Prejuízo com arenas da Copa-2014 já era previsto antes do início das obras
Integrante do cartel que fraudou licitações para o Mundial, Andrade Gutierrez diz que análise já previa que público nos estádios não seria suficiente para cobrir gastos das obras
O prejuízo que tem afetado parte dos estádios utilizados na Copa do Mundo de 2014 já era previsto mesmo antes do início das obras das arenas para o Mundial de futebol. É o que aponta a construtora Andrade Gutierrez no acordo de leniência com o Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que apontou a existência de um cartel envolvendo cinco empreiteiras para fraudar licitações envolvendo as obras do evento no Brasil.
Segundo informou a construtora ao órgão, à época da realização dos processos licitatórios, "seu entendimento foi o de que a exploração dos estádios de futebol após a Copa do Mundo, conforme está previsto no regime de PPP, não geraria lucros à empresa". Ainda de acordo com a companhia, o prejuízo neste modelo de administração ocorreria devido ao "porte dos estádios construídos e/ou reformados para a Copa do Mundo" e que as arenas "não atingiriam lotação suficiente para cobrir os gastos de manutenção e administração dos estádios e gerar lucros em momento posterior à Copa do Mundo, isto é, durante a realização de campeonatos regionais e/ou nacionais".
O modelo de Parceria Público-Privada (PPP) foi realizado para as obras de cinco estádios usados no Mundial de futebol: Castelão (Fortaleza), Arena Pernambuco (Recife), Arena das Dunas (Natal), Arena Fonte Nova (Salvador), e Mineirão (Belo Horizonte).
A maioria desses estádios teve problemas de administração menos de dois anos após o fim da Copa-2014. É o caso da Arena Pernambuco, em Recife, que é administrada provisoriamente pela Empresa de Turismo de Pernambuco Governador Eduardo Campos (Empetur) após o governo do estado ter rescindido, em março deste ano, o contrato de concessão com a Arena Pernambuco Negócios e Participações, consórcio liderado pela Odebrecht.
Detentora da concessão da Arena das Dunas, a OAS tenta revender o estádio por estar em processo de recuperação judicial após ser envolvida na Operação Lava Jato.
Já o Mineirão tem disputa judicial envolvendo o consórcio responsável pelo estádio, a Minas Arena, e o governo do estado, por conta do repasse por parte da administração pública em relação à falta de arrecadação nas parcelas previstas no acordo de gestão. No início do ano, o Cruzeiro também chegou a romper com a administratora do estádio alegando problemas na utilização do estádio, o que foi contornado posteriormente.
No acordo de leniência da Andrada Gutierrez com o Cade, a empreiteira revelou o esquema de cartel para as licitações das arenas da Copa-2014 que também envolvem as construtoras Odebrecht, OAS, Carioca Engenharia e Queiroz Galvão.