A disputa do Campeonato Acreano ganhou ares de epopeia para o Náuas. Depois de se deparar com a falta de condições para mandar seus jogos em Cruzeiro do Sul, a diretoria viu a opção por alojar a delegação no Estádio Florestão, em Rio Branco, render dias de incerteza.
– Nosso estádio, a Arena do Juruá, sofreu com muito roubo de fiação. Depois de consultar os técnicos, falei com o presidente da Federação, Antônio Aquino, ele ofereceu o Florestão para nós e aceitamos disputar os jogos em Rio Branco. Já estávamos alojados, com jogadores, comissão técnica... Tinha laudo do Corpo de Bombeiros para jogos. Mas, dois dias antes do início do Estadual, a Vigilância Sanitária fez a vistoria e disse que não tínhamos como nos alojar lá, pois não tinha autorização. Tivemos de sair imediatamente por causa de burocracia – detalhou o mandatário do clube, Zacarias Lopes, ao LANCE!.
O dirigente contou com uma ajuda providencial neste momento.
– Íamos ficar no meio da rua, mas um pastor de uma igreja próxima ao estádio permitiu que o Náuas ficasse lá, enquanto as aulas de formação de missionários não tivessem início. Foi muito generoso – afirmou.
'Íamos ficar no meio da rua, mas um pastor de uma igreja próxima ao Florestão permitiu que o Náuas ficasse lá enquanto as aulas dos missionários não começassem', lembra-se mandatário do clube
Diretor do Seminário Batista Regular Acreano, o pastor Elias Linhares contou como foi o acolhimento.
– O presidente do Náuas bateu no portão da igreja em 31 de janeiro, detalhou a situação e pediu para ficar aqui. Mostramos as dependências, que são salas de aula, uma vez que se trata de um local de ensino. A diretoria entendeu que não havia problemas, que os jogadores poderiam dormir em colchões pelo chão e, assim, os abrigamos. Foi um ato cristão, de amar ao próximo como a ti mesmo, e uma convivência muito boa – disse.
A hospedagem improvisada chegou ao fim na última quinta-feira, devido à volta às aulas dos futuros missionários. Após muita angústia, somente na tarde da sexta-feira passada a diretoria do Cacique de Juruá pôde voltar ao Florestão, com aval da Secretaria Municipal de Saúde.
– Depois da reunião na Federação, o secretário Otoniel (Almeida) rapidamente correu com o registro na Secretaria. Enfim, poderemos voltar à normalidade – afirmou.
PERRENGUE MOBILIZA APOIO DOS DEMAIS CLUBES POR ESPERADO AVAL
O imbróglio em torno do destino do Náuas rendeu outros momentos comoventes. Após o mandatário Zacarias Lopes cogitar a chance do clube desistir de disputar o Campeonato Acreano, outra equipe manifestou solidariedade.
– O presidente do Rio Branco ofereceu a estrutura deles para a gente. Só que seria complicado atrapalhar a rotina deles – afirmou Zacarias.
O presidente do Estrelão, Neto Alencar, contou o que pesou para estender a mão ao Náuas.
– Além de ser um clube do interior, na fronteira com o Amazonas, sabemos o quanto é difícil fazer futebol aqui no Acre. Convivemos com muita luta para montar time ano a ano. Não seria justo o Náuas deixar a competição por falta de alojamento – disse.
O presidente da Federação de Futebol do Estado do Acre (FFAC), Antônio Aquino, também não escondeu sua preocupação diante da situação pela qual o clube de Cruzeiro do Sul passou.
– A Federação é a única que tem estádio próprio e oferece aos clubes que quiserem mandar jogos lá. Por questão burocrática, corríamos risco de não contar com o Náuas – disse.
No dia no qual chegaria ao fim o período de hospedagem improvisada do Cacique do Juruá no Seminário Batista Acreano, houve um capitulo decisivo na FFAC.
– Dos nove clubes que disputam o Estadual, sete compareceram à reunião e decidiram, por unanimidade, que o Florestão poderia abrigar um alojamento – disse Aquino.
Na Federação, houve unanimidade para que o Florestão passasse a contar com permissão para alojamento. O secretário municipal de saúde deu permissão na tarde de sexta-feira
Secretário municipal de saúde de Rio Branco, Otoniel Almeida detalhou o que causou o impasse.
– O Florestão já tinha autorização para outras atividades econômicas, mas não havia para alojamento. Era necessário dar entrada na Prefeitura para este aval. Por isto, pedimos que solicitassem um alvará. Ontem (quinta-feira), os clubes aprovaram por unanimidade e deram entrada no documento – e, em seguida, afirmou:
– Por ser uma atividade de baixo risco, na qual é avaliada insalubridade, há resolução rápida na Vigilância Sanitária. Sempre fizemos um esforço para ajudar – completou Almeida.
O Náuas, enfim, pode agora voltar suas atenções com tranquilidade apenas para as quatro linhas.
LUTA AGORA É POR VAGA NA SEMIFINAL DO PRIMEIRO TURNO
Passados os dias de apreensão, o Náuas volta suas atenções para um momento decisivo: caso vença o Humaitá, neste domingo, no Estádio Florestão, a equipe garante a segunda vaga do Grupo B na semifinal do primeiro turno. Técnico do Cacique do Juruá, Mauro de Lazzari conta como tem mobilizado o elenco para o duelo.
– Nesse momento, é tentar fazer com que a equipe tire forças e haja superação dos jogadores. Todos aqui sabem qual é o significado para disputar uma Copa Verde, uma Série D, uma Copa do Brasil... Vamos lutar bastante – garantiu.
O comandante detalhou os percalços com os quais a delegação lidou:
– Como todo dia passávamos por uma mudança, era difícil manter o foco na competição exclusivamente. De um jogo para outro, teríamos de arrumar a mala. A rotina de treinos ficava complicada, eles sempre estavam com preocupação. Além disto, este grupo tem muitos jogadores do Paraná e alguns são menores de idade. Agora, com o Florestão, as coisas tendem a se assentar – declarou.
O Náuas está na segunda colocação do Grupo B do Campeonato Acreano, com três pontos em dois jogos. A equipe perdeu por 2 a 1 para o Galvez em sua estreia, mas se redimiu com um 5 a 0 sobre o Vasco.
O Cacique pode ficar bem próximo da classificação mesmo se empatar no domingo. O Humaitá, que ainda não pontuou, precisaria tirar uma diferença de oito gols ao vencer o Bacalhau D‘água Doce na última rodada.
COM A PALAVRA
'Seria doloroso sair por causa de burocracia'
ZACARIAS LOPES
Presidente do Náuas
Nós fizemos a pré-temporada com jogadores daqui Acre e de outros cantos do país. Nos preparamos, formamos um elenco enxuto, com folha salarial limitada, até para garantir todos os direitos aos jogadores.
Seria muito doloroso o Náuas perder a competição por causa de uma burocracia. Agradeço aos clubes que compareceram e votaram por unanimidade para que a gente continuasse, e também à Federação por dar espaço para alojarmos os 20 jogadores do elenco e a comissão técnica no Estádio Florestão, além do Otoniel de Almeida... Vamos arrumar as coisas e tudo dará certo para nós.