Opinião: ‘Limites e resultados dos técnicos brasileiros em xeque’
Seria utópico projetar clubes exercendo planejamentos se a eles não for <br>imposto limites para quantidade de contratações por ano
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Uma regra que enquadra em duas semanas o período de interinidade dos treinadores nos clubes espanhóis poderia – se não resolver – ao menos coibir um problema recorrente no futebol brasileiro. Após a demissão de Julen Lopetegui, o Real Madrid tinha um prazo para contratar Santiago Solari ou então buscar um outro técnico. Na data limite, a efetivação.
O caso mencionado no gigantesco clube madrilenho de dimensões intercontinentais ajusta-se a uma realidade estrondosa no Brasil: a de que precisa haver regulação para os profissionais daqui. E o mais rápido possível, de preferência.
O calendário nacional do futebol prevê férias nas próximas semanas. Tempo que deve ser utilizado para rever conceitos e metodologias com fulcro no bom senso e em critérios equilibrados no tocante a permissividade excessiva com a qual o mercado brasileiro concatena a realidade da contratação e dispensa de técnicos e atletas.
Exemplos de estabilidade no modo de lidar dos clubes com seus treinadores têm sido cada vez mais raros. A aplicação coerente da norma, seja na Europa ou no futebol brasileiro, provocaria o efeito de um freio no modo desrespeitoso e antiprofissional com que estes profissionais que assumem encargos-tampões, com duração geralmente condicionada a resultados satisfatórios e imediatos, são tratados por dirigentes.
Um caso especificamente chamou (e muito) a minha atenção para escolher o tema da coluna desta contracapa. Trata-se do ocorrido com Thiago Larghi, que permaneceu mais tempo como interino do que como efetivo no Atlético-MG. Assumiu o time em fevereiro. Foi efetivado na função no dia 25 de junho, durante o Mundial da Rússia. Ao todo, 49 jogos. No Brasileiro, chegou a deixar o time na vice-liderança antes da parada para a Copa do Mundo. Com a queda de rendimento após a pausa, acabou dispensado.
Mas parece que falar apenas não basta. Limites podem ser vistos de diversos paradigmas. Todavia, o que gera um certo grau de incômodo é a ineficácia (ou inexistência) de ordenações previstas em regulamento. Empresas e instituições (os clubes estão inseridos nesta atividade) de sucesso têm por característica a disciplina no cumprimento de um organograma de planejamento, no estudo e execução de processos que conduzem ao aparecimento de resultados dentro e fora do campo.
Trago como ponto a ser elucidado a questão sobre como um clube pode, de fato, se organizar nas quatro linhas se a ele não for imposto um teto de contratações de técnicos por temporada. Por que não se limita em uma ou duas trocas que sejam?
Outro fato a ser citado é que a relação entre clube e treinador já está deteriorada há muito tempo. Não existe confiança de nenhuma das partes. Se antigamente “os foras” eram iniciativas unilaterais dos clubes, de uns tempos pra cá isso mudou. A quantidade de técnicos que exercem rupturas de contratos segue uma crescente. Até mesmo pela fragilidade que seus cargos representam nos dias atuais. E por isso os direitos precisam ser iguais. Deve-se limitar também a quantidade de clubes que um profissional pode assumir em uma temporada.
A era dos pontos corridos – iniciada em 2003 – acaba de completar 15 anos. Clubes tradicionais como Atlético-PR e Bahia alcançaram a inacreditável marca de 63 trabalhos neste período. Isso sem abordar os relacionamentos de ida e vinda incessantes! Neste quesito, parece que os clubes do Rio de Janeiro são expertises no tema. Lembram de Joel Santana? Pois bem. Pasmem. Contratado pelo Flamengo em cinco ocasiões, acabou dispensado em três delas. Ou então Celso Roth que, em, menos de década, foi contratado e demitido três vezes pelo Vasco da Gama? E não é preciso citar outros inúmeros casos desta vergonhosa realidade.
A exemplo de Larghi no Galo, a bola da vez parece ser Tiago Nunes, do Atlético-PR, finalista da Copa Sul-Americana e com grandes chances de ser campeão após o empate em 1 a 1 com o Junior Barranquilla no duelo de ida na Colômbia. Tudo bem que ainda não veio a efetivação, mas para quem assumiu o Furacão no início do returno do Brasileiro, quem garante que, se ela vier, o treinador terá vida longa no clube paranaense?
A ausência de regulação destes profissionais é um convocação à contratação desenfreada de treinador e atletas sem embasamento legítimo, com prejuízo ao sistema eficaz de estruturação de elencos. Afinal, na iminência de um fracasso, outras opções estarão prontas a reverberar o ciclo vicioso de dispensas e reposições. Os torcedores de clubes reféns dessa política seguirão insatisfeitos, os espetáculos não darão o retorno esperado e o jeitinho brasileiro vai ganhando status de norma constitucional nas instituições.
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