Pitaco do Guffo: por que tantos técnicos são demitidos no Brasil?
Futebol brasileiro é sub produto na prateleira do futebol internacional

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Neste domingo, 27 de abril, o técnico Fábio Carille foi demitido do Vasco da Gama após apenas 21 jogos na casamata cruzmaltina, adquirindo 50,8% dos pontos disputados. Em seis rodadas, Carille foi o quinto treinador demitido na Série A. E não será o último. Por que tantos técnicos são demitidos no Brasil?
Já descarto de entrada a ideia de que o nível dos nossos treinadores é baixo. Não é. E cada vez essa régua vai subindo mais, com a renovação das gerações e a consciência de que o esporte mudou no seu estudo, no seu treinamento e na sua prática. Claro que há trabalhos ruins, mas as causas preponderantes são outras.
Uma preferência nacional
“O brasileiro não gosta de futebol, ele gosta de ganhar", você já deve ter ouvido essa frase alguma vez. E por mais que ela seja generalista, ela explica uma cultura vigente em nosso país: todo torcedor acredita piamente que seu clube tem obrigação de ganhar os títulos que disputa. E como sempre haverá apenas um campeão, na medida que seu time se afasta dessa possibilidade, aumenta a pressão de torcida e imprensa por algo que sempre se soube impossível, mas mesmo assim, se é cobrado.
Essa pressão absurda vai na contramão da paciência que o trabalho de um técnico de futebol demanda. Conhecer um grupo de seres humanos (não somente os atletas, todos os funcionários do clube também), entender quais são as referências de cada um e do elenco, onde é possível cobrar e onde se deve aliviar a mão. Vender suas ideias e que sejam compradas e executadas. Administrar egos, vaidades, empresários, familiares, dirigentes, imprensa. A atividade é complexa.
Para ganhar jogos, é necessário ter bom desempenho. Você até pode ganhar alguns pontos jogando mal, mas pra ganhar campeonatos, é necessário jogar bem e ser competitivo. Mas o processo para se chegar nesse lugar demanda um tempo que o brasileiro médio não está disposto. Ele - torcedor, dirigente, jornalista - quer resultado imediato. Afinal, o time dele é “time grande", e não pode passar a vergonha de não ser campeão.
Jogadores: reféns ou algozes?
Outro ponto da nossa cultura que não é debatido é o poder que os atletas têm nos clubes. O vestiário se divide em lideranças e os jogadores irão cumprir ou não as ideias do treinador somente se suas demandas forem atendidas. Presidencialismo de Coalizão? Parece né? Mas é o futebol brasileiro mesmo.

Com o poder de decisão com os jogadores, ao treinador cabe agradar apenas um grupo de pessoas: seus atletas. Nunca um treinador que é abraçado pelo elenco foi demitido no Brasil. Pode estar caindo pra Série D. O que leva à ideia de que jogar bem ou mal não é um fato relevante, mas sim se agrada ou não aos jogadores aquele treinador, suas ideias e o quanto ele se submete às vontades do grupo.
Por que tantos técnicos são demitidos no Brasil? O produto “futebol brasileiro” está cada vez pior, de qualidade baixa e de pouco valor de exposição e venda internacional. E não é pela falta de talento dos nossos jogadores e treinadores. Mas pela incapacidade dos dirigentes lidarem com todo esse contexto e cultura de moedor de carne. Impossível um campeonato ter qualidade técnica e tática quando 5 técnicos são demitidos em seis rodadas.
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