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Reduzir medidas no futebol feminino? Jogadoras e especialistas discordam

LANCE! buscou goleiras, jogadoras, preparadores físicos e o médico da Seleção Brasileira para entender se a diminuição do campo ou do gol seria benéfica para a modalidade

Bárbara - Brasil Feminino
imagem cameraBárbara é goleira da Seleção Brasileira feminina (Foto: PHILIPPE HUGUEN / AFP)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 26/06/2019
11:27
Atualizado em 27/06/2019
10:28

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A Copa do Mundo das mulheres segue na fase eliminatória com grandes jogos disputados. Alguns dos principais destaques tem sido a atuação das goleiras na competição, por exemplo as sul-americanas Vanina Correa, da Argentina, e Christiane Endler, do Chile. Porém, quando se fala em futebol feminino, muitas vezes se levanta a questão sobre a redução das medidas do gramado e do gol. Para muitos, essa determinação traria mais qualidade ao jogo.

São dois metros e quarenta e quatro centímetros de altura por sete metros e trinta e dois de largura. Em 2016, uma pesquisa publicada na revista científica eLife, mostrou que a média de altura das mulheres brasileiras, por exemplo, é de 1,60m. Por isso, o LANCE! buscou especialistas para entender a real necessidade de mudanças para a modalidade.

Vale lembrar, inclusive, que atualmente no Brasil as jogadoras normalmente atuam em campos de qualidade inferior e começaram apenas recentemente a utilizar com mais frequência estádios maiores, como o Pacaembu. Para Kaká, goleira do Flamengo, que tem cerca de 20 anos de carreira no futebol, isso não traria algum tipo de benefício. Ela, inclusive, rebate que a qualidade das atletas vai sobressair, mesmo quando a altura não é tanta.

- Não acho que seja necessário mudar as medidas tanto do gol como do campo, pois conseguimos fazer um bom trabalho com as atuais. Tudo é questão de um bom posicionamento e tática para ocupar os devidos espaços. Quando você pratica fica mais fácil de entender. Quando essa pergunta é colocada, acredito eu que venha da comparação entre homens e mulheres, citando a parte de força física. Fico brava e não gosto desse discurso. O gol vai sair de uma forma ou outra. Nem o melhor goleiro do mundo vai defender todas as bolas.

COM A PALAVRA

Paty Nardy, goleira do Santos.


Essa questão é um assunto que vem sendo comentado muito, principalmente durante a Copa. Minha opinião é a mesma de todos que realmente conhecem o futebol feminino e o potencial das atletas. Falando mais sobre o tamanho do gol, acredito que não seria necessário mudar. Existem outras formas de compensar a altura. Sabemos que a média de altura é bem menor do que o masculino, mas podemos trabalhar posicionamento no gol, a explosão, a técnica. Podem ajudar. O que falta hoje no futebol feminino são pessoas capacitadas para trabalhar e começar isso desde a base. No masculino, aqui no Santos, nas categorias sub-11 já tem preparador de goleiros. Já trabalham desde cedo, no feminino demora. Fui ter um preparador pela primeira vez no Santos, aos 26, 27 anos. Isso que precisa mudar. O investimento, a visibilidade, o apoio e não diminuir a trave ou o campo. São pessoas que não conhecem a realidade da modalidade. Se comparado com antigamente, vemos hoje na Copa goleiras que são consideradas as melhores dos jogos. Está tendo uma melhora, mais profissionais para trabalhar. O futebol está começando a ter mais apoio. Quanto mais investimento, menos as pessoas vão falar sobre essa redução. É trabalhar a parte técnica, tática e posicionamento.

'Fui ter um preparador pela primeira vez no Santos, aos 26, 27 anos. Isso que precisa mudar. O investimento, a visibilidade, o apoio e não diminuir a trave ou o campo'

Paty, goleira do Corinthians

Já ouvi muitas pessoas dizendo que tem que diminuir a trave ou o tempo ser menor. Minha visão como goleira é que não tem que reduzir. Diferente do vôlei, que tem a diminuição da rede. Acredito que o futebol seja muito mais uma questão de posicionamento, treino, uma altura boa de bola. Essas são as questões básicas para fazer boas defesas ou ter um jogo tranquilo. Não vejo motivo para mudanças. Acho que são questões de treino. Já vi goleiros de alto nível terem péssimo tempo de bola e goleiras mais baixas pegarem bolas onde poucos pegam. Em qualquer esporte ou lugar, o tamanho não quer dizer nada.

