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Luiz Gomes: ‘São Paulo fez com Crespo o que o Flamengo não fez com Dome’

'Tricolor paulista partiu de um projeto, de uma proposta de jogo para chegar a um nome, e não o contrário, como fez o Rubro-Negro carioca com o espanhol'

Hernan Crespo
Hernán Crespo foi anunciado na sexta como técnico do São Paulo (FOTO: Divulgação / Twitter Defensa y Justicia)

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Há algo de novo nos céus do Morumbi. O processo seletivo do São Paulo, que culminou com o anúncio da contratação do argentino Hernán Crespo, é algo inédito no futebol brasileiro. E muito raro mesmo entre os grandes clubes das ligas europeias. Se prometeu profissionalizar o clube e implementar uma gestão nos moldes empresariais, certamente o presidente Julio Casares e sua diretoria deram um primeiro e valoroso passo.

Crespo passou por um verdadeiro processo seletivo, algo de fazer inveja ao RH de muita multinacional por aí. Depois de dezenas de entrevistas com pretensos candidatos, tornou-se finalista em uma lista tríplice que incluiu ainda o português Pedro Martins e o espanhol Miguel Ángel Ramírez. Razões técnicas, econômicas ou contratuais – como o acerto prévio entre Ramirez e o Internacional – acabaram por fazer com que a balança pendesse para o lado do argentino. Melhor para o Tricolor!

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A escolha de Crespo tem um significado ainda maior. O São Paulo fez exatamente o que o Flamengo deveria ter feito e não fez quando trocou Jorge Jesus pelo catalão Domenèc Torrent: partiu de um projeto, de uma proposta de jogo para chegar a um nome, e não o contrário, como fez o Rubro-Negro carioca. Se Dome nada tinha a ver com os conceitos de futebol de Jesus, que encantaram o Brasil em 2019 e que o Flamengo queria repetir, Crespo, um treinador com uma carreira ainda em ascensão, tem no seu jeito de montar o time e ver o jogo muito do que a nova diretoria espera ver consolidado como o DNA são-paulino.

E isso, em muitos aspectos, passa até pelo legado deixado por Fernando Diniz.
Crespo tem obsessão pelo futebol ofensivo. Seus times trabalham a saída de bola, evitando os chutões, como fazia o São Paulo sob o comando do ex-treinador. Mas o argentino preza a objetividade, a verticalidade e velocidade na transição para o ataque. Seus times propõem o jogo, gostam de ter a bola, pressionam o adversário quando não estão com ela, seja na marcação avançada, seja na rápida recomposição defensiva. Essa foi a fórmula que levou o Defensa y Justicia a ganhar a Copa Sul-Americana de 2020, a primeira conquista internacional do time e o primeiro título relevante da curta carreira de Crespo como treinador.

Nada garante que o trabalho do ex-atacante da seleção argentina vai dar certo no São Paulo. É o primeiro clube de grande torcida que ele dirige, passou antes apenas pelo Modena da Itália e o Banfield, da Grande Buenos Aires, antes de chegar ao Defensa. Agora, vai experimentar um outro nível de pressão, está se metendo num caldeirão em ebulição, em um clube que vive um jejum de títulos, que passou por um caos político-administrativo e que procura se reconstruir. Vai assumir um time em início de temporada, é verdade, mas isso não chega a ser nenhum alento em um ano com o calendário encavalado e muito pouco tempo para treinamento.

O novo comandante são-paulino precisa mostrar resultados. Não há outra alternativa. Nada garante que a diretoria tricolor, por mais profissional que tenha sido na sua escolha, não possa sucumbir às pressões imediatistas do futebol tupiniquim – o mesmo mal que se abateu sobre Dome e que já ronda a cabeça de Rogério Ceni, no Flamengo. Modernizar a gestão já não é fácil. Enfrentar uma cultura arraigada no futebol de um país inteiro é muito mais complicado.

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