Dois algarismos. Naquela Copa do Mundo, um pequeno traço diagonal se encontrava com um vertical. Ao lado, um traço curvo que se alongava e encontrava seu início. Poderia ser qualquer número - poderia mesmo -, mas foi o 10. Foi esse o número com o qual Pelé atuou em 1958. Com ele às costas, contribuiu de forma decisiva para a formação cultural do Brasil. Com ele às costas, fez o que fez. Tornou-se o maior de todos. E foi a partir dos feitos do Rei que o número citado passou a simbolizar os craques.
A Fifa adotou a numeração em Mundiais a partir de 1950. O próprio Rei chegou a dizer que não havia relevância até ele ter as atuações que teve na Suécia. Praticamente aleatório, de um jogador adolescente. Mas que fez o que fez.
Rivelino herdou a 10 brasileira nas Copas de 1974 e 1978. E se emociona ao falar de Pelé. Zico tinha o rubro-negro Dida como referência, mas foi o Rei quem imortalizou o número. Mundo afora, Platini, Zidane, Bergkamp, Maradona, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Baggio, Mbappé, Modric, Neymar, Messi. Todos camisas 10. Todos posteriores. Poderia ser a 5, a 47, a 842. Mas foi com o 10 que esses jogadores se eternizaram. Não fosse o Rei, possivelmente cada um teria escolhido outro.
Não é nem debate mais. A história de um foi inspirando outro, e é natural as pessoas se inspirarem primeiramente nos mais próximos, depois nos mais distantes. As lendas eternizam os números que vestem. Assim como Michael Jordan fez do 23 a 10 do basquete. No futsal é o 12, e o responsável é Falcão.
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De volta à bola laranja, Bill Russell vestia a 6, e a referência é tão latente que a NBA aposentou o número de todas as franquias. Concorde ou não, é o sinal do tamanho. Seja qual for a decisão do Santos para manter o sagrado preservado, a história da 10 alvinegra e amarela já está eternizada. Imortalizada.
Esta é mais uma ode. O número e a camisa são o que são porque Pelé é o que é. E seguirá sendo.
*Felippe Rocha é repórter do LANCE! desde 2013.