Luiz Gomes: ‘Como na Europa, o futebol não precisa parar’

'Os estaduais deveriam continuar. São campeonatos mais curtos, localizados, e que por isso exigem uma logística mais simples de ser controlada. Algo perfeitamente viável'<br>

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Afinal, o futebol deve ou não deve parar. Isso virou assunto recorrente na mídia, ainda mais depois que o governo de São Paulo proibiu a realização de jogos no estado. A maior parte dos colunistas têm defendido que sim, que o calendário deve ser suspenso, que o esporte não pode viver num mundo à parte, numa bolha que não leve em conta a tragédia que vive o país. Permitam- me discordar.

É uma questão de coerência.

Diante do negacionismo, da incompetência e da estupidez de como a pandemia desde o início vem sendo tratada no Brasil por quem deveria combatê-la, o que mais se ouve e se reinvindica por aqui é que se implemente medidas como as que a União Europeia e os Estados Unidos pós Trump adotaram para enfrentar a propagação do vírus, especialmente a partir da chamada segunda onda.

Paises como Portugal, Alemanha, França e Inglaterra estabeleceram lockdown em determinados momentos. Ali, como se sabe, todas as atividades não essenciais foram paralisadas e o toque de recolher entrou em vigor. Alguns estão mais avançados na vacinação, outros, como nós, se debatem com a falta ou a insuficiência de doses. Mas o que os une é que, mesmo nos piores momentos, em nenhum deles, nesta segunda fase, os campeonatos nacionais de futebol foram paralisados. Nem a Champions ou a Liga Europa, aliás.

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Houve problemas por lá, alguns times sofreram com surtos de Covid e jogadores importantes perderam jogos importantes. Como aconteceu também aquí, quando vários casos foram registrados durante o Brasileirão 2020 e, agora mais recentemente, com o elenco do Corinthians no Paulistão. Isso é um fato, não há como negar. Mas nem por isso a bola parou de rolar do outro lado do Oceano Atlântico.

Tudo deveria continuar, então, como previsto no calendário brasileiro, como se nada estivesse acontecendo? Certamente que não.

A Copa do Brasil, por exemplo, não deveria ter sequer começado. Por mais que a CBF afirme que protocolos estão sendo cumpridos não há segurança em fiscalizar tudo o que se passa dos cantões do Amapá aos pampas do Rio Grande do Sul. É uma falácia garantir isso. Longos deslocamentos em voos comerciais, estádios sem estrutura sanitária básica, cidades com hospedagem precária são um risco. Para quem joga e para quem tem contato com quem joga.

Os estaduais, contudo - e este é o ponto que defendo -, deveriam continuar. São campeonatos mais curtos, localizados, e que por isso exigem uma logística, principalmente quanto aos deslocamentos e a testagem dos jogadores, mais simples de ser controlada. Algo perfeitamente viável, se levado a sério.

O futebol é uma atividade essencial? Obviamente que não. Mas - negócio e o dinheiro que movimenta à parte - é um elemento capaz de levar um pouco de entretenimento e de "normalidade" ao mundo anormal em que vivemos. E não há quem não precise disso. Essa é a lógica europeia.

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