Luiz Gomes: ‘Ainda há espaço para quatro grandes no futebol do Rio?’
'No Brasileirão de 2021, o Rio terá apenas dois representantes na Série A. Mesmo número de cearenses e mineiros e menos da metade dos cinco participantes de São Paulo'
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Encerrada a temporada 2020, uma tragédia anunciada desde antes da pandemia veio, enfim, a confirmar-se: Botafogo e Vasco estão fora da elite do futebol brasileiro. Pela primeira vez, dois times dos chamados grandes cariocas descem de mãos dadas para a Segundona. E sabe-se lá qual é o futuro que os aguarda.
Afinal, qual é hoje o tamanho do futebol em um estado que já foi o mais glamouroso do país?
No Brasileirão de 2021, o Rio terá apenas dois representantes na Série A. O mesmo número de cearenses e mineiros - apesar do vexame cruzeirense - menos do que os três representantes do Rio Grande do Sul e menos da metade dos cinco participantes de São Paulo.
Mas o buraco em que se meteu o futebol carioca é ainda mais profundo. Se considerarmos as quatro séries do Brasileirão, o estado tem apenas oito clubes classificados. São Paulo, com quem até há pouco os cariocas dividiam a supremacia tupiniquim, tem nada menos do que 17. Minas, Paraná e Santa Catarina têm 8, e o Rio Grande do Sul, 9.
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Clubes que outrora foram tradicionais como América, Olaria, Bonsucesso, Portuguesa e São Cristóvão, na capital, Goytacaz e Americano de Campos, no interior, simplesmente desapareceram do cenário do futebol nacional. O caso mais dramático é mesmo o do América - o Mesquinha, que um dia já foi Mecão -, uma espécie de segundo time do coração de todo carioca e que há anos luta para ao menos manter-se vivo. Está fora até mesmo da primeira divisão do Rio.
O Vasco, definitivamente, parece ter se transformado em um time ioiô, um desses que sobem e descem ano após ano. Foi o seu quarto rebaixamento e, ao lado de Avaí, Coritiba e Vitória, é o clube que mais caiu desde que o Brasileirão entrou na era dos pontos corridos.
Ainda mais preocupante, contudo, é a situação do Botafogo. Mergulhado na maior dívida entre os clubes do país, em situação complicada no Programa de Refinanciamento da União, o Profut, o alvinegro de General Severiano corre o risco de ver naufragar o projeto de sua transformação em clube-empresa, o que atrairia investidores acendendo uma luz no fim do túnel. O efeito América é o que assusta agora o torcedor alvinegro.
Para complicar, é bom lembrar que a Segundona de 2021 tende a ser a mais difícil dos últimos anos para quem almeja voltar à elite. A disputa deve ser acirrada e o mau exemplo do Cruzeiro - o primeiro dos grandes a não conseguir o acesso imediato - já é concretamente um fantasma a sobrevoar a cabeça de vascaínos e botafoguenses.
Há várias razões para justificar esse cenário. A decadência econômica e a deterioração das instituições com a sucessão de escândalos políticos no Estado do Rio são fatores externos ao futebol, mas que têm um peso. A repetição de gestões amadoras e temerárias que corroeu os clubes nas últimas décadas, a ineficiência e perda de influência da federação estadual e, mais recentemente, o abismo que a modernização e profissionalização do Flamengo abriu em relação aos rivais cariocas completam o quadro.
Os estaduais, que começam neste fim de semana, de Norte a Sul do país, pouco despertam o interesse do torcedor. Mas o Campeonato Carioca, especificamente, vive um ocaso ainda mais profundo. Depois de romper com a Globo, a FERJ assinou um contrato de última hora com a Record. Uma perda sensível no potencial de audiência, embora a emissora prometa levar os jogos em TV aberta para 15 estados. Já o pay-per-view será produzido pela própria federação - em parceria com um ex-executivo global - e comercializado por quatro operadoras de TV por assinatura.
Dentro de campo, muito dificilmente alguém – nem o surpreendente Fluminense – terá condições de ameaçar a supremacia rubro-negra, ainda que o Flamengo opte por não usar a força máxima de um bicampeão brasileiro em boa parte do torneio. Parodiando aquele locutor de TV: no Carioca 2021 vai faltar emoção até o fim.
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