‘Maracanã sob gestão compartilhada tem tudo para dar certo’
Luiz Fernando Gomes: 'Donos agora do seu próprio nariz, Fla e Flu precisam ousar. Aperfeiçoar os programas de sócios e fazer do dia do jogo uma fonte real de arrecadação'
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A decisão do governo do estado do Rio de ceder a Flamengo e Fluminense a gestão temporária do Maracanã é uma luz no fundo do túnel em que, nas últimas décadas, meteu-se o futebol o carioca.
Desde a primeira e longa interdição para obras - a reforma visando os Jogos Pan-Americanos de 2007 – o Maracanã transformou-se num fardo. Virou foco de corrupção, praticamente veio abaixo para ser adequado ao padrão Fifa num verdadeiro vazadouro de dinheiro público. Foi objeto de um desastrado processo de concessão que, voltado exclusivamente para o lucro e sem levar em conta práticas republicanas e valores esportivos, cada vez mais o afastou do que deveria ser, sempre, sua principal vocação: ser a casa dos grandes clubes do Rio, o palco dos grandes clássicos, dos embates inesquecíveis.
O acerto entre a dupla Fla-Flu e o estado é tardio. A intenção – especialmente do Rubro-Negro – de participar de forma ativa da gestão do estádio vem desde o anúncio da primeira licitação. Do jogo de cartas marcadas do então governador Sérgio Cabral para beneficiar a Odebrecht fez parte, contudo, a proibição de que clubes integrassem os consórcios que se interessassem em assumir a administração do complexo.
Cabral, aliás, que na fase atual de corrupto-arrependido, assumiu suas falcatruas também nessa área, foi o grande protagonista das mazelas em torno do Maracanã. Durante seu mandato, patrocinou, ao sabor de seus interesses econômicos e eleitoreiros e em benefício de seus amigos, idas e vindas que levaram ao estado de penúria equipamentos importantes para o esporte do Rio, como o estádio de atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio Delamare, comprometendo por fim, o próprio equilíbrio financeiro da concessão ao suspender a construção de um shopping center e de um edifício garagem previstos no acordo original.
A parceria assinada pelos presidentes Rodolfo Landin e Pedro Abad não terá pela frente uma tarefa fácil. Certamente, com a eliminação de intermediários na administração do estádio, os custos de jogar ali vão ser reduzidos. O contrato de seis meses prevê que os clubes assumam os custos fixos de operação, estimados em R$ 2 milhões mensais, além de pagarem um aluguel de R$ 166 mil e mais 10% da receita do Tour do Maracanã, programa de visitação do estádio, com um mínimo garantido de R$ 64 mil para os cofres públicos. Não é pouco dinheiro, é uma equação que vai exigir, de um lado, uma política realista de preços de ingressos, e, de outro, a manutenção de médias elevadas de público, um desafio ainda maior para o Tricolor que, pelo modelo atual, tem registrado sucessivos prejuízos ao jogar no Maraca.
O acordo provisório, prorrogável por mais seis meses, além de garantir o funcionamento saudável do Maracanã enquanto uma nova fórmula de concessão é elaborada pelo estado, traz o benefício de funcionar como um laboratório, permitindo aos clubes gestores desenvolverem um modelo sólido de negócios para, aí sim, buscarem um acordo de 30 ou 35 anos, tempo que deve ser estabelecido no contrato definitivo de exploração.
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O que é preciso, agora, é buscar investidores e parceiros, operadores de catering, promotores de espetáculos e eventos, profissionais de gestão esportiva que viabilizem a operação, garantindo retorno à empreitada. Até mesmo a mão estendida a Botafogo e Vasco, oferecendo condições mais favoráveis para jogarem no estádio, com a redução de R$ 150 mil para R$ 90 mil do valor do aluguel e a possibilidade de até se tornarem sócios se fizerem ao menos 25 jogos por ano, pode ser um fator positivo, se bem negociada e com vantagens para todos.
O Maracanã sob gestão compartilhada tem tudo para dar certo. Não seria uma experiência única. Na Alemanha, a Allianz Arena, casa do Bayern, por muito tempo foi dividida também com o Munique 1860. Na Itália, o estádio de Milão é chamado de San Siro, quando joga o Milan, ou Giuseppe Meazza, quando o mandante é a Inter.
Donos agora do seu próprio nariz, Flamengo e Fluminense precisam ousar. Aperfeiçoar os programas de sócios torcedor, fazer do dia do jogo uma fonte real de arrecadação, uma experiência que vá além da bola para o público com festas, ações de patrocinadores, bares e restaurantes, como acontece na Europa. Oferecer conforto, segurança e qualidade dos serviços é o caminho para o sucesso.
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