Novos campeões nacionais? Buscas nos bastidores aumentam expectativas por reconhecimento de título
Dirigentes e ex-jogadores opinam sobre a busca de quarteto por conquista em conjunto da Série B de 1986
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O desejo de registrar uma história vencedora fez quatro clubes se unirem para serem declarados campeões. Treze, Central, Inter de Limeira e Criciúma encaminharam o pedido para que sejam reconhecidos, em conjunto, como vencedores da Série B de 1986. O sonho de fazer com que o Torneio Paralelo ganhasse novo significado ficou mais acentuado há cerca de um mês.
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O reconhecimento de que o Torneio dos Campeões, vencido pelo Atlético-MG em 1937, é equivalente ao Brasileiro, deu mais fôlego para a união das equipes do Torneio Paralelo. Antes pleiteado com mais afinco pelo Galo da Borborema e a Patativa, o movimento teve a adesão do clube paulista e da equipe catarinense.
- O Treze e o Central tomaram a iniciativa, cada um em sua federação. A gente escreveu ao Criciúma e à Inter de Limeira e, assim, a campanha conjunta foi ganhando forma - detalhou ao Lance! o presidente do Treze, Artur Bolinha, acrescentando:
- Procuramos a Federação (Paraibana) com uma argumentação para que pudéssemos solicitar o pedido à CBF. Nosso objetivo é mostrar que os quatro tiveram condições de estar em 1986 na elite do futebol. Caso houvesse uma disputa, todos teriam condições de subir como campeões da Série B. E agora, com esse precedente do Atlético, podemos mostrar que houve essa questão de não terminar a Série B - explicou.
Vice-presidente do Central, Sivaldo Oliveira frisou que uma eventual homologação servirá como registro.
- Os quatro clubes se classificaram para jogar a Série A no mesmo ano! É o campeão de cada grupo reivindicando um título, e isso não vai afetar o ranking da CBF. Cada um tinha o seu grupo e venceu. Esperamos que a entidade concorde - declarou.
Presidente do Conselho da Inter de Limeira, Paulo César Scaraviello Júnior apontou que a esperança da equipe paulista é por uma justiça histórica.
- Algum tempo atrás fomos convidados e pleiteamos esse título. Após o reconhecimento do Atlético-MG, ganhou corpo a situação. Por mais que haja quatro campeões na Série B, esse reconhecimento apagará um erro que foi não deixarem a Inter de Limeira disputar a Primeira Divisão de 1986. A equipe foi campeã paulista, mas logo depois teve de disputar o que era equivalente a uma Segundona. A única vantagem que tinha era a possibilidade de se classificar para a segunda fase, na qual poderia jogar com times da elite. A Inter mostrou sua força, foi campeã do grupo e isso deve ser reconhecido. Seria importante esse título, mesmo dividindo com três agremiações - afirmou.
Em pronunciamento oficial, o diretor de relações internacionais do Criciúma, Rodolfo Moretti, justificou o fato do clube se juntar aos demais.
- Seria um registro histórico de um feito considerável à época. Com isso, também resgatamos a história vencedora daquele time de 1986, campeão catarinense daquele ano e que também ascendeu à elite do futebol brasileiro - disse.
QUANTA HISTÓRIA: 1986, O ANO QUE AINDA DÁ O QUE FALAR
Originalmente, o regulamento da Copa Brasil (nome do Campeonato Brasileiro de 1986) não previa a disputa de uma Série B. Os quatro clubes que pleiteiam o título disputaram o Torneio Paralelo (veja os detalhes abaixo).
+ Confira a classificação do Campeonato Brasileiro
AS 'MARCAS' DA COMPETIÇÃO
O Torneio Paralelo não deixou ps feitos das equipes que se classificaram para as fases finais do Brasileirão apenas na memória. Na fachada do Estádio Presidente Vargas, em Campina Grande, o Treze expõe a frase "Campeão brasileiro de 1986 - Série B".
Em Caruaru, o Central também passou a estampar no concreto de seu estádio o posto de campeão da Série B do ano de 1986. Em 2019, ano no qual a Patativa comemorou seu centenário, um outro episódio em torno das memórias da competição chamou atenção.
Um torcedor entregou à diretoria da época uma réplica do troféu da Série B como presente, que tinha na base o escudo do Central e a inscrição de "campeão da Série B de 1986". Mesmo com a CBF não declarando campeões naquela edição, dirigentes ergueram a "taça" no Estádio Lacerdão.
GALO DA BORBOREMA: SONHO ACALENTADO HÁ DÉCADAS
O Treze tenta há anos colocar no papel seu título de campeão da Série B de 1986. O mandatário Artur Bolinha vê a nova investida com otimismo.
- O reconhecimento trará apenas uma questão de justiça para os clubes que tiveram campanhas merecedoras de estar na Série A. Foram disputas muito difíceis. Isso vai coroar grandes times - afirmou.
