Luiz Gomes: ‘É hilário que o novo embaixador do turismo brasileiro sequer possa viajar ao exterior’

Não dá para saber o que é pior: se a Embratur convidar Ronaldinho Gaúcho para o cargo ou se o ex-jogador ter a cara de pau de aceitar um convite como esse

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Não dá para saber o que é pior: se a Embratur convidar Ronaldinho Gaúcho para ser embaixador do turismo brasileiro ou se o ex-jogador ter a cara de pau de aceitar um convite como esse. Qualquer que seja a opção, trata-se de uma desfaçatez

O futebol é um celeiro de rebeldias. Dos rebeldes com causa, de outros nem tanto assim. Há os craques contestadores, os que desafiam o sistema, mas também os que não gostam de treinar, os que não vivem vida de atleta, os que não respeitam o que assinam. Sempre foi assim e assim será. Alguns se impõem com a bola nos pés. Muitos nem isso conseguem.

Na história recente há casos clássicos dos que, depois de pendurar a chuteira, procuraram dar um novo sentido para a sua biografia. Edmundo, de animal em campo, virou comentarista de TV, Romário fez carreira na política. Elegeu-se deputado levantando bandeiras do esporte e das pessoas com deficiência, inspirado no problema da filha mais nova que nasceu com a síndrome de down. Sobreviveu ileso até à avalanche de denúncias e falcatruas que se abateu sobre a política carioca. Concorde-se ou não com o que um diz na TV e o outro defende no parlamento, não há como negar que eles se encontraram.

Há outros, como Adriano, que fazem a opção de apenas tocar a vida, viver do jeito que bem entendem, deixando de lado o mundo do futebol. Mesmo quando ainda tinha condições de jogar, o Imperador decidiu trocar a maratona estafante de treinos, concentrações e jogos duas vezes por semana pelas rodas de pagode, os passeios de moto e o convívio de belas mulheres na Vila Cruzeiro e arredores. Não incomoda a ninguém, por mais que tenha sido cobrado por isso, pelo desperdício de seu talento.

Ronaldinho Gaúcho, contudo, não é uma coisa nem outra. Tornou-se tão somente um fora da lei, condenado pela Justiça de Porto Alegra em um processo pela construção ilegal de um trapiche, com plataforma de pesca e atracadouro, na orla do Guaíba, em Porto Alegre, em plena área de preservação permanente e sem licenciamento ambiental. Como se sabe, recursou-se a pagar a multa, hoje em cerca de R$ 9,5 milhões e teve apreendido seus passaportes – o brasileiro e o espanhol – estando, portanto, impedido de sair do país.

Seus dotes futebolísticos foram inegáveis. Ninguém se torna impunemente um dos maiores ídolos da história de um clube do tamanho do Barcelona; ninguém constrói uma trajetória de êxitos na Seleção Brasileira, se não tiver talento. Revelado pelo Grêmio, eleito duas vezes o melhor jogador do mundo pela Fifa, ao longo da carreira ganhou títulos tão importantes quanto a Champions e a Libertadores , duas ligas espanholas e duas copas da Espanha, uma liga italiana, a Copa do Mundo de 2002, a Copa das Confederações de 2005 e a Copa América de 1999. Trata-se inegavelmente de um vencedor.

Mas o sucesso nos gramados, não poucas vezes veio acompanhado de polêmicas nos bastidores. Depois dos tempos de glória no Barça, sua rápida passagem pelo Milan, o Flamengo, o Fluminense e mesmo o Atlético-MG se deu pela porta dos fundos. Seja pela queda do rendimento ou por negociações nem sempre transparentes, conduzidas pelo irmão Assis, seu empresário e guru. O caso da condenação pela Justiça gaúcha foi apenas o ápice de um comportamento movido pela Lei do Gérson, aquela de quem sempre quer tirar vantagem de tudo, ainda que ao arrepio da lei e dos valores éticos.

É hilário que o novo embaixador do turismo brasileiro sequer possa viajar ao exterior. Ao assumir a função, voluntaria e sem remuneração (era só o que faltava não ser assim!!) o ex-jogador disse que sua missão seria a de recuperar a imagem do Brasil internacionalmente. Terá sucesso garantido se for a imagem de um país que – como ele fez em Porto Alegre - despreza o meio-ambiente, faz a apologia das armas e da tortura, corta verbas para a educação e a cultura, prega a intolerância e não aceita as diferenças. Para esse Brasil, não poderia haver um embaixador melhor. Talvez, só mesmo o filho do presidente.

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