Papo com Beto: ‘O mundo do futebol brasileiro após o pico da pandemia’
É impossivel cravar quando a temporada recomeçará. Terá de existir criatividade para remontar torneios. E há a chance de ouro para nossa adequação ao calendário mundial
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A pandemia não é eterna. Vai seguir por algum tempo e, quando ocorrer a retomada esportiva, tudo terá de ser feito de forma paulatina. Isso significará uma pré-temporada curta para todos os esportes e, no caso do nosso futebol, provavelmente as partidas iniciais serão jogadas sem público e com pouquíssimos profissionais da imprensa - os responsáveis pela geração de imagens das TVs, todos testados antes e após os eventos, como vem sendo estudado pelas federações da Europa e também nos esportes americanos ( a NBA, aliás, vem sendo uma espécie de referência esportiva. Quando ela definiu a suspensão dos jogos, alavancou a atenção mundial. Na sua cola, os organizadores de várias outras competições cancelaram eventos de forma geométrica. Por isso, fico de olho no que ocorre por lá).
Mas a realidade é que nada vai acontecer num estalar de dedos. Haverá várias fases de involução da pandemia - a começar por 14 dias seguidos de queda de mortalidade e de novos infectados - até que a política de isolamento comece a ser atenuada. Então, só depois de pelo menos duas semanas de redução no número de casos, poderá se cogitar uma intertemporada de preparação e aí, com o consentimento de todas as partes - esportivas, de saúde e governamentais - a chance de jogos com portões fechados.
Tomemos por base a China, país onde os primeiros casos da Covid-19 foram registrados no finzinho de 2019. Em 11 de fevereiro a China tinha o número de casos que o Brasil tem hoje. Lá, os números aos poucos foram arrefecendo, mas somente na semana passada alguma normalidade pôde ser retomada por lá. Competição esportiva? Nada até maio.
No Brasil, o pico ainda está longe de ser atingido, dizem que será em junho. Isso significa que se começar a cair a partir da segunda quinzena, coloque aí julho inteiro para a confirmação da queda e, aí, em agosto, talvez tenhamos uma certa normalidade, com as empresas abertas, gente nas ruas e os atletas começando a preparar-se para a volta às atividades (com portões fechados).
Isso dito, vamos bater num problema para o calendário do nosso futebol. Com a bola rolando talvez em agosto (um meio termo - nem tão otimista como quem imagina o retorno em junho, nem pessimista como quem prevê a volta em outubro), temos a situação dos Estaduais e do Campeonato Brasileiro.
O caso dos Estaduais é complicado. Não teríamos datas, forçando a barra, mais uma ou das . Há certamente dezenas de estudos nas federações, mas tudo depende de uma retomada quase imediata das atividades, o que não é viável. É necessário escolher a circunstância mais justa – ou menos injusta. Foi assim que fizeram os clubes escoceses. Por votação muito apertada, eles vão dar o campeonato por encerrado com os pontos atuais, antes da interrupção-Covid. Claro que o vice-líder Rangers - que não ganha um campeonato desde o início da década - torce o nariz ao ver o Celtic novamente com o título e o Hearts (quatro pontos atrás do penúltimo colocado) não queria ser rebaixado. Mas paciência, foi o menos danoso.
Quem lê pode falar: "Estadual não é ponto corrido, não vale essa". Sim, mas aí há uma questão de ver o que é o tal do menos injusto.
No Carioca, o Flamengo ganhou o turno e o Flu é o time com mais pontos. Que se faça um jogo entre eles.
Na Paulista, que se considera os campeões de grupos, um jogo semifinal (AxB, CxD ) e uma final.
O Mineiro tem a sua primeira fase em pontos corridos e só faltam duas rodadas para terminar a fase, vai até o fim e termina sem os mata-matas dando o caneco ao primeiro colocado (hoje o América).
O que digo acima são meros pitacos. Opções, tal e qual, vocês, amigos lancenautas, têm e podem ser bem diferentes das minhas. Esta decisão cabe aos clubes e federações, que precisariam rasgar (de comum acordo) o regulamento, fazer uma votação das propostas e aquela com maior aceitação seja ratificada por todos. Mas o importante é que a questão dos Estaduais não tranque a pauta (para usar o termo político) para a matéria principal: o Campeonato Brasileiro.
Relembremos: estamos falando de jogos voltando em setembro. Há na mesa várias ideias, até a competição ser em mata-mata. Esbarra na TV, que conta com 38 rodadas e paga fortuna para isso. Aqui eu não vejo alternativa melhor do que a CBF e os clubes fazerem a coisa que seria a mais acertada deste século: ADEQUAR O CALENDÁRIO BRASILEIRO AO EUROPEU. Começa em setembro, jogam-se todas as rodadas e termina em maio junto com as competições do Velho Mundo. Seria a jogada perfeita nestes tempos de pandemia. Vai ter algum prejuízo aos clubes? Se tiver, será o menor. E ainda nos recolocaria com as mesmas datas dos campeonatos mais relevantes, desmontaria um puco menos os elencos no meio da temporada.
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