Opinião: ‘Tragédias, muitas lições e ninguém aprende!’
O incêndio no Ninho do Urubu, assim como tantas outras calamidades, não podem cair no esquecimento. CT's pelo Brasil devem ser vistoriados urgentemente
No Brasil é sempre assim, né, pessoal? É preciso acontecer algo trágico para que as autoridades tomem providências. Antes de falar do incêndio do Ninho do Urubu, vamos relembrar rapidamente o caso de Mariana, em Minas Gerais, em 2015. Poucos anos depois, tivemos Brumadinho, também no mesmo estado. Isso, para falar de centenas mortes, soterrados, desalojados e duas cidades devastadas pela lama. No ano passado, aquele incêndio no Museu Nacional, que fica dentro da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro, e que comoveu também o Brasil, pois perdeu grande parte da sua história.
E o que é pior, minha gente, nenhum culpado. Lógico, como costuma ser, o brasileiro (não de forma globalizada) assumiu. E nem os órgãos envolvidos nas investigações apontaram os erros e os “suspeitos”, o que dirá mostrar de quem foi a culpa. No caso de Mariana, foram aplicadas multas à Vale. Mas só isso... É preciso condenação criminal. Estamos falando de centenas de mortos.
Vamos ao Ninho do Urubu, no caso os alojamentos da base (que teve 31 multas por não ter alvará da Prefeitura e nem o Certificado de Aprovação do Corpo de Bombeiros), e outros centros de treinamentos. O incêndio, que vitimou dez jovens sonhadores e deixou três feridos, criou outra comoção no país inteiro. Isso só não basta. Agora, as autoridades entram em cena e vão apurar os fatos. Não fiquei apenas na investigação.
É necessário achar, sim, culpado ou culpados. Mães, pais, tios, primos, padrinhos e amigos choram a perda das suas crianças. Abrindo um parêntese (...). Eu já tenho filhos adultos, que foram crianças, adolescentes e jovens, mas que para mim serão sempre “as minhas crianças”.
Indenizar as famílias somente não basta. Isso é óbvio. Como falei acima nos outros casos, esse do Ninho do Urubu também deve-se se achar culpado (s) para que responda na esfera judicial criminal. Uma varredura minuciosa não só nos centros de treinamentos de clubes do interior, mas também nos grandes. Não podemos aceitar que as prevenções sejam apenas feitas quando acontece esta tipo de tragédia.
Botafogo, Niterói (RJ) e Polícia Civil
Vamos dar um exemplo agora quanto ao Estádio do Caio Martins – que fica em Niterói, cidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro –, cedido ao Botafogo pelo governo do Estado. Foi preciso que a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) fosse ao local – muito possivelmente após denúncia anônima – para que os jovens que lá estavam em alojamentos inseguros fossem levados para a sede do clube, em General Severiano.
E olha que o Caio Martins não servia apenas de alojamento. Lá, são realizados diversos treinos e jogos das categorias de base. Ninguém no clube viu as irregularidades? Ao lado, ginásio e piscinas, além de outras dependências, que são administradas pela Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj). Poucos quilômetros dali, a sede da Prefeitura de Niterói, que tem 46 secretarias e autarquias.
Por que, por exemplo, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SASDH) não tomou as devidas providências? Será que era mais fácil, para as autoridades do município, Polícia Civil entrar em cena. Este é apenas um outro caso entre outros tantos nesse nosso Brasil afora.
A Prefeitura de Duque de Caxias deve fazer o mesmo no Centro de Treinamento de Xerém, do Fluminense, assim como a do Rio em São Januário, onde ficam os alojamentos das categorias de base do Vasco.
Sem dinheiro, então, fecha!
Se em um clube (o Flamengo), hoje, teoricamente rico, acontece o que aconteceu no alojamento da base, o que dirá em instituições que atrasam salários, não pagam contas de água e luz – que muitas vezes são cortadas – e têm a companhia, de vez quando, de ratos e gambás, em suas sedes? E não falo em salários dos jogadores. Me refiro aos funcionário que, muitas vezes, ganham apenas um salário mínimo.
Mãos à obra, “autoridades!”
Pois bem, cadê os órgãos públicos fiscalizadores nestas horas? Mãos à obras, senhores “autoridades”. Que a tragédia do Ninho do Urubu sirva de lição e jamais caia no esquecimento. Foram embora dez jovens jogadores que tinham ídolos, estavam longe das famílias e, que, um dia, quem sabe, se tornariam referência para outros meninos. Que ninguém tire o corpo fora, porque, reafirmo, existe (ou existem) culpado (culpados).
Ah, que a própria imprensa, da qual faço parte, e a sociedade não deixe essas tragédias caírem no esquecimento. E uma sugestão: quem observar irregularidades, denuncie, mesmo que de forma anônima. Precisamos vigiar nossos filhos, sobrinhos, primos, afilhados... Precisamos tomar conta das nossas famílias. Se os governos municipais, estaduais e federal não fazem isso, que nós, então, façamos isso. Sempre!
Encerro a coluna com dez minutos de silêncio (quem concorda, faça o mesmo, por favor, e compartilhe em suas redes sociais). Até semana que vem!