Destaque do Galo da Borborema na época, Fernando Baiano vê com expectativa a possibilidade de se tornar campeão da Série B com décadas de atraso.
- Esse título deveria vir há mais tempo. Estávamos numa fase muito boa, fizemos uma campanha forte e devíamos ser congratulados. Éramos treinados pelo Waldemar Carabina e contávamos com jogadores de peso como Rinaldo, Cláudio Mineiro, Bill... Não é à toa que o (jornalista e ex-ténico da Seleção Brasileira) João Saldanha dizia que crescíamos quando jogávamos em Campina Grande - afirmou.
PATATIVA: BUSCA POR HOMOLOGAR SEU PRIMEIRO TÍTULO NACIONAL
Central: querendo primeiro e histórico título de ponta (Foto: Assessoria / Central)
O Central também pode conquistar em grande estilo seu primeiro título de ponta de sua história. No Estadual, o máximo que conseguiu foi se tornar finalista da edição de 2018 (perdendo o título para o Náutico).
Meia da Patativa no Torneio Paralelo de 1986, Evandro valoriza a luta do clube nos bastidores.
- Apesar do Brasil não valorizar muito sua história, é importante o clube buscar seu direito. Neste período, os regulamentos mudavam de um ano para outro, mas a gente sabe o quanto lutou e obteve o acesso - e destacou:
- Tínhamos uma boa equipe montada pelo Ernesto Guedes. A base foi montada no Pernambucano e foi dando certo, aos poucos a gente conseguiu se impor e se classificou muito no limite - disse.
A equipe de Caruaru ficou empatada em vitórias, empates, derrotas, números de gols pró e contra e saldo de gols contra o Americano. Com isso, a decisão da vaga foi para sorteio na CBF, e a Patativa levou a melhor.
LEÃO DE LIMEIRA: ESPERANÇA POR 'REPARAÇÃO'
Em Limeira, o clima é de que a homologação da Série B de 1986 fará jus a uma equipe histórica. A cidade não digeriu situações que rondaram o time que foi campeão paulista meses antes, ao derrotar o Palmeiras por 2 a 1 no Morumbi.
- O nosso incômodo não é ter de dividir título hoje. Incômodo foi um time campeão paulista não disputar a Taça de Ouro (nome dado na época à Série A). Nos deram essa consolação de disputar o Torneio Paralelo. A classificação veio, felizmente, e só mostraram a força da nossa equipe - disse o conselheiro Paulo César Scaraviello Júnior.
Meia do Leão de Limeira, Tato contou que, na época, a situação pegou a equipe de surpresa.
- Fomos campeões paulistas e não subimos para a primeira! Alguém pegou nossa vaga, pareceu muito estranho - declarou.
O ex-jogador destacou o empenho da equipe paulista no Grupo G.
- Tínhamos perdido muitos jogadores. O Kita foi para o Flamengo, Juarez para o Palmeiras. Mesmo assim, ficou uma base forte e fomos lutando até o final - contou.
Aos seus olhos, a equipe tem motivos para almejar o título na CBF.
- O Atlético-MG foi contemplado recentemente. A Inter de Limeira é um time grandioso. Seria bacana para nós - afirmou.
Presidente do Conselho, Paulo César Scaraviello Júnior acrescentou.
- Para a Inter de Limeira, um reconhecimento vai ser uma "reparação histórica". Serão quatro campeões? Paciência! Mas a equipe mostrou que poderia chegar até a final se a Série B continuasse. Vamos ficar tão orgulhosos quanto no título de 1988 (a equipe de Limeira tem uma Série B no currículo). Caso ocorra, a homologação da Série B de 1986 pagará uma dívida eterna - disse.
TIGRE: ESPERANÇA NA DIRETORIA. MAS...
O Criciúma também se manifestou pelo quarteto se juntar em busca do reconhecimento do Torneio Paralelo como título da Série B de 1986. No entanto, nem todos apoiam a atitude de pleitear a conquista.
Lateral que mais tarde venceu a Copa do Brasil de 1991, Sarandi ressaltou.
- Sou de acordo com o que estabelecia o regulamento, que não especificava o Torneio Paralelo como título. Ele era um passo para disputar a sequência da Série A. Permitia que a gente fosse avançando, até que terminou no meio do caminho - disse, acrescentando:
- Naquele ano, fomos campeões estaduais. Depois, enfrentamos clubes do Sul. Conquistamos a vaga e fomos "guindados" ao Brasileirão - justificou.
Sarandi valorizou a maneira como o Tigre se consolidou para garantir a vaga à fase seguinte.
- Ficou a lembrança do início de uma instituição. Fomos campeões estaduais, fomos bem no Paralelo, bem treinados. Anos depois, veio a conquista da Copa do Brasil - afirmou.
Em compasso de espera, quatro clubes aguardam um aceno da CBF para saber se podem acrescentar uma estrela no peito.
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