Presidente da Anaf, ao L!: ‘Retomada passará por aval a protocolo de segurança nos jogos’
Salmo Valentim fala sobre desafios de árbitros neste período de pandemia, revela que houve casos de COVID-19 no apito e detalha quem foi mais afetado com falta de partidas
A forma como a pandemia do novo coronavírus afetou o futebol brasileiro trouxe um panorama complexo para os responsáveis por conduzir os jogos em território nacional. Presidente da Associação Nacional do Árbitros de Futebol (Anaf), Salmo Valentim diz que a falta de jogos evidencia a rotina sacrificante do quadro de arbitragem.
- Têm alguns dos integrantes que dependem exclusivamente da arbitragem. Quem apita jogos quarta e domingo não consegue conciliar sua rotina com outro trabalho. Nenhuma empresa vai empregar uma pessoa que tenha de faltar em mais de um dia da semana - ressaltou, ao LANCE!.
O ex-árbitro alertou para a necessidade da ratificação de um protocolo seguro de jogos nos quais os 479 integrantes do quadro de arbitragem nacional estejam com a saúde garantida. Além disto, falou sobre o aporte dado pela entidade máxima do futebol do país e os desafios que os árbitros vêm encarando neste período sem partidas.
LANCE!: Qual a importância deste auxílio financeiro da CBF aos árbitros?
Salmo Valentim: Primeiramente, conversei com o Leonardo Gaciba (presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF) e ele ficou bastante sensibilizado com a situação dos árbitros. Depois, enviei um ofício ao presidente (da entidade máxima do futebol brasileiro) Rogério Caboclo e logo eles se prontificaram a dar suporte, tanto com o valor das cotas quanto com outras coisas.
L!: Como tem sido a batalha dos árbitros para se manterem em forma neste período de paralisação?
Eles receberam material didático e também vídeos da Comissão Nacional de Arbitragem que contribuem para os árbitros se aprimorarem. Além disto, as estruturas de arbitragem locais passam atividades, para que todos estejam em forma.
L!: Vocês acompanham, mesmo que remotamente, a saúde deles?
Sim. Cinco árbitros tiveram teste positivo para COVID-19. Felizmente, nenhum deles chegou a ir para o CTI. Dois deles estão esperando a contraprova. Todos os envolvidos na organização dos campeonatos têm de dialogar e dar prioridade à proteção às vidas.
L!: Como tem acompanhado estes debates sobre o retorno do futebol no Brasil?
Olha, tudo terá de passar pelo aval a um protocolo seguro de jogos. Queremos que toda a equipe de arbitragem faça testes de COVID-19 antes de entrar em campo e que jogadores e comissão técnica também tenham o máximo de proteção. A CBF e as federações têm de chegar a um acordo com calma, tem de ser algo bem planejado.
L!: Qual a importância do aporte financeiro da CBF, especialmente pela arbitragem não ser ainda profissionalizada no país?
Na verdade, a gente lida com contrastes na arbitragem do Brasil há muito tempo. Os árbitros de Série A conseguem uma média de R$ 25 mil mensais, mas não conseguem ter outro trabalho em paralelo. Afinal, com jogos quarta e domingo e, às vezes, em outro estado, tem as viagens. Este patamar mais elevado tem sofrido bastante, porque vive de arbitragem! Em compensação, há estados com menor projeção ou árbitros de divisões inferiores e até de futebol amador que conciliam o apito com outra profissão. Muitos dos integrantes da nossa entidade são autônomos. Diante disto, a Anaf enviou ofícios tanto ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), quanto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que a categoria de árbitros de futebol fosse incluída entre as que podem sacar o auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal.
L!: O que achou da mudança para cinco substituições autorizada pela Fifa?
Para o momento, acho uma medida válida. Inclusive, seria interessante que ela prosseguisse, para tornar o futebol ainda mais dinâmico. Agora, a previsão de data para voltar o futebol aqui no Brasil tem de seguir a ordem das autoridades e o que a ciência diz.