Entenda o que está por trás da ideia dos uruguaios no Gauchão
O Lance! apurou o que levou o presidente do Peñarol a fazer a proposta

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A história veio à tona no sorteio das copas Libertadores e Sul-Americana, segunda-feira (20), na sede da Conmebol, em Luque, Paraguai. Ganhou força e repercussão a partir daí. Foi taxada de loucura, por uns, e fake news, por outros, e grande sacada, por alguns. Ganhou atenção até do governo gaúcho. O certo é que ninguém entendeu o motivo que levou o presidente do Peñarol, Ignacio Ruglio, a propor ao seu colega do Internacional, Alessandro Barcellos, que seu clube e o Nacional passassem a disputar o Campeonato Gaúcho a partir do ano que vem. Por isso, o Lance! foi ouvir colegas de Montevidéu. Entenda o que está por trás da ideia dos uruguaios no Gauchão.
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Quem é Ignacio Ruglio
Antes de mais nada, vale dizer quem é o presidente carbonero. Segundo se apurou, seria um Eurico Miranda que habla español. Ou seja, um cartola típico, folclórico. Que gosta de estar na mídia e nas redes sociais, como contam os colegas uruguaios. Para isso, gera polêmicas, pressiona a arbitragem quando vê sua equipe prejudicada. E tem um “sistema raro” de denunciar situações: o faz em grupos de WhatsApp.
Filho de uma família ligada à pecuária e ao mercado de remates, atuava nessa área antes de ascender ao comando auri-negro. Ao mesmo tempo, era um habitué das arquibancadas do Centenário, do Campeón del Siglo e de outras canchas charruas.
Apesar disso, ou exatamente por isso, Ruglio é visto como um bom presidente para o Peñarol. Cuida do clube, respeita e se apoia na história carbonera e tem sido bastante cuidadoso com as finanças. Em seu mandato, pela primeira vez, a instituição se aproximou das manifestações pelos direitos humanos e familiares dos desaparecidos da ditadura – algo raro entre os dois grandes.
Queda de braço com a AUF
Ruglio também lidera uma feroz oposição ao atual presidente da AUF, seu xará Ignacio Nacho Alonso. Tanto que ressuscitou a ideia de uma liga de clubes, apoiada por boa parte dos cuadros chicos, como são conhecidos por lá 98% das equipes. Estão ao lado da federação o rival Nacional e as SADs, que são as SAFs da América que fala espanhol.
Parte desse cenário se deve a um detalhe impensável em pleno século 21: o Campeonato Uruguaio não paga cotas financeiras para nenhum clube. Nem Peñarol nem Nacional. Daí, se supõe, a ideia de disputar o Campeonato Gaúcho seria uma forma de pressionar a AUF ou receber alguma verba televisiva ao participar de competição no Brasil “mais rico”.
Além disso, seria uma forma de “atravessar” algo em gestação da AUF. Nacho Alonso conversou rapidamente com o Lance! e disse “ter a ideia de montar um torneio conjunto com a Federação Gaúcha”.
Sobre isso é preciso registrar que, desde 2023, Montevidéu é sede da Série Río de la Plata, uma competição amistosa de verão, disputada ao longo do mês de janeiro. Nas três edições até aqui, além de equipes uruguaias, participam times argentinos, chilenos e paraguaios. Em 2025, o equatoriano Independiente Del Valle foi convidado.
FGF vê impeditivos legais
Procurada, a FGF divulgou uma nota, indicando impeditivos legais para a participação de clubes não brasileiros no Gauchão. Para que isso ocorresse, deveriam se desfiliar da AUF, filiar-se à FGF e entrar na base da competição, a Terceirona. “No entanto, o futebol gaúcho estará sempre de portas abertas para receber os clubes uruguaios para disputa de torneios de integração e/ou preparação”, frisou o texto.
Do lado colorado, Barcellos comentou ao Lance! ter achado “positivo o interesse deles [dos uruguaios]”:
– A gente precisa entender melhor a ideia. Há questões que precisam ser superadas para que isso aconteça, inclusive com Federação Gaúcha, CBF e Conmebol. Seria um desafio imenso.
Barcellos também revelou que um interlocutor do governo do Rio do Grande do Sul o contatou mostrando interesse pelo tema. Questionada sobre o tema, a assessoria do Piratini confirmou ao Lance! com exclusividade que o governador Eduardo Leite (PSDB) manteve contato com os presidentes do Internacional, do Grêmio, Alberto Guerra, e da FGF, Luciano Hocsman.
Na conversa, ele destacou que essa é uma questão de competência das entidades e dos clubes, mas manifestou que, do ponto de vista do Estado, a iniciativa poderia reforçar a posição do Rio Grande do Sul como um polo central no Mercosul, para além do Sul do Brasil, ampliando sua projeção no cenário esportivo regional.
Leite ressaltou que eventuais ajustes podem ser debatidos, inclusive estudando eventuais novos formatos que envolvam convite às agremiações para participar de torneios no Rio Grande do Sul. O governo do Estado se colocou à disposição para apoiar e se engajar na construção dessa possibilidade, respeitando a autonomia das entidades responsáveis pela organização do futebol gaúcho.
O Lance! tentou contato com Ruglio, tanto em seu celular, quanto via assessoria de imprensa do Peñarol. Até a publicação desta reportagem, não havia recebido nenhum retorno.

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