Relatório aponta que casos de racismo no futebol aumentaram em 2023
Dados foram divulgados pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol
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O número de casos de racismo reportados no futebol brasileiro, ou envolvendo jogadores do país que atuam no exterior, aumentaram 38,77% no ano passado e 444% em relação há dez anos. É o que mostra o mais novo relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que foi apresentado nesta quinta-feira (26) na sede da CBF.
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Ao todo, 136 casos de racismo no futebol brasileiro foram reportados e outros 26 no exterior. Além desses, houve pelo menos 14 casos de xenofobia, 37 de LGBTfobia e 8 de machismo.
O relatório também compilou dados de outros esportes, que registraram 22 casos de racismo, três de machismo e três de LGBTfobia.
Considerando apenas o futebol, 74% dos casos aconteceram em estádios de futebol, 31 na internet — sobretudo redes socias — e 26 em “outros espaços”, que incluem, por exemplo, transmissões esportivas.
— O aumento dos casos reportados em relação à temporada anterior reforça a gravidade do problema e os desafios persistentes, que urgem, mais do que nunca, ações inovadoras, efetivas e continuadas, de forma a romper com a passividade e a cumplicidade histórica com o racismo — considerou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Observatório ressalta importância de se ouvir a vítima
O relatório se baseia em levantamentos feitos a partir de denúncias que foram veiculadas na mídia. Desde a primeira edição, referente à temporada de 2014, o número de casos aumentou ano a ano. A exceção foi em 2020, primeiro e mais rigoroso ano da pandemia e cuja maior parte da temporada foi realizada sem público nos estádios.
Fundador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho ressalta que o aumento de casos noticiados traz ao menos um fato positivo: o preconceito e o racismo estão sendo cada vez menos tolerados nos estádios, o que resulta num maior número de denúncias:
— Esse dado não é só ruim. Também apresenta uma evolução importante, que é uma maior conscientização dos torcedores e dos jogadores. Se a gente tem mais denúncias, é porque a sociedade brasileira está mais atenta a entender o que é racismo e as suas diversas formas de expressão — considerou Carvalho.
O diretor executivo do Observatório falou também sobre a importância de se ouvir a vítima.
— A gente trabalha com a denúncia; a gente não faz um pré-julgamento da denúncia que ocorreu. E, num segundo momento, o que a gente sempre pensa é em dar voz à vítima — diz Marcelo Carvalho — A gente precisa ouvir todas as partes, e o Observatório nasce para que a gente fale da denúncia, e principalmente, monitore o desdobramento desses casos.
Ele comentou o caso envolvendo o jogador Carlinhos. O jogador supostamente foi vítima de preconceito racial, mas perícias contratadas pelo Grêmio rechaçaram a denúncia.
— Se a gente olhar para o caso que ocorreu nesse final de semana e abrir o relatório, a gente vai ver tantos casos iguais, onde um clube acusa o outro de racismo, o outro faz uma perícia e diz que não houve racismo, e, geralmente, esse caso vai para a justiça e ele acaba sem punição. Aí eu acho que tem algo que a gente precisa refletir enquanto sociedade — ponderou.
— Aqui não entra o mérito da questão. Não estou julgando, mas, principalmente, seria importante a gente ouvir o atleta e ele ter voz para esses casos. Mas não dá para a gente achar que vai punir apenas porque o atleta disse.
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