Alline Calandrini, Ex-jogadora de Santos, Corinthians e Seleção Brasileira, que hoje atua como comentarista da "Band"

Eu discordo. Eu como atleta nunca tinha pensado nessa necessidade, logo, pra mim não existe. O ideal é jogar pra cima, potencializar a atleta, fazer com que ela seja boa naquilo. Capacitar as profissionais. E tem outro fator, óbvio que não é igual o masculino, é mais lento, claro, mas a mulher joga contra mulher, não contra homem. A goleira terá que pegar um chute de uma mulher. A reação ao questionamento depende de como as pessoas abordam, a forma que falam. Eu respeito a pergunta, argumento. Mas se vierem de um jeito desmerecendo a modalidade (que acontece na maioria das vezes), tento ter paciência para explicar. Sou aberta ao diálogo. Gosto de expor meu ponto de vista. Antes eu ficava revoltada com essas perguntas.

Cristiane Endler - Chile
Endler, goleira do Chile, foi um dos destaques da Copa (Foto: AFP)

Para os preparadores

Saulo de Almeida, preparador físico do Flamengo


- Não acredito que a redução do tamanho das dimensões do campo ajudaria no desenvolvimento da modalidade, poderia até mesmo atrapalhar. Sabemos que existe uma diferença de desempenho físico entre homens e mulheres, demonstrando assim uma diferença no estilo de jogo. Não podemos esperar das mulheres a mesma velocidade e força dos homens. Com isso, as características das jogadas serão de acordo com a capacidade física feminina. Vamos visualizar uma manobra tática diferente, jogadas mais bem elaboradas em alguns setores do campo e entre outras coisas, mas jamais perder a qualidade técnica e intensidade das partidas. Os treinos são bem exigentes na adaptação ao ambiente proposto. O que facilitaria para melhor aceitação e jogos mais atrativos de se acompanhar seria um maior e melhor investimento nas categorias de base e retorno financeiro justo para as equipes adultas.

Filipe Souza, preparador de goleiras do Santos

- Acho que é um assunto que não deveria nem ser levantado. Futebol é futebol em qualquer lugar do mundo e deve ser praticado igualmente, não importa se é homem ou mulher. É a mesma coisa para os dois. Na minha opinião, não deve nem ser citado. No futebol feminino, fazemos as mesmas valências físicas de potência e de força para as meninas que se trabalhariam para os homens. Elas conseguem realizar os trabalhos e da mesma maneira do masculino.

'Esse não é o caminho, é melhor investir no treinamento. Se quisermos evoluir a modalidade, precisamos olhar para as atletas, comissões e forma de trabalhar'

Marcelo Rossetti, preparador físico do Corinthians

- Para desenvolvermos a modalidade, deveríamos olhar mais para as categorias de base e as atletas. As formas de treinamento, tentar evoluir nesse sentido ao invés de pensar em alternativas como adaptação de campo, gol, bola, tempo de jogo. São medidas que não são cabíveis para o momento. Por consequência da Copa do Mundo, teve um olhar grande para a modalidade. Poderíamos aproveitar e investir nas atletas para aumentar o nível do jogo. O próprio Mundial mostrou jogos em alto nível, atletas com bom treinamento. Bons confrontos, bons duelos e com as mesmas regras. Esse não é o caminho, é melhor investir no treinamento. Se quisermos evoluir a modalidade, precisamos olhar para as atletas, comissões e forma de trabalhar.

Brasil x França - Bárbara
Bárbara, durante a Copa do Mundo (Foto: LOIC VENANCE / AFP)

Aspecto médico

Com relação às lesões, Nemi Sabeh Jr., cirurgião-ortopedista e médico da Seleção Brasileira feminina, explica que a redução das medidas não influenciaria para melhorar ou piorar a situação das aletas.

- A teoria de todos é que o futebol feminino tem que ser desenvolvido com igualdade ao masculino. Mas o número de lesões que acontece no futebol feminino não tem a ver com o tamanho do campo ou da trave do gol. E sim com alterações intrínsecas da mulher, ou seja, alterações anatômicas do quadril. Biologicamente o quadril da mulher é diferente do homem, é mais largo. E a rotação do fêmur internamente pode levar a quatro vezes mais a ruptura do ligamento cruzado, a grande causa de dor patelofemoral (rótula) e a condromalácia em mulheres (lesões na cartilagem sem cura, apenas tratamento para minimizar o problema e a dor). Além disso a outra grande lesão é a hiperflexibidade capsulo-ligmentar, que é a hiper frouxidão ligmentar das mulheres. Nada tem a ver com o tamanho do campo ou tamanho do gol, isso não vai ter alteração em relação as lesões - afirmou.

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