeiras chegou à final - e foi campeão.

Paulistão - 2015
Santos e Palmeiras decidiram o Campeonato Paulista neste ano. Cada um venceu em sua casa e o Peixe foi campeão nos pênaltis, na Vila Belmiro.

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