Luiz Gomes: ‘O buraco no futebol brasileiro é o calendário’
A menos de um mês da abertura da Copa, em praticamente nenhum outro lugar do mundo civilizado da bola os campeonatos nacionais estão em andamento.
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O fracasso da tentativa da CBF de manter em sigilo a lista de jogadores reservas da Seleção vai muito além de uma trapalhada, um deslize da comissão técnica de Tite e da diretoria da entidade. Sim, ninguém pensou na determinação da Fifa que impedia os pré-convocados de entrar em campo a partir do dia 20. Quando alguém se deu conta já era tarde demais. A surpreendente e forçada barração de Dudu, no jogo do Palmeiras contra o América-MG pela Copa do Brasil, quarta-feira, trouxe o problema à tona. A rodada cheia deste fim de semana escancararia os nomes deixando Cruzeiro, Flamengo, Corinthians, Grêmio, Palmeiras e São Paulo sem alguns de seus principais nomes.
A própria CBF, pressionada por todos os lados, acabou se incumbindo de quebrar o sigilo da lista, antes mesmo de conseguir na Fifa a liberação dos jogadores, em caráter de total excepcionalidade, já que pelo regulamento das convocações apenas quem disputou a final da Champions League, no sábado, e a rodada de meio de semana da Libertadores, a pedido da Conmebol, estava autorizado a jogar.
Mas vamos ao cerne do problema. O motivo real de todo esse imbróglio.
A menos de um mês de Rússia e Arábia Saudita entrarem em campo na abertura da Copa, em praticamente nenhum outro lugar do mundo civilizado da bola os campeonatos nacionais estão em andamento. Na Alemanha, na Inglaterra, na França, na Espanha, em Portugal e nos outros países europeus, na Argentina e no México, os campeões da temporada já são conhecidos e os jogadores, exceto os convocados para as seleções, desfrutam de justas e merecidas férias. Mas aqui que não.
O assunto está muito longe de ser uma novidade. Perdoem, assim, se volto a ele. Mas, entra ano e sai ano, vem Copa depois de Copa e a cartolagem do futebol brasileiro não faz o dever de casa: é preciso adequar o nosso calendário ao que é praticado no restante do planeta. No mundo globalizado em que vivemos, não há mais espaço para fórmulas jabuticaba
Os argumentos de quem defende o calendário anualizado são frágeis como uma taça de cristal.
- O calor do verão brasileiro? Mas o Brasileirão de 2017 não terminou em 3 de dezembro e os estaduais começaram em 17 de janeiro? Mais calorão impossível.
- As férias dos jogadores fora do período escolar? Mas julho também não é um mês sem aulas? Mais do que este ou aquele mês sem jogar, o que deve ser garantido aos atletas - e frequentemente não é, como aconteceu este ano -, são ao menos 30 dias de descanso e outros 30 de pré-temporada, sem jogos, para preparar o físico para enfrentar o rojão da temporada.
-A dificuldade de negociar patrocínios quando o campeonato não fecha no ano fiscal.? Mas, ao que se saiba, novelas e seriados, só para dar um exemplo banal, não começam em janeiro e terminam em dezembro. Aliás, a própria Globo, a toda hora citada como inimiga da adequação do calendário, por vezes já declarou, ao menos publicamente, que nada tem a opor e que esse assunto não lhe diz respeito. O que, aliás, é um fato.
E o que ganharíamos com a mudança?
Bem, evitar vexames como o que a CBF passou nos últimos dias é apenas o menor dos benefícios. Jogando no tempo do resto do planeta, os clubes brasileiros poderiam, enfim, trabalhar na internacionalização de suas marcas. Disputar amistosos quando todo mundo disputa. Fazer pré-temporadas lucrativas, em outros países. Com as janelas de transferência casadas, evitaríamos o desmanche por que passam alguns times em pleno Brasileirão, evitaríamos a perda de jogadores em meio do campeonato. E, principalmente, acabaria a loucura de manter as competições nacionais ao longo de uma Copa do Mundo – como vai acontecer com as séries B e C este ano – ou em paralelo às Olimpíadas, às Copas Américas e outros torneios de relevância. Isso gera prejuízos, reduz a exposição da marca dos patrocinadores, reduz o público nos estádios e faz perder receitas.
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Já não se trata de uma questão de gostar ou não gostar. A mudança, cada vez mais, se mostra inevitável. E quanto maior o tempo perdido maior serão as consequências. Insistir nisso é viver no passado. É fazer do Brasil a vanguarda do atraso. É ampliar o abismo que nos separa, especialmente os nossos clubes, das grandes ligas pelo mundo.